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Mulher caminha entre tendas no campo de al-Hol, controlado pelos curdos, para famílias de combatentes estrangeiros do Estado Islâmico, no nordeste da Síria, 17 de outubro de 2019
Mulher caminha entre tendas no campo de al-Hol, controlado pelos curdos, para famílias de combatentes estrangeiros do Estado Islâmico, no nordeste da Síria, 17 de outubro de 2019| Foto: Delil SOULEIMAN / AFP

O Estado Islâmico está correndo para tirar proveito sobre a deterioração da situação de segurança no norte da Síria, intensificando ataques a prisões e à milícia curda, agora enfraquecida, que serviu de vanguarda na guerra liderada pelos EUA contra o califado autoproclamado do grupo, dizem autoridades de inteligência e especialistas em terrorismo.

Apesar do cessar-fogo anunciado nesta quinta-feira (17), a incursão da Turquia no nordeste da Síria, que começou há uma semana, já está provando ser um golpe inesperado de propaganda para o grupo extremista, que nos últimos meses vinha fazendo tentativas fracas de retorno em partes do leste da Síria controladas pelas Forças Democráticas da Síria (FDS, apoiadas pelos EUA), disseram analistas.

A mídia oficial do Estado Islâmico provocou as FDS na quinta-feira, chamando-as de aliado abandonado pelos americanos e alertando que novos ataques estão chegando. "A retirada dos EUA do norte da Síria e a desestabilização que se seguiu criaram uma situação perfeita para o EI se beneficiar", disse Rita Katz, diretora executiva do SITE Intelligence Group, uma empresa privada que monitora atividades extremistas online.

Desde a invasão da Turquia em 9 de outubro, apoiadores comemoraram a libertação de combatentes do Estado Islâmico e familiares de dois campos de detenção operados pelas FDS, ao mesmo tempo em que assumiram a responsabilidade por ataques a outras instalações. Na quinta-feira, o grupo terrorista se gabou de uma nova libertação de detentos após um assalto a uma base das FDS perto de Raqqa, a antiga capital do Estado Islâmico. Esse ataque matou seis combatentes curdos e levou à "libertação de várias mulheres muçulmanas", de acordo com um comunicado divulgado pelo braço de mídia do Estado Islâmico. O incidente teria ocorrido em Mahmudli, uma vila perto de um grande campo de refugiados para sírios deslocados.

Redes sociais pró-Estado Islâmico estão exultantes com a rápida reviravolta da situação, e comentaristas proeminentes estão pedindo novos ataques às prisões para libertar milhares de militantes islâmicos mantidos pelas forças curdas. Acredita-se que centenas de familiares de combatentes do Estado Islâmico e alguns combatentes tenham escapado dos campos de detenção administrados pelas FDS em meio às turbulências da semana passada.

"As fugas das prisões estão acontecendo. O retorno iminente do Estado Islâmico é garantido pelo comando de Alá", declarou um comentarista em um fórum pró-Estado Islâmico na rede social Telegram. O autor do comentário citou as fugas como evidência de que militantes extremistas estão "aproveitando a guerra entre os curdos e os turcos".

Aumento da violência

A ofensiva militar da Turquia no norte da Síria provocou um aumento nos ataques do Estado Islâmico contra as FDS, que estão lutando para defender suas fortalezas contra ataques aéreos e terrestres por tropas turcas e milícias apoiadas pela Turquia. Sites do Estado Islâmico relataram 27 ataques bem-sucedidos ou tentativas de ataques contra as FDS na semana seguinte à invasão, em comparação com uma média de 10 ataques em cada uma das três semanas anteriores, de acordo com uma contagem do SITE.

As autoridades das FDS reconheceram o aumento da violência, que incluiu um duplo atentado suicida nesta semana em um restaurante na cidade fronteiriça de Qamishli que matou três pessoas e feriu outras nove.

Em fóruns online pró-Estado Islâmico, apoiadores do grupo terrorista disseram que os ataques foram uma vingança parcial pela morte de milhares de militantes e pela destruição do califado, que ocupava quase metade da Síria antes de ser levado ao colapso pelos combatentes das FDS apoiados por aviões de guerra e soldados das forças especiais dos EUA. Um post anônimo afirmou que era mais fácil realizar ataques porque as forças curdas estão preocupadas em defender cidades e vilarejos contra as forças turcas.

Autoridades de inteligência dos EUA e da Europa alertaram para um possível ressurgimento do Estado Islâmico após a invasão, que a Turquia diz que visa impedir a região de fronteira de se tornar um refúgio para terroristas anti-turcos. Tanques e aviões de guerra turcos entraram na Síria três dias depois que o governo Trump anunciou que estava retirando algumas dezenas de tropas americanas e soldados das forças especiais da área.

A Turquia considera as FDS como um ramo armado do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), um grupo que busca o autogoverno dos curdos étnicos.

As FDS eram um aliado essencial dos EUA na luta contra o califado e continuou a combater as células do Estado Islâmico, mantendo prisões e campos de detenção que abrigavam dezenas de milhares de combatentes e seus familiares, muitos deles estrangeiros.

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