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O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, durante a Assembleia Nacional de Economia Social, Popular e Comunitária na cidade de Neiva em junho
O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, durante a Assembleia Nacional de Economia Social, Popular e Comunitária na cidade de Neiva em junho| Foto: EFE/Presidência da Colômbia

Gustavo Petro, o primeiro presidente de esquerda da história da Colômbia, assumiu o cargo em agosto de 2022 com a promessa de promover amplas reformas no modelo econômico e social do país. No entanto, prestes a completar um ano no cargo, seu governo enfrenta diversos escândalos e acusações que colocam em xeque a continuidade da sua administração.

Desde a sua posse até o momento, acumularam-se suspeitas de corrupção, lavagem de dinheiro e até mesmo interferência estrangeira envolvendo o financiamento da sua campanha eleitoral em 2022.

O mais recente escândalo envolveu seu filho, Nicolás Petro, preso junto à ex-mulher, Daysuris Vásquez, no último sábado (29) por suspeita de lavagem de dinheiro e enriquecimento ilícito.

Novamente, o escândalo está relacionado ao financiamento da campanha eleitoral do Pacto Histórico, a coalizão esquerdista que levou Petro ao poder em 2022. A investigação sobre Nicolás começou após Vásquez acusá-lo, em entrevista concedida à revista Semana no início do ano, de ter recebido grandes quantias de dinheiro que seriam destinadas à campanha de Petro.

Tais quantias teriam sido enviadas pelo empresário Alfonso “El Turco” Hilsaca, investigado por homicídio e associação criminosa - o valor doado por ele para a campanha teria sido de 400 milhões de pesos colombianos (cerca de US$ 103 mil) -, e pelo ex-narcotraficante e ex-contrabandista Samuel Santander Lopesierra, também conhecido como “El Hombre Marlboro”, condenado por tráfico de drogas nos Estados Unidos - ele teria enviado cerca de 600 milhões de pesos colombianos (US$ 154 mil) para a campanha de Petro.

Esses valores deveriam ter sido entregues para o caixa do Pacto Histórico, mas nunca teriam chegado ao destino final porque, segundo Vásquez, Nicolás teria ficado com o dinheiro e o utilizado para começar a viver "uma vida de luxo no país".

O Ministério Público já havia identificado anteriormente uma série de movimentações financeiras que não eram compatíveis com a renda declarada por Nicolás. Além disso, o filho de Petro já era investigado por supostamente ter recebido dinheiro de traficantes de drogas em troca de incluí-los nos acordos de paz que o pai está negociando com os grupos armados do país.

O Ministério Público da Colômbia pediu uma medida restritiva de liberdade e o indiciamento tanto de Nicolás quanto de Daysuris Vásquez pelos crimes de lavagem de dinheiro.

No sábado, dia em que ocorreu a prisão de Nicolás, Gustavo Petro escreveu no Twitter que, "como pessoa e como pai”, era doloroso ver tamanha “autodestruição” e um de seus filhos “ir para a cadeia”, mas que, como presidente da República, assegurava que o Ministério Público teria “todas as garantias” para proceder “de acordo com a lei”.

Ele também negou que tinha conhecimento do dinheiro enviado por Lopesierra e Hilsaca para sua campanha. Nicolás Petro, filho mais velho do presidente, é deputado desde 2021 pela cidade de Barranquilla e foi uma figura-chave na campanha do pai na busca por votos no departamento do Atlántico.

Gestão Petro acumula outros escândalos

Além do recente caso envolvendo seu filho, o presidente Gustavo Petro também sofre desgaste desde junho devido a várias outras investigações e acusações por suspeita de financiamento ilegal à sua campanha de 2022. Essas investigações atingiram em cheio seu governo e começaram após a divulgação de áudios revelados pela revista Semana e por uma investigação jornalística conduzida pelo jornal colombiano El Expediente.

A Semana divulgou em junho áudios trocados entre o então embaixador de Petro na Venezuela, Armando Benedetti, e a então chefe do Gabinete Presidencial, Laura Sarabia, nos quais discutiam valores que supostamente teriam financiado a campanha do Pacto Histórico e um roubo de uma maleta com dinheiro vivo que ocorreu na casa dela.

