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Nicolas Maduro discursando para as tropas na Base Naval de Turiamo, Estado de Aragua, na Venezuela, em 3 de fevereiro de 2019 | MARCELO GARCIA/Presidência da Venezuela/AFP
Nicolas Maduro discursando para as tropas na Base Naval de Turiamo, Estado de Aragua, na Venezuela, em 3 de fevereiro de 2019| Foto: MARCELO GARCIA/Presidência da Venezuela/AFP

Nicolás Maduro não descarta a possibilidade de a crise da Venezuela terminar em uma guerra civil. Em entrevista ao jornalista espanhol Jordi Évole, exibida neste domingo (3) pelo canal de televisão La Sexta, o ditador disse também que o presidente Donald Trump deixaria a Casa Branca "manchada de sangue" se os Estados Unidos interferirem no país. 

“Ninguém pode dizer com certeza uma resposta a esta pergunta”, disse ele ao ser perguntado sobre o risco de conflito armado. “Tudo depende do nível de loucura e de agressividade do império do Norte e dos seus aliados ocidentais”. 

Os atos de Maduro parecem confirmar que seu regime está mesmo se preparando para uma guerra – ou pelo menos tentando mostrar sua força perante à oposição e ao mundo. Na semana passada, ele anunciou a criação de 50 mil unidades de defesa em todos os bairros da Venezuela como complemento aos “trabalhos de defesa integral que desenvolve a Força Armada Nacional Bolivariana (FANB)”. Estas milícias, de acordo com Maduro, têm acesso ao sistema de armas da FANB e passaram por treinamento militar. 

“Em caso de um conflito local, regional ou nacional, o povo sabe onde ir, sabe o que fazer, sabe como defender”, disse Maduro a Évole. 

As declarações de Maduro ocorrem no mesmo dia em que Trump voltou a dizer que o uso da força militar continua sendo uma opção para a Venezuela. Quando perguntado, durante uma entrevista com o canal americano CBS, sobre o que o levaria a recorrer ao exército, o presidente disse que não responderia. "Mas é certamente uma opção", reconheceu. 

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Maduro, ao comentar o posicionamento de Trump, disse que o presidente americano está cometendo erros “que vão manchar as suas mãos de sangue e vão deixar a presidência manchada de sangue. Vamos respeitar-nos ou será que vai repetir um Vietnã na América Latina?”, em alusão à guerra na qual os EUA enviaram milhares de soldados para ajudar a combater as forças comunistas no Vietnã, mas que acabou sendo dispendiosa, mal sucedida e com milhares de mortos. 

Novas eleições e reconhecimento a Guaidó

Maduro rejeitou o ultimato de países europeus para convocar novas eleições presidenciais livres, abrindo caminho para mais pressão contra seu governo. "Não aceito o ultimato de ninguém", afirmou o líder chavista na entrevista deste domingo. 

Com a negativa, Espanha, Reino Unido, França, Alemanha, Dinamarca, Suécia, Áustria, Holanda, República Checa e Letônia reconheceram o opositor Juan Guaidó como presidente interino do país – como já fizeram EUA, Brasil e diversos outros países. 

Na entrevista com Évole, Maduro disse que não vai dar o “braço a torcer por covardia diante das pressões”. 

"Por que a União Europeia tem que dizer a um país do mundo que já fez eleições que deve repetir suas eleições presidenciais, por que não foram vencidas por seus aliados de direita?", questionou o ditador. 

Apesar disso, Maduro não descartou, de maneira contundente, a convocação de um novo pleito. Évole insistiu para que ele o fizesse, mas continuou obtendo a mesma resposta: “as eleições presidenciais já ocorreram em 20 de maio”, “cumprimos a constituição”. 

“Desta maneira parece que deixa a porta aberta a novas eleições”, disse o repórter. Maduro respondeu que “a porta está aberta para o diálogo, ao entendimento, ao respeito a independência de venezuela, e há mil fórmulas para este entendimento”. 

Em contrapartida, o ditador elogiou a iniciativa da União Europeia em criar um "Grupo de Contato Internacional" para tratar da crise na Venezuela, que se reunirá pela primeira vez nesta quinta-feira (7), em Montevideo. O grupo inclui a UE e oito de seus países membros - França, Alemanha, Itália, Holanda, Portugal, Espanha, Suécia e Reino Unido - assim como os países latino-americanos Bolívia, Costa Rica, Equador e Uruguai. 

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Ajuda humanitária 

O autoproclamado presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, colocou ainda mais pressão sobre o regime de Maduro ao confirmar, neste domingo, que pediu ajuda humanitária à União Europeia e a proteção de ativos venezuelanos depositados no continente, enquanto os Estados Unidos "já estão mobilizando e transportando ajuda" ao país. 

Guaidó anunciou que a ajuda humanitária deve começar a chegar nesta semana. Segundo ele, será criada uma "coalizão nacional e internacional" com três centros de armazenamento de remédios e alimentos: na Colômbia, na cidade de Cúcuta, no Brasil, e em uma ilha caribenha. O opositor pediu no domingo que os militares cumpram seu dever e deixem a ajuda entrar no país. 

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Diante disso, o ditador chavista pediu lealdade às Forças Armadas, justificando que a medida permite uma invasão estrangeira. No domingo, oficiais das FANB e membros da Guarda Nacional foram para a fronteira com a Colômbia, em Táchira, para supervisionar os postos fronteiriços. 

"Estamos na Ponte Internacional Simón Bolívar, para assegurar a defesa da pátria. Paz total por aqui", escreveu em sua conta no Twitter o general Freddy Bernal. A ponte Simón Bolívar liga San Antonio del Táchira, na Venezuela, com Cúcuta, na Colômbia. 

Entre as opções estudadas pelos EUA para enfrentar o colapso da Venezuela está a abertura de um corredor para envio de ajuda humanitária. Washington disse ter prontos US$ 20 milhões para enviar em alimentos e remédios. O secretário de Segurança Nacional da Casa Branca, John Bolton, postou fotos de caixas de alimentos e remédios já empacotados e prontos para o embarque em direção à Venezuela. 

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A ideia de abrir um canal ou corredor humanitário foi respaldada pela Assembleia Nacional da Venezuela, de maioria opositora, e por 14 países que integram o Grupo de Lima em diferentes comunicados. Mas o chavismo considera tal ação uma porta de entrada para forças estrangeiras interessadas em uma intervenção militar. O governo Maduro atribui a escassez de alimentos e remédios às sanções dos Estados Unidos.

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