Muitos peruanos privilegiados vêem o segundo turno das eleições presidenciais como uma escolha entre o menor de dois males - o ex-presidente esquerdista Alan García, e o militar reformado Ollanta Humala, fervorosamente nacionalista.
A classe média apoiou a parlamentar conservadora Lourdes Flores no primeiro turno, mas ela ficou em terceiro lugar. Agora, muitos pretendem votar em García, por considerá-lo uma ameaça menor à democracia do que Humala, responsável por um golpe de Estado frustrado em 2000.
O segundo turno está marcado para 4 de junho. Humala venceu a primeira rodada, após uma campanha baseada na promessa de rever os contratos com mineradoras estrangeiras que operam no país.
- Dos dois candidatos, um é ditatorial (Humala) e o outro é democrático, e eu prefiro a democracia - disse o empresário aposentado Eduardo del Rosario, agora eleitor de García, enquanto passeava pelo comércio do elegante bairro de San Isidro, na capital Lima.
Ao encerrar seu mandato, que foi de 1985 a 1990, García deixou uma economia devastada, que arruinou muitos negócios da classe média. Ainda assim, é o preferido dos investidores no segundo turno, embora tenha prometido aumentar os impostos sobre a mineração - o motor da economia - e renegociar contratos com empresas como a espanhola Telefónica, para baixar os preços das tarifas.
- Vou votar em Alan García, com peso no coração, mas vou votar nele - disse a dona-de-casa Rosario Bejarano, que fazia compras em um luxuoso shopping da capital.
Graças a um boom da mineração, o Peru vive cinco anos de crescimento econômico sem precedentes. A influente classe média teme que García e Humala provoquem um retrocesso nesse cenário. Bejarano, seu marido e seus dois filhos adultos estão entre os 2,92 milhões de pessoas que votaram em Flores no mês passado. Analistas dizem que os votos de Lima, onde estão quase 40% do eleitorado, serão decisivos.
- Tudo indica que em Lima os ex-eleitores de Lourdes Flores vão beneficiar diretamente Alan García - disse Manuel Saavedra, do instituto CPI, de Lima.
No domingo, a primeira pesquisa do instituto Apoyo desde o início oficial da campanha do segundo turno mostrou García com 57 por cento dos votos, 14 pontos à frente de Humala.
Mas votar em García não será fácil para muitos eleitores que ainda guardam lembranças dolorosas da falta de comida e da inflação de 7.000% ao final do seu mandato.
- Não perdoamos Alan, mas entre os dois candidatos, ele é dos males o menor - disse Inés de Rios, 65, que se recorda com amargura das filas para comprar arroz e açúcar no final da década de 1980.
Eleitores como ela se sentem irritados com Humala, especialmente num momento em que a América Latina se volta contra políticas de livre mercado e investimentos externos.
Na semana passada, a Bolívia nacionalizou seus recursos energéticos, e muitos acham que Humala poderá fazer o mesmo. O candidato se reuniria na segunda-feira com o presidente boliviano, Evo Morales, perto da fronteira entre os dois países.



