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Cobertura Haiti

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O Reverendo Reginald Jean-Mary nem teve tempo, na quinta-feira, para pensar na mãe, nas duas irmãs e no irmão ainda desaparecidos em algum lugar em meio às ruínas da capital do Haiti. Estava ocupado tentando providenciar um contêiner de navio, consolando dezenas de paroquianos que perderam seus entes queridos no país arrasado pelo terremoto e organizando uma equipe de en­­fermeiras e médicos a ser enviada para lá.

Mas Jean-Mary admitia que, entre intermináveis ligações telefônicas e conversas com membros de sua igreja, medo e um sentimento de impotência o corroíam. "É um dos momentos mais terríveis na história de nossas vidas", disse ele, em entrevista na Notre Dame D'Haiti, a paróquia católica localizada no coração da comunidade haitiana em Miami.

Por toda a cidade, imigrantes haitianos que fizeram a vida nos Estados Unidos lutam com o mesmo sentimento de impotência, virando-se para encontrar uma maneira de enviar dinheiro, suprimentos médicos e comida para a ilha, ou para embarcar, eles próprios, a fim de ajudar seus compatriotas.

À medida que o tamanho da destruição ficava claro e se tornava evidente que o número de mortos chegaria à casa dos dezenas de milhares, alguns líderes haitianos locais se perguntavam como o governo do país podia ser tão in­­competente a ponto de nem conseguir enterrar os mortos, muito menos prestar assistência aos vi­­vos.

"Essa situação não surgiu da noite para o dia", disse Jean Ger­­vais, um proeminente membro da comunidade haitiana nos Estados Unidos, responsável por uma fundação na área educacional. "É resultado, eu diria, de cem anos de negligência. Era uma bomba-relógio que agora explodiu."

Jean-Mary, de 42 anos, um ho­­mem pequeno de olhos tranquilos, contou que a ausência de grandes estradas e portos faz do­­brar a dificuldade para enviar ajuda. Durante todo o dia, ele trabalhou ao telefone, ligando para todos os paroquianos e contatos que tinha.

Ligou para empresas de transporte marítimo para tentar a doação de um barco para repatriar médicos e enfermeiras. Obteve a promessa de uma companhia lo­­cal, que levaria um contêiner cheio de mantimentos para a ilha, uma vez coletados. Contatou um advogado haitiano que havia conseguido um voo comercial para transportar pessoal médico de Nova Iorque, em busca de um esquema parecido a partir de Miami.

Dezenas de enfermeiras e médicos o procuraram, disse Jean-Mary, dispostos a embarcar. Mas ele não tinha como mandá-los.

Enquanto isso, seu telefone não parava de tocar, geralmente trazendo más notícias. "Uma se­­nhora que acabou de ligar, membro da nossa igreja, perdeu o pai, a mãe, uma irmã e duas sobrinhas", contou o padre.

A Notre Dame D'Haiti funciona como um centro para a comunidade haitiana em Miami. É ali que missas cheias de comoção pelas vítimas têm sido celebradas. E muitas pessoas da vizinhança procuram o Padre Jean-Mary buscando instruções sobre como ajudar.

Betty Guirond, uma enfermeira-assistente de 46 anos, se movia como que em transe, ajudando a descarregar caixas com garrafas d'água, arroz, sopa enlatada e sacos de leite em pó. Guirond contou que tem um filho e três filhas em Porto Príncipe, a capital do Haiti. "Não consigo trabalhar porque estou com a cabeça cheia de preocupações", disse Guirond. "Preferi vir até aqui ajudar."

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