
O embaixador do Brasil em Guiné-Bissau, Jorge Geraldo Kadri, acordou nesta segunda-feira (2) de madrugada com o barulho de explosões de morteiros, tiros de bazuca, metralhadora e pistola. Eram 4h30 no horário local (7h30 em Brasília). Naquele momento, a 150 metros da residência do embaixador, o presidente do pequeno país africano, João Bernardo Nino Vieira, era assassinado por militares. "Acordamos sobressaltados. O dia transcorreu sob muita expectativa e tensão. Os assassinatos brutais chocaram a nação e os parceiros de Guiné-Bissau", disse o diplomata brasileiro ao Globo Online, por telefone.
Ele se referia também à morte do chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, general Tagmé Na Waié, morto num atentado à bomba neste domingo.
O embaixador contou que o comércio na capital Bissau fechou as portas e a população permaneceu em casa. Nas ruas, eram vistos apenas veículos militares, da polícia, de diplomatas e ambulâncias.
Cerca de 250 brasileiros vivem no país, sendo 70 na capital e os demais no interior. A maioria é de padres, pastores e freiras. Quem ligou para o embaixador ouviu a seguinte recomendação:
"Sugeri que permaneçam em casa pelo menos hoje. Ainda não há clima de segurança suficiente que permita uma circulação normal".
Ainda nesta segunda a expectativa da comunidade internacional era que o primeiro-ministro de Guiné-Bissau fizesse um pronunciamento em rede nacional de rádio e tevê para tranquilizar o país. O passo seguinte é dar posse ao presidente interino, função que será exercida pelo presidente da Assembléia Nacional Popular, o equivalente ao Congresso brasileiro.
A Constituição de Guiné-Bissau determina que sejam convocadas eleições no prazo de 60 dias. Caberá aos militares escolherem o novo chefe do Estado-Maior.
O embaixador disse que, apesar dos dois assassinatos, não estava configurado um golpe de Estado. Segundo ele, nenhuma facção assumiu o poder e as tropas estariam retornando aos quartéis. Num encontro com o governo de Guiné-Bissau, militares teriam manifestado sua intenção de obedecer à Constituição.
"Não se configurou um golpe, porque nenhuma facção militar reivindicou o poder. Foram dois assassinatos cruéis, bárbaros, de personalidades históricas. Ambos eram generais e combateram lado a lado no processo de independência de Portugal. Sua ausência abre um vazio de poder muito grande que precisa muito rapidamente ser restabelecido", contou.
Pela manhã, Kadri recebeu telefonema do presidente Lula, que conhecia Nino Vieira e lamentou sua morte. Em nota, o Itamaraty condenou os homicídios. "O governo brasileiro manifesta seu mais forte repúdio a esses atos de violência, que atentam contra as instituições bissau-guineenses. O Brasil está em coordenação estreita com os demais países-membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), a fim de proceder a uma análise conjunta da situação e de propiciar o apoio necessário para a normalização do quadro interno na Guiné-Bissau", diz o texto.



