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Áreas do interior dos Estados Unidos são as mais atingidas pela pobreza | Ana Swanson/Washington Post
Áreas do interior dos Estados Unidos são as mais atingidas pela pobreza| Foto: Ana Swanson/Washington Post

Um novo relatório das Nações Unidas está despertando a atenção nos Estados Unidos por prever que o presidente Donald Trump vai ampliar as dificuldades para os mais pobres ao enfraquecer as redes de segurança do país. “As políticas adotadas no ano passado foram deliberadamente criadas para remover as proteções básicas dos mais pobres, punir aqueles que não estão empregados e fazer com que os cuidados com a saúde básica sejam mais um privilégio do que um direito relacionado à cidadania”, informa o documento, que será apresentado ao Conselho de Direitos Humanos da Assembleia Geral das Nações Unidas. 

O ataque das Nações Unidas à Casa Branca gerou uma onda de artigos, com vários sinalizando que a pobreza nos Estados Unidos vai crescer no governo Trump. Mas, enquanto muitos especialistas acreditam que Trump está fazendo a vida mais difícil para os mais pobres, os índices de pobreza vem caindo desde que ele assumiu a presidência. O motivo é o crescimento da economia americana.

População mais pobre está em situação precária

O que chama a atenção no relatório são as precárias condições da população mais pobre nos Estados Unidos, inclusive antes de que Trump assumisse a presidência. O documento aponta que, entre os países desenvolvidos, os Estados Unidos tem as maiores taxas de pobreza, mortalidade infantil, prisão, desigualdade de renda e obesidade. 

Os americanos vivem menos e ficam mais doentes do que aqueles que vivem em outras prósperas democracias, enfatiza documento. Cerca de 40 milhões de americanos vivem na pobreza, e 18,5 milhões na extrema pobreza. E mais de 5 milhões vivem, no que o relatório qualifica de “condições de absoluta pobreza do Terceiro Mundo”.  Em números absolutos, a pobreza extrema nos EUA é maior do que no Brasil. Segundo levantamento da LCA Consultores a partir dos microdados do IBGE, no ano passado o Brasil tinha 14,83 milhões de pessoas vivendo com menos de US$ 1,90 por dia.

Cerca de 11 milhões de americanos passam por uma cadeia ou prisão a cada ano, com pelo menos 730 mil pessoas encarceradas em um dia qualquer, aponta o informe. E, em 2016, houve um “aumento chocante” do número de crianças vivendo na pobreza: cerca de 13,3 milhões, ou 18% do total, destaca o relatório das Nações Unidas. O gasto público por criança é um dos menores do mundo. 

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Estas estatísticas podem não refletir as políticas adotadas pelo governo Trump, já que os dados mais recentes sobre pobreza são anteriores à sua gestão, disse o autor do informe, Phillip Alston, relator das Nações Unidas sobre extrema pobreza e direitos humanos. 

Ele culpa o sistema político americano por estes problemas, justificando que ele priva os afro-americanos do direito ao voto, envia injustamente os sem-teto à prisão e tem falhado em oferecer programas de moradia e de cuidados à saúde para os seus cidadãos. Alston disse que:

A persistência da extrema pobreza é uma escolha feita por aqueles que estão no poder. Com vontade política, pode ser eliminada.

Especialistas em pobreza apontam que uma série de políticas adotadas por Trump poderá piorar a situação dos mais pobres, mas dizem que é pouco provável que esses efeitos se reflitam em maiores taxas de pobreza. 

Os índices de pobreza vem caindo continuamente ao longo do primeiro e segundo anos do governo Trump, em parte porque os salários aumentaram, o desemprego tem caído e muitos pobres estão no mercado de trabalho.  A taxa de pobreza atingiu 12,7% em 2016, antes de Trump ser eleito. Em 2010, era de 15,1%. No mesmo período, a taxa de desemprego caiu de 10% para 4,7%, no final de 2016. Atualmente, ela está em 3,8%. 

Presidente tenta promover cortes na área social

As principais mudanças propostas por Trump para a proteção social – como os cortes profundos em programas sociais – não conseguiram ser aprovadas pelo Congresso e não devem ser avaliadas novamente. Contudo, Trump conseguiu avançar com uma série de outras políticas que devem afetar os mais pobres. Isto inclui dar aos estados a capacidade de impor requisitos relacionados a emprego no Medicaid – o programa de saúde criado no governo Obama -, aplicar normas mais severas para os promotores criminais, por fim às regras de horas-extra que protegem os trabalhadores e revogar o status legal de grupos de imigrantes. 

Outros especialistas dizem que os pobres são mais propensos a sentir o impacto da mudança climática global. Trump também acabou com várias iniciativas da era Obama destinadas a reduzir as emissões de carbono. 

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Os conservadores têm defendido a Casa Branca dizendo que a introdução de novos requisitos de trabalho contribuirá para retirar os americanos da pobreza, estimulando-os a trabalhar. “Aplaudo esta decisão do presidente Trump de contribuir para a redução da pobreza mediante a promoção de oportunidades e a mobilidade econômica”, disse o deputado republicano Kevin Brady. 

Mas outros, incluindo Alston, das Nações Unidos, predizem que as políticas presidenciais enfraquecerão ainda mais a rede de proteção contra a pobreza. Ela é uma das mais frágeis do mundo. 

“É preciso ver que tipo de efeito as políticas de Trump terão sobre a taxa de pobreza, a pobreza infantil, o encarceramento, a desigualdade de renda ou outros fatores. Minha expectativa é de que a maioria, se não todos esses indicadores parecerão piores depois de Trump do que antes dele”, diz Jamila Michener, pesquisadora de assuntos relacionados à pobreza da Universidade de Cornell.

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