Nos áudios, Benedetti afirmava que havia arrecadado cerca de 15 bilhões de pesos colombianos (aproximadamente US$ 3,5 milhões) para a campanha de Petro e ameaçava revelar quem havia "verdadeiramente financiado sua candidatura" com este valor. A revelação dos áudios obrigou Petro a demitir tanto Laura quanto Benedetti, ambos considerados pessoas da mais alta confiança do presidente.

Segundo a investigação conduzida pelo El Expediente, após sua demissão, Armando Benedetti teria pedido proteção ao governo dos EUA e revelado à Drug Enforcement Administration (DEA), órgão responsável pelo combate ao narcotráfico do governo americano, que o dinheiro que ele havia recebido para ajudar a campanha do Pacto Histórico era proveniente do regime venezuelano de Nicolás Maduro.

A entrega desses valores teria sido feita por meio de lavagem de dinheiro, utilizando empresas do Clã Torres, um grupo liderado por Euclides Torres, empresário colombiano com muita influência na política local e que possui diversos contratos com empresas estatais na região de Barranquilla.

Em outra denúncia divulgada ainda em junho, a revista Semana revelou uma nova bomba para o governo de Petro. Desta vez, uma fonte anônima afirmava que o presidente havia guardado na casa de Sarabia uma quantia equivalente a 3 bilhões de pesos colombianos (US$ 718 mil), que eram provenientes, segundo a fonte, de contribuições ilegais feitas para financiar a campanha legislativa da coalizão Pacto Histórico.

Era esse dinheiro que estaria nas maletas que foram roubadas da casa da ex-chefe do Gabinete Presidencial e que seria o tema da conversa entre Sarabia e Benedetti nos áudios anteriormente divulgados pela revista.

Em meio a tudo isso, um militar que integrava a segurança do gabinete presidencial de Gustavo Petro, o coronel Óscar Dávila, foi encontrado morto em junho, em seu carro. Dávila estava ligado às investigações que envolviam o roubo na casa de Sarabia. O Ministério Público divulgou posteriormente que a necrópsia indicou que o militar se suicidou.

O presidente colombiano negou todas as acusações reveladas pela Semana e pelo jornal El Expediente. Ele afirmou que são "acusações infundadas" e fruto de uma “tentativa de golpe” contra seu governo, que estaria sendo orquestrada pela oposição.

Representantes do partido opositor Centro Democrático reagiram aos escândalos envolvendo o presidente. Segundo a senadora Paloma Valencia, uma das líderes da oposição, os eventos que a Colômbia presenciou desde o início da gestão Petro são “tristes” e “frustram” os cidadãos.

“Às vezes, parece que a soberba do setor político que nos governa está recebendo uma lição. Eles julgam com superioridade moral os governos anteriores, procuram responsáveis além do razoável, tratam os presidentes em geral como criminosos e violadores de direitos humanos. Agora, pretendem ter uma escala para medir seus próprios escândalos, muito diferente da que usam para medir os outros", disse ela.

Valencia seguiu afirmando que “o que dói é que o país tenha que se concentrar nesses assuntos, que em nada contribuem para os cidadãos, enquanto as grandes dificuldades permanecem sem serem atendidas”.

Diante dos escândalos envolvendo seu governo, que irá completar um ano na próxima segunda-feira (7), Petro vê uma oposição cada vez mais fortalecida convocando protestos pelo país e pedindo até mesmo a sua renúncia. Apesar de ter começado seu governo com maioria no Congresso, por causa da sua coalizão, o presidente esquerdista viu sua base se enfraquecer diante dos escândalos.

Seus projetos, principalmente as reformas prometidas em campanha, seguem em sua maioria paralisados pelos congressistas, que aguardam a conclusão dos inquéritos envolvendo as denúncias sobre o financiamento ilegal de sua campanha.

Além disso, a maioria dos colombianos segue expressando sua insatisfação com a atual situação política do país. Atualmente, a popularidade de Petro segue em queda: segundo a última pesquisa divulgada na Colômbia, o presidente é reprovado por quase 60% da população.

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