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Elin Ersson, a estudante sueca que impediu um avião decolar com um afegão que seria deportado | Elin Ersson/Facebook
Elin Ersson, a estudante sueca que impediu um avião decolar com um afegão que seria deportado| Foto: Elin Ersson/Facebook

Por todo o mundo - de Chicago a Munique, passando por Roskilde, na Dinamarca - os aeroportos se tornaram centros de protesto político contra deportações de imigrantes. Os ativistas têm bloqueado entradas de aeroportos, fazem manifestações perto das cercas dos terminais e até invadem pistas, na tentativa de impedir as decolagens de aviões que transportam deportados.

Nesta semana, uma estudante sueca tentou uma abordagem diferente. Quando Elin Ersson soube que um afegão deveria ser deportado da Suécia, na segunda-feira, comprou uma passagem para o mesmo voo. Assim que embarcou no avião, em Gotemburgo (Suécia), ela se recusou a sentar e permaneceu no corredor, até que o deportado de 52 anos foi retirado. 

Desobediência civil

O ato de desobediência civil, transmitido no Facebook, causou um atraso de duas horas no voo, segundo a Swedavia, a companhia que administra o aeroporto. Em última análise, os esforços dela foram bem sucedidos, pelo menos por enquanto.

"Não vou me sentar até que esta pessoa esteja fora do avião", disse Elin no vídeo que está no Facebook, e que já foi visto mais de 2 milhões de vezes. "O piloto tem o direito de dizer que ele (o afegão) não tem permissão para estar no avião." 

Se o homem for deportado para o Afeganistão cheio de conflitos, disse ela às pessoas a seu redor, ele provavelmente será morto. 

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Enquanto a estudante continuava filmando e se recusando a se sentar, se percebia, no vídeo, a sensação de frustração de passageiros e comissários de bordo. "Sente-se, nós queremos ir", disse uma pessoa. 

Uma comissária de bordo pediu várias vezes para Elin desligar o telefone, porque a demonstração de segurança da companhia aérea estava em andamento. "Você precisa ocupar o seu lugar e desligar o celular ou então terá de deixar a aeronave", diz a aeromoça. Ela explica que o avião vai para Istanbul, na Turquia, onde as autoridades escoltarão o deportado até um voo para o Afeganistão. "Em Istambul, eles decidirão o que fazer", diz a aeromoça. 

Deportation from Gothenburg to Afghanistan

Publicado por Elin Ersson em Segunda, 23 de julho de 2018

"Não quero que a vida de um homem seja tirada só porque você não quer perder o seu voo", diz a estudante. Ela insiste que o que ela está fazendo é perfeitamente legal. Ela filma apenas sua face, raramente mostrando os rostos das pessoas ao seu redor, por questões de privacidade. 

A comissária de bordo diz que a tripulação não pode fazer nada, porque o deportado estava sendo acompanhado por autoridades suecas. 

Um passageiro insiste, dizendo com raiva para ela parar, dizendo que ela está "perturbando todas as pessoas que estão ali". "Não ligo para o que você pensa ..."  Ele tira o telefone da estudante antes de uma aeromoça devolvê-lo. 

"São as regras do seu país", diz outro passageiro. “Estou tentando mudar as regras do meu país", responde ela. "Não é certo mandar pessoas para o inferno." 

"Mas você está impedindo que todos esses clientes cheguem ao seu destino", diz o homem. 

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Pode-se escutar crianças chorando e passageiros se aglomerando nos corredores do avião, enquanto o vídeo de 14 minutos avança. Outros, no avião, parecem apoiar os esforços de Elin. Um grupo de passageiros começa a aplaudi-la. “Estamos com você”, diz um turco a ela. A estudante começa a chorar assim que vê um time de futebol se levantar na parte de trás do avião. "Não sei se eles estão tentando ouvir o que estou dizendo, mas enquanto eles estiverem em pé, este avião não tem permissão partir", diz ela. 

No final do vídeo, um comissário de bordo diz à estudante: "você e o passageiro não voarão". Quando o deportado de 52 anos foi retirado do avião, a estudante saiu por conta própria, disse Hans Uhrus, assessor de imprensa da Swedavia Airports, ao Washington Post. A deportação foi interrompida, escreveu Elin no Facebook. 

 Deportação adiada

Segundo a agência de notícias alemã Deutsche Welle (DW), as autoridades suecas confirmaram que o homem afegão permaneceu sob custódia e será deportado em outra ocasião. 

Apesar das alegações de Elin de que seu protesto era legal, as autoridades policiais disseram à DW que ela poderá ser multada e presa por se recusar a obedecer às ordens de um piloto enquanto estava em um avião. 

Enquanto o vídeo do protesto da estudante circulava nas mídias sociais, alguns espectadores a criticaram por impedir o voo e atrasar dezenas de passageiros. Mas outros a elogiaram por seus esforços ousados. "Podemos não saber todos os detalhes sobre o caso, mas estou espantado com sua bravura, compaixão e determinação para salvar a vida de um homem", escreveu um apoiador no Twitter. 

"Você deu a todos uma mensagem: para que nos levantemos em relação àquilo que acreditamos e não nos afastemos daquilo que é certo", escreveu outro. 

Fronteiras se fechado

A demonstração de Elin coincide com o momento em que os países da União Europeia estão cada vez mais fechando suas fronteiras em meio a uma crise global de refugiados 

Os afegãos continuam entre os maiores grupos de requerentes de asilo. Entre o primeiro trimestre de 2017 e o primeiro trimestre deste ano, os países da União Europeia receberam 37.795 pedidos de asilo do Afeganistão, de acordo com a EuroStat. Apenas o Iraque e a Síria apresentaram números mais altos. 

Tropas americanas disparam em direção a forças do TalibãJOHANNES EISELE/AFP

O Afeganistão continua a enfrentar ataques mortais do Talibã e do Estado Islâmico. As mortes de civis no Afeganistão, no primeiro trimestre do ano foram 2.258, um nível quase recorde, segundo autoridades da ONU. 

No início deste mês, o ministro do Interior da Alemanha, Horst Seehofer, foi criticado por ter manifestado satisfação, em seu 69° aniversário, por deportações de 69 requerentes de asilo afegãos. Dias depois que um desses refugiados foi forçado a retornar a Cabul, foi encontrado morto em seu hotel. Aparentemente, suicidou-se.

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