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Ponto do Abasto Socialista, a rede criada por Chávez que vende produtos mais baratos para populações de baixa renda | Celio Martins/Gazeta do Povo
Ponto do Abasto Socialista, a rede criada por Chávez que vende produtos mais baratos para populações de baixa renda| Foto: Celio Martins/Gazeta do Povo

Retratos da Venezuela

Personalismo e história

Leia a coluna completa do enviado especial Celio Martins.

Entrevista

"O governo Chávez é contra o direito de propriedade"

José Guerra, professor da Universidade Central da Venezuela e ex-gerente de Pesquisa Econômica do Banco Central da Venezuela.

O economista e professor José Guerra faz parte da equipe que elaborou o plano de governo do oposicionista Henrique Capriles. Essa credencial é suficiente para demonstrar que ele tem partido. Crítico ferrenho da política econômica do governo Chávez mesmo antes de se juntar às fileiras da oposição, Guerra acusa o chavismo de ser contra o direito de propriedade e de buscar a estatização de todos os meios de produção. Confira trechos da conversa que ele teve com a reportagem da Gazeta do Povo, em Caracas.

Quais são os principais desafios socioeconômicos do futuro presidente da Venezuela?

A economia precisa crescer para criar empregos. Igualmente é necessário baixar a inflação para recuperar os salários. Sem isso, o que faremos é distribuir pobreza.

Há alegações de que o governo restringe a livre iniciativa.

Na Venezuela, não há direito de propriedade, porque o socialismo marxista-leninista não acredita nesse princípio. Esse modelo levou o governo Chávez a uma série de expropriações e confiscos, que tem afetado a capacidade de produção, particularmente no setor de agroalimentação.

O que mudaria com uma vitória de Henrique Capriles?

Com Capriles haverá um período de novos investimentos porque teremos um esforço coordenado do governo com o setor privado, dentro do estado de direito.

Capriles tem uma proposta social mais importante para que haja mais eficiência nos gastos públicos.

E no caso da reeleição do Chávez?

Chávez não acredita em outra coisa que não seja a propriedade estatal dos meios de produção. Ele busca apoio de empresas multinacionais que não se envolvem na política. Chávez despreza as empresas nacionais.

Quando o assunto é economia, o coro da oposição venezuelana é um só. O governo é acusado de reprimir a iniciativa privada, afugentar os investimentos internacionais, controlar o câmbio com mão de ferro e ter fracassado no combate à inflação. O resultado das políticas chavistas, segundo os opositores, é a paralisação das atividades econômicas, o aumento das importações em mais de 20% no último ano – cerca de 80% dos produtos consumidos no país são importados – e o crescimento desenfreado dos gastos públicos.

Empresários, analistas e­­ grande parte dos economis­­tas do país são unânimes em afirmar que, apesar de todos­­ esses problemas, o preço do pe­­tróleo, a mais de US$ 100 o­­­­­­ barril, dá sustentação ao go­­­­­­verno de Hugo Chávez. E é­­ ­­aí,­­ segundo os críticos, que mo­­ra o perigo. A econo­­mia da­­­­­­ Ve­­nezuela, a cada ano, di­­­­­­­­zem, depende mais do pe­­tró­­­­­­leo.

O setor petroleiro representa hoje um quarto do Pro­­duto Interno Bruto (PIB) do país, 95% das exportações e cerca de 40% das receitas públicas.

"O petróleo proporciona ingressos de divisas e serve para fortalecer a economia, mas o grau de dependência é muito alto e isso tor­­na a Venezuela um país­­ vulnerável", diz o economis­­ta José Guerra, professor da Universidade Central da­­ Ve­­nezuela e ex-gerente de­­ Pes­­quisa Econômica do Ban­­co Central da Venezuela. (veja entrevista ao lado)

Outro alvo dos críticos­­ é­­ a inflação, que supera 1.400% nos 13 anos do governo Chávez. Em agosto os­­ preços subiram 18,1%, se­­­­gun­­do os últimos dados do­­­­ Mi­­nistério das Finanças.

Respostas do governo à oposição não faltam. Mesmo com a crise internacional, rebatem os chavistas, o PIB cresceu 5,4% no segundo trimestre de 2012, em comparação com o mesmo período do ano anterior. Foi o sétimo trimestre consecutivo de expansão econômica, sustentada pelo pesado investimento do governo antes das eleições presidenciais.

Mas o crescimento do PIB­­ não é o principal trunfo exibido por Chávez e seus auxiliares. A grande arma de campanha governista é­­ a redução da pobreza. E os­­ dados de diversos organis­­mos internacionais dão com­­bustível aos argumentos­­ do Palácio Miraflores. A Co­­mis­­são Econômica para Amé­­rica Latina (Cepal), ór­gão­­ da ONU, reconheceu este mês "grandes avanços da Ve­­ne­­zuela na redução da po­­breza". O país conseguiu bai­­xar a taxa de pobreza de 48,6%,­­ em 2002, para 26,8% em 2010.

"O novo modelo de política econômica-social do governo revolucionário e sua implementação progressiva nos dá os resultados positivos de hoje, que são validados por todos os pesquisadores internacionais", enaltece Jesse Chacón, diretor da Fundação GISXXI, e ex-ministro de Interior e Justiça, em artigo publicado na mídia chavista.

O governo capitaliza tam­­­­bém dados do Centro de­­ Pes­­quisas Econômicas e­­ Po­­­­líticas (CEPR, na sigla em in­­glês), com sede em Lon­­dres,­­ que apontam um aque­­ci­­mento da economia por­­ meio de investimentos em setores populares, como a construção de­­ casas. De acordo com a CEPR, a construção civil na Ve­­ne­­zuela cresceu 22% em 2011.

E há ainda a redução do desemprego, que passou de 8,6% em 2011 para 7,9% em agosto desde ano, segundo­­ o Instituto Nacional de Esta­­tística (INE). Em 2003, a taxa era de 19,2%.

Independentemente dos argumentos de cada lado, quem chega na Venezuela hoje vê claramente um incremento do consumo e economia populares. Por outro lado, produtos nacionais de qualidade são raros – produtos de alta tecnologia só se forem importados –, o que confirma a tese da desindustrialização e falta de investimentos em alguns setores produtivos.

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