Washington Até pouco tempo atrás, gente com mais de 35 anos, homens cheios de tatuagens ou com ficha criminal não entravam no Exército americano. Mas o Departamento de Defesa se viu obrigado a reduzir seu nível de exigências para cumprir as metas de recrutamento. Agora, até pessoas que foram presas por furto, embriaguez ou invasão de propriedade, homens com enormes tatuagens no pescoço e quarentões acabam aprovados no controle de qualidade do Exército.
A guerra do Iraque pôs uma imensa pressão sobre os ombros das Forças Armadas. Em 2005, o Exército não conseguiu cumprir a meta de alistar 80 mil recrutas. Ficou 8% abaixo do objetivo a maior margem em duas décadas. No ano passado, a Marinha, a Força Aérea e o Exército conseguiram alistar o número previsto de soldados. Mas o custo foi alto. "Apesar de o Exército estar cumprindo suas metas, a qualidade dos recrutas caiu muito", diz o relatório do Escritório de Orçamento do Congresso.
A situação deve ficar ainda mais crítica. Em dezembro, o presidente George W. Bush anunciou que pretende expandir o Exército. Ele não especificou, mas fontes do Pentágono acreditam que o efetivo pode sair dos atuais 514 mil incluindo aí os 30 mil soldados temporários incorporados desde o 11 de Setembro para 540 mil. Há duas semanas, Bush anunciou o envio de mais 21.500 soldados para o Iraque, como parte de sua nova estratégia para a guerra.
Isso significa recrutar mais soldados e treiná-los para que estejam prontos para serem enviados ao front. Do 11 de setembro de 2001 até o ano passado, o Exército teve o desafio de preparar 5 mil novos soldados por ano. Nos próximos anos serão necessários 7 mil recrutas ao ano.
Qualidade
"Não acho que, em termos numéricos, vá ser muito mais difícil conseguir os soldados", diz o coronel Bryan Hilferty, porta-voz do Exército no Pentágono. Para ele, o maior desafio é a qualidade. Muitos candidatos têm problemas de saúde, são alcoólatras ou viciados em drogas, ou não terminaram o colegial.
Para completar, apesar de previsões mais catastrofistas, a economia dos EUA continua indo bem. E quando a economia vai bem menos gente quer entrar nas Forças Armadas, pois há bons empregos sobrando na praça. "Por isso estamos um pouco mais flexíveis em relação à qualificação dos candidatos para aumentar o recrutamento", admite Hilferty.
A idade máxima, por exemplo, passou de 35 anos para 39 no início de 2006, e para 42 anos em junho do ano passado. Desde a mudança quase mil pessoas com mais de 35 anos já se alistaram no Exército (sem contar a reserva), calcula o coronel. Outras centenas foram aceitas pelo Exército, apesar de condenações por crimes leves. "Não acho que a presença de um soldado que foi preso por beber antes dos 21 anos prejudique o Exército", diz. "Seria estúpido não dar uma segunda chance a uma pessoa dessas. Não estamos alistando pessoas com histórico de violência doméstica, por exemplo."
A qualificação dos candidatos também caiu. Em 2004, 92% dos soldados na ativa do Exército tinham completado o segundo grau. Em 2005, esse número caiu para 87%.
A meta do Departamento de Defesa é ter pelo menos 90% com segundo grau completo. Em 2004, 72% haviam conseguido as pontuações mais altas da prova militar AFQT (Teste de Qualificação das Forças Armadas). Em 2005, eram só 67%. O AFQT é composto de quatro partes raciocínio aritmético, matemática, vocabulário e compreensão de textos. Na maioria, são perguntas simples envolvendo frações, divisões ou multiplicações.
Na briga pela conquista de mais recrutas, a pesquisadora sênior de Defesa e Segurança Doméstica do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, Christine Wormuth, acha que é hora de parar com o preconceito velado contra os homossexuais. Mas a meta mais ousada da Defesa é recrutar soldados em outros países em que o inglês é língua oficial e também oferecer cidadania. "Poderiam recrutar soldados na Índia, por exemplo", diz Christine. Mas a questão é polêmica. Afinal, como saber se os soldados estrangeiros seriam leais às Forças Armadas americanas?



