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Venezuelanos fazem fila em frente a supermercado, em Caracas | FEDERICO PARRA/
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Venezuelanos fazem fila em frente a supermercado, em Caracas| Foto: FEDERICO PARRA/ AFP

Acostumados a enfrentar longas filas para comprar produtos básicos como pão francês, sabonete e papel higiênico, os venezuelanos agora estão perdendo várias horas ao dia para ter acesso a dinheiro em espécie. Isso quando a saída não é pagar para conseguir a moeda local.

O auge da crise econômica e política que assola o país desde 2014, mas que se intensificou em abril deste ano, reflete ainda as últimas sanções econômicas impostas pelos Estados Unidos. Tomada por uma onda de protestos e saques, a Venezuela agora ficou sem condições até para importar comida. 

Confira abaixo quatro fatos recentes sobre o país governado por Maduro: 

1. Falta papel-moeda 

O problema ocorre desde o início do ano, quando o governo passou a emitir notas de maior denominação e decidiu proibir que lojas, farmácias ou qualquer tipo de comércio repassasse bolívares para seus clientes com cartão de débito. A falta é tamanha que, nos últimos dias, notas de 5 mil, 10 mil ou 20 mil bolívares, as denominações mais altas —e mais raras— eram comercializadas com ágio médio de 20% sobre seu valor de face, e registro de sobrepreço de até 35% em algumas regiões.

Até 2016, a nota mais alta em circulação na Venezuela era de cem bolívares (R$ 0,02). Pouco antes de o governo iniciar a impressão das novas cédulas, comerciantes decidiram pesar os bolívares ao invés de contá-los, tamanho era o volume de papel-moeda necessário para comprar qualquer item — mesmo os de baixo valor. A moeda venezuelana sofreu uma desvalorização de mais de 93% nos últimos 12 meses. 

Leia também: Como Nicolás Maduro foi de motorista de ônibus a ditador da Venezuela

O resultado é que a denominação mais alta em circulação equivale nesta semana a pouco mais que US$ 1. A mais baixa das novas cédulas, a menos de US$ 0,03. Em alguns casos, o valor das notas já é menor que seu custo de produção, estimado entre US$ 0,12 e US$ 0,15 a unidade impressa. 

Apesar de a Venezuela ser um país campeão em volume de papel-moeda por habitante - para cada 31 milhões de venezuelanos existem cerca de 440 notas - as notas se transformaram em mais um item negociado no mercado negro. Na prática, as cédulas que circulam pelo país hoje não valem praticamente nada. 

Sem papel-moeda, os bancos começaram a limitar a retirada diária a 30 mil bolívares (pouco menos que US$ 2) no início da semana. Nesta sexta (25), o limite havia caído para 10 mil bolívares (US$ 0,65) em muitos bancos. 

Para se ter uma ideia, no Brasil, ordem é de pouco mais de 28 cédulas por habitante. As novas notas emitidas pelo Banco Central venezuelano correspondem a 66% do meio circulante em valor no país, mas, ao mesmo tempo, a apenas 5% do número de cédulas que estão nas mãos dos venezuelanos. 

2. Sanções travam importação de comida

A presidente da Assembleia Constituinte da Venezuela, Delcy Rodríguez, disse nesta segunda-feira (28) que, com as últimas sanções econômicas impostas pelos Estados Unidos, o regime de Nicolás Maduro ficou sem dinheiro até para as importações de comida. 

No país, o Estado tem o monopólio da compra de produtos regulados, dentre eles remédios, itens de higiene como pasta de dente e papel higiênico e alimentos como milho, trigo e arroz - itens mais escassos no comércio. 

Como alternativa, Rodríguez afirma que o regime aprofundará seu relacionamento com aliados como Rússia, China, Índia e Irã. Assim como Maduro, a presidente da Constituinte também responsabilizou a oposição por pedir punições econômicas ao regime. 

Trump impediu empresas americanas de comprarem títulos da dívida venezuelana e da petroleira estatal PDVSA. O presidente também cortou o pagamento de dividendos ou participação de lucros a empresas controladas pelo regime. 

3. Maduro acusado de desviar dinheiro 

A chavista dissidente Luisa Ortega Díaz, procuradora-geral deposta pela Assembleia Constituinte da Venezuela, acusou nesta segunda-feira (28) o ditador Nicolás Maduro de desviar dinheiro do Tesouro Nacional. A fraude envolveria de US$ 8 milhões a US$ 10 milhões em espécie. 

Segundo Ortega Díaz, a saída do dinheiro foi registrada como pagamento pelos serviços de uma empresa de marketing político, mas encobria o que chamou de "uma milionária rede de corrupção" do líder. 

A procuradora diz que a receptora teria sido a Contextus Comunicación Corporativa. A empresa participou da campanha do chavismo nas eleições legislativas de 2015 e produziu material para a petroleira PDVSA e o Estado de Zulia, governado pelo chavista Francisco Arias Cárdenas. 

A procuradora deposta afirma que a empresa era usada como fachada para o esquema. O elo seria sua diretora-geral, Mónica Ortigoza Villasmil, mulher de Alejandro Escarrá Gil. Ortega Díaz associa a punição do Departamento do Tesouro americano ao esquema e declarou que entregará suas provas à Justiça americana nos próximos dias. 

4. Procuradora ameaçada de morte 

A procuradora-geral venezuelana também denunciou à Corte Interamericana de Direitos Humanos que o regime de Maduro contratou mercenários para matá-la. "Não posso voltar para a Venezuela. Se volto, vão me obrigar a colocar um uniforme fúcsia e vão me prender. E vão me dar sumiço, me torturar e não sei mais quantas coisas vão fazer contra mim." 

Ortega Díaz disse ainda que o ditador quer censurar as redes sociais, ferramenta considerada o único meio de comunicação livre do país.

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