
O governo dos EUA, seguindo um acordo que havia sido feito entre o ex-presidente Barack Obama e o presidente Mauricio Macri, em 2016, liberou nesta sexta-feira (12) um novo pacote de documentos relacionados à ditadura militar argentina (1976-1983), que até hoje se encontravam classificados.
O ato ocorreu nos Arquivos Nacionais de Washington, no qual foram entregues ao ministro da Justiça, Germán Garavano, seis discos compactos com informações da inteligência norte-americana sobre o que ocorreu naquela época.
Em carta endereçada a Macri e que acompanhou o pacote, o mandatário dos EUA, Donald Trump, diz que "a publicação desses arquivos é a maior desclassificação de documentos da história do governo dos EUA com relação a um governo estrangeiro".
Em entregas anteriores, foram reveladas, por exemplo, declarações do então secretário de Estado dos EUA, Henry Kissinger, que demonstraram que ele tinha conhecimento das torturas e dos desaparecimentos que estavam ocorrendo sob o comando dos generais.
Com isso, já são 97% dos documentos sobre o país na época que estarão disponíveis à Justiça argentina e aos pesquisadores do período. Este era um pedido que as associações de defesa dos direitos humanos vinham fazendo a Macri desde o início de seu mandato, em 2015, de que pressionasse pela liberação de toda a documentação.
Quebra-cabeça
Os documentos abarcam anotações e correspondências diplomáticas e militares que envolvem os governos de Gerald Ford, Jimmy Carter e Ronald Reagan.
"É possível que apareçam peças que ajudem a montar um quebra-cabeças mais amplo sobre o período e buscar detalhes sobre alguns desaparecimentos", disse Gastón Chillier, diretor do Centro de Estudos Legais e Sociais, uma das principais organizações de direitos humanos do país.
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Entre os documentos desclassificados há informações sobre desaparecimentos pontuais, que foram comunicados ao governo dos EUA, que atuava junto aos sistemas de inteligência argentinos em muitos casos.
Um deles é o do até agora considerado desaparecido Marcos Osatinsky, membro da guerrilha Montoneros. Agora, confirma-se que esse membro da resistência de fato morreu sob tortura, em Córdoba.
Também revela o fim de vários outros considerados desaparecidos, como os funcionários da embaixada cubana Jesús Cejas Ariads e Crescencio Galanena. Os documentos reportam que ambos, presos pelas forças da repressão argentina, foram assassinados e atirados num rio dentro de barris de cimento.
Outro documenta, ainda, a criação da Operação Condor (aliança dos governos militares do Cone Sul), chamando-a de um "plano para eliminar os líderes terroristas da América Latina".
Espera-se que, assim que esses documentos cheguem à Argentina, sejam revelados mais detalhes e que se determine que as informações sejam incluídas em julgamentos em andamento ou que propicie a abertura de processos novos.
Até agora, a Argentina já realizou 3 mil processos contra repressores, havendo mais de 800 deles condenados e 200 aguardando resultados.



