Em uma Turquia que alcançou estabilidade econômica no século 21, mas também sofreu com acusações de autoritarismo, Recep Tayyip Erdogan é eleito presidente, uma vez que não poderia concorrer de novo ao cargo de primeiro-ministro.
A eleição de Erdogan denota claramente uma escalada na concentração de poder nas mãos de um partido (AKP), controlado por um líder carismático e autoritário, que não deverá surpreender se adotar medidas para manter Erdogan e seus aliados no poder por muitos e muitos anos.
A população turca deu uma demonstração das contradições democráticas do século 21. Elegeu democraticamente o mesmo político que foi acusado de autoritarismo ao restringir acesso à informação principalmente via internet , de exonerar 350 policiais que prenderam filhos de quatro de seus ministros por corrupção, de ser acusado de aumentar a influência do radicalismo islâmico na gerência do Estado, de publicamente apoiar a perseguição contra juízes, jornalistas e acadêmicos críticos e opositores ao governo. Mas é o político que também trouxe estabilidade política após décadas de sucessivos golpes militares, liderou a adesão turca à União Europeia combatendo a desvalorização da lira turca com pragmatismo econômico, diminuindo sensivelmente taxas de juros enquanto combatia uma das maiores crises econômicas da Europa.
A opção dos turcos demonstra a contraditória percepção popular de liberdade e democracia, vez que ao balancear restrições à liberdade, crescimento econômico, corrupção e aumento do conservadorismo religioso, a população turca optou por eleger Erdogan presidente e manter o partido Justiça e Desenvolvimento (AKP) no poder.
Eduardo Saldanha, professor de Relações Internacionais da FAE.



