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Polêmica

Estátua de Colombo vira saga

Obra gigantesca de artista russo, encomendada por George H. W. Bush em 1990, até hoje não encontrou local para ser instalada

Estátua em bronze do navegador Cristóvão Colombo, descobridor da América, tem 92 metros e pesa 544 toneladas | Expedição Colombo
Estátua em bronze do navegador Cristóvão Colombo, descobridor da América, tem 92 metros e pesa 544 toneladas (Foto: Expedição Colombo)
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San Juan, Porto Rico - A estátua do navegador genovês Cristóvão Colombo (1451-1506) será a estrutura mais alta do Ca­­ribe e estará entre as mais altas do mundo quando for instalada nu­­ma região em que ele não tem sido muito lembrado nos últimos anos. Mas até agora, porém, a escultura de bronze de 92 metros do descobridor das Américas tem representado uma confusão monumental ou talvez uma piada colossal.

Originalmente projetada para uma grande cidade dos Estados Unidos, a estátua tem sido enviada de um local para outro e está desmontada enquanto empresários e o prefeito da pequena cidade porto-riquenha de Arecibo tentam finalmente erguê-la, com vista para o Oceano Atlântico, na costa norte da ilha.

Mas este pode não ser o capítulo final da saga que já dura 20 anos. O local de instalação da estátua está longe de ser definido: os que defendem que ela seja co­­locada em Arecibo precisam reunir uma longa lista de permissões, dentre elas uma autorização da Administração Federal de Aviação (FAA), para instalar o monumento, que é tão alto que poderia interferir no tráfego aéreo.

E agora, autoridades porto-riquenhas competem para levá-la para diferentes partes da ilha, como um chamariz para os tu­­ristas. E há também o fato de que a estátua de quase 544 toneladas, como muitas obras públicas de lar­­ga escala, inspira mais críticas do que admiração, principalmente desde que Colombo passou a ser visto mais como o precursor do genocídio no continente americano do que o descobridor do Novo Mundo.

"Para ser honesta, é uma mon­­s­­truosidade", diz Cristina Ri­­vera, antiga ativista contra a cria­­ção de praias particulares em Are­­cibo e que explicita sua oposição à instalação da gigantesca estátua de Colombo em sua cidade. "Por que temos de trazer essa pe­­ça exageradamente grande para cá?" Este é o tipo de reação que o projeto costuma atrair.

O artista russo Zurab Tsereteli, de 77 anos, concluiu a estátua em 1991 para comemorar o 500º. aniversário da chegada de Colombo ao Hemisfério Ocidental, em 1492.

O artista é internacionalmente reconhecido por seus trabalhos gigantescos, caros e algumas ve­­zes não desejados. Mas sua arte já en­­controu abrigo nos Estados Uni­­dos antes. Uma de suas peças está na fren­­te da sede da Organização das Nações Unidas (ONU) em Nova York.

Em entrevista por e-mail à Associated Press, Tsereteli disse que até mesmo a Estátua da Li­­berdade e a Torre Eiffel foram al­­vo de críticas e desafios.

"Agora, elas são símbolos", disse ele. "Sem esses símbolos, os lugares onde estão instaladas se­­riam inconcebíveis."

Durante uma visita à Rússia em 1990, o então presidente dos EUA George H. W. Bush passou pelo ateliê de Tsereteli em Moscou e escolheu um exemplar em miniatura de uma estátua de Co­­lombo dentre as três opções apresentadas a ele.

Em setembro de 1994, Tsere­­teli viajou para os Estados Unidos com o então presidente russo Bo­­ris Yeltsin e presenteou o mo­­delo escolhido por H. W. Bush ao presidente Bill Clinton.

O sul da Flórida foi um dos primeiros locais propostos para a instalação da estátua. Uma autoridade de um condado brincou di­­zendo que a estátua seria um bom recife artificial e outro sugeriu que apenas a cabeça fosse ex­­posta, sem se importar com o res­­tante da estátua.

Outras pessoas não gostaram a ideia de erguer algo que homenageia uma pessoa que séculos após sua morte foi associada por al­guns historiadores ao tráfico de escravos indígenas e à colonização violenta. A estátua fez então uma ronda por Nova York, Ohio e Ma­­ry­­land, sem conseguir um local para ser erguida.

"Várias organizações privadas disseram que a instalariam", disse Emily Madoff, porta-voz de Tsereteli. "Mas aí elas se dão conta de que trata-se de algo tão grande.Não é algo que simplesmente se coloca em cima da terra."

Em 1998, o governador de Por­­to Rico, Pedro Rosello, aceitou a es­­tá­­tua como um presente e gastou US$ 2,4 milhões em recursos pú­­blicos para levá-la para a ilha. En­­tão, o prefeito de Catano, um su­­búrbio de San Juan que atrai mi­­lhares de turistas para sua destilaria de rum Bacardi, pediu a escultura. Mas o projeto se complicou quando autoridades de aviação disseram que o local onde a estátua seria colocada interferiria nas rotas aéreas.

Em seguida, o prefeito de Are­­cibo, Lemuel Soto, disse que a estátua seria um atrativo para a cidade, que atrai turistas com suas cavernas de calcário e um dos maiores telescópios do mundo.

Mas agora que o processo de permissão está em andamento, surge uma nova ameaça. O deputado porto-riquenho David Bo­­nilla começou a faze lobby para colocar a estátua no oeste do território norte-americano, provavelmente na ilha de Desecheo, que é inabitada, exceto por errantes imigrantes dominicanos que tentam escapar da polícia de fronteira norte-americana.

O prefeito de San Juan, Jorge Santini, figura influente na ilha, também entrou na briga e diz querer que a estátua de Colombo vá para a capital. Santini a imagina perto de uma lagoa ou até mesmo no topo de um aterro.

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