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Incêndio em navio petroleiro atacado nas águas do Golfo de Omã
Incêndio em navio petroleiro atacado nas águas do Golfo de Omã| Foto: ISNA/AFP

A promessa do presidente Donald Trump de tirar os EUA de custosas guerras estrangeiras está colidindo com a realidade caótica dos compromissos dos Estados Unidos no Oriente Médio, onde as tensões estão aumentando entre Washington e Teerã depois de ataques a dois petroleiros na semana passada.

O dilema surgiu novamente quando o governo ordenou o envio de mais mil soldados para a região na segunda-feira, em resposta ao que oficiais de Trump dizem ser o papel do Irã nos últimos ataques. O governo de Teerã rejeitou essas acusações.

Com a retórica dos lados americano e iraniano aumentando, o destacamento relativamente pequeno anunciado na segunda-feira parece calculado para mostrar que os EUA vão reagir ao que o país vê como o mau comportamento do Irã, sem mudar o equilíbrio do poder americano na região.

"Trump está muito determinado a evitar que o país seja arrastado para um conflito militar se ele puder evitar", disse Gary Samore, ex-coordenador da Casa Branca para o controle de armas e armas de destruição em massa no governo Obama.

O presidente pareceu reforçar essa impressão em uma entrevista à revista Time publicada na segunda-feira. "Até agora, foram insignificantes", disse ele sobre os ataques. Perguntado se estava considerando um confronto militar, ele disse à Time: "Eu não diria isso".

Um especialista em explosivos da Marinha que falou a repórteres sobre os ataques na segunda-feira, no Pentágono, disse que as minas anexadas ao petroleiro japonês estavam acima da linha d'água, o que pode indicar que os autores do ataque queriam danificar o navio, mas não destruí-lo. Um porta-voz do Pentágono disse mais tarde que o especialista não fazia parte da investigação oficial dos EUA sobre os ataques.

A abordagem de Trump

Analistas dizem que a abordagem de Trump para a política externa - exercer pressão máxima sobre os adversários para forçar concessões - aumenta o risco de um conflito não intencional e até o momento não deu frutos. De Teerã a Caracas a Pyongyang, os esforços dos EUA para forçar regimes hostis a recuar encontraram resistência, apesar das ameaças ou demandas de autoridades, incluindo o conselheiro de Segurança Nacional, John Bolton, e o secretário de Estado, Mike Pompeo.

Antes de Bolton se juntar ao governo Trump no ano passado, ele defendia publicamente uma guerra com o Irã para eliminar seu programa nuclear. E foi Pompeo quem no ano passado anunciou uma longa lista de demandas que o Irã tinha que cumprir para iniciar as conversações com os EUA. Mas o presidente disse logo depois que ele apenas queria que as autoridades de Teerã o ligassem para resolver as coisas.

"Se dependesse de outros como Bolton e Pompeo, eles defenderiam uma ação mais agressiva, mas eu não vejo nenhum sinal de que Trump esteja querendo entrar em uma guerra", disse Samore.

As mensagens contraditórias e uma desconfiança geral sobre as motivações americanas alimentaram dúvidas sobre as intenções dos EUA em relação ao Irã, mesmo entre os aliados. A situação foi exacerbada, segundo analistas, pela decisão de Trump de se retirar do acordo nuclear de 2015 com o Irã e pelo ceticismo geral de seu governo com alianças e instituições multilaterais.

"Infelizmente, nossa grande vantagem comparativa como nação - construir e trabalhar com alianças - diminuiu, particularmente com relação ao Irã", escreveu Brett McGurk, ex-enviado de Trump à coalizão global para combater o Estado Islâmico, pelo Twitter em 14 de junho. "Importantes aliados ocidentais alertaram exatamente para essa circunstância e sequência de eventos quando os EUA começaram sua campanha de pressão máxima um ano atrás".

Blefe

Trump pode estar ainda menos disposto a considerar a força militar nesta semana, já que ele inicia sua campanha de reeleição nesta terça-feira na Flórida. Embora ele tenha feito campanha em 2016 com promessas de sair de conflitos no exterior, Trump teve dificuldades para reduzir as tropas na Síria e no Afeganistão e agora está na posição de enviar mais forças ao Oriente Médio enquanto tenta convencer os eleitores que merece outros quatro anos no cargo.

Sentindo inconsistências na estratégia de Trump, os líderes em Teerã podem até estar tentando expor o blefe do presidente.

Autoridades iranianas indicaram que o país pode deixar de cumprir alguns elementos do acordo nuclear de 2015, conhecido como Plano de Ação Integral Conjunta, uma medida que os especialistas dizem que é uma tentativa cuidadosamente calculada para exercer nova pressão pelo alívio de sanções das nações europeias que pediram ao Irã que permaneça no acordo.

Além da guerra, as outras opções para pressão dos EUA incluem o aumento de escoltas militares para navios-tanque na região do Golfo ou atacar barcos ou instalações pertencentes ao Guarda Revolucionária Iraniana, que os EUA disseram estar envolvida nos ataques recentes.

Prelúdio para a guerra

O general da Força Aérea Paul Selva disse na terça-feira em Washington que os EUA comunicaram uma mensagem ao Irã de "tirem as mãos - não mexam com nossas forças" em declarações públicas e também por meio de intermediários suíços e iraquianos.

Se o Irã "vier atrás de cidadãos dos EUA, bens dos EUA ou militares dos EUA, nós nos reservamos o direito de responder com uma ação militar - e eles precisam saber disso", disse Selva, o oficial militar número dois dos EUA, a jornalistas.

"Há muita histeria dos que dizem que responsabilizar o Irã tem que ser justificado como um prelúdio para a guerra", disse Ray Takeyh, membro sênior do Conselho de Relações Exteriores. "Já estamos no meio de um conflito de baixa intensidade que conseguiu se regular".

No entanto, até mesmo alguns dos aliados mais fiéis de Trump, como o deputado republicano Michael McCaul, do Texas, alertam que os Estados Unidos e o Irã não devem se aproximar ainda mais do conflito. McCaul disse que as forças norte-americanas na região estão em uma "postura defensiva" para proteger o trânsito através do Estreito de Ormuz e advertiu que a ação militar contra o Irã seria "muito, muito complicada".

"Não acho que alguém tenha apetite pela guerra, embora tenhamos planos militares, obviamente, planos de contingência, caso isso precise acontecer", disse McCaul na Bloomberg Television. "Eu advertiria que o Irã é do tamanho do Iraque e do Afeganistão somados e seria muito, muito complicado".

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