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Marshall Billingslea, enviado especial dos EUA para Controle de Armas em coletiva após a reunião com a Rússia sobre o último acordo de armas nucleares entre os dois países. Viena, Áustria, 23 de junho de 2020
Marshall Billingslea, enviado especial dos EUA para Controle de Armas em coletiva após a reunião com a Rússia sobre o último acordo de armas nucleares entre os dois países. Viena, Áustria, 23 de junho de 2020| Foto: JOE KLAMAR / AFP

Sem a presença da China, Estados Unidos e Rússia realizaram a primeira rodada de conversas sobre controle de armas nucleares nesta terça-feira, a fim de chegar a um entendimento que possibilite a prorrogação do New Start, atualmente o único acordo de controle de armas nucleares entre Rússia e Estados Unidos, por mais cinco anos. Esse acordo, firmado pelo ex-presidente americano Barack Obama em 2011, cobre assuntos pertinentes ao sistemas ofensivos estratégicos dos dois países e está prestes a expirar em fevereiro de 2021.

Os Estados Unidos convidaram a China a participar do diálogo e eventualmente aderir ao acordo, porém, o país asiático manteve a sua posição de que este não é o momento para se engajar em conversas que podem colocar a China em desvantagem, já que o arsenal nuclear chinês é infinitamente menor do que os de Estados Unidos e Rússia.

Apesar da ausência da China ter incomodado os americanos, o encontro bilateral de alto nível aconteceu em um clima otimista. Foram estabelecidos grupos técnicos de trabalho para aprofundar a conversa e levá-la a uma segunda rodada até o final de julho ou início de agosto.

Do lado americano, o negociador Marshall Billingslea disse que qualquer novo acordo deve incluir todas as armas nucleares e não apenas armas nucleares estratégicas. Isso se explica porque, apesar de os Estados Unidos ser o país com o maior número de ogivas implantadas, a Rússia possui um arsenal nuclear maior.

Billingslea também deixou claro que o país insiste que a China também deve estar sujeita a restrições. "Nossa decisão final, que está nas mãos do presidente, se ele decide estender o New Start ou permitir que ele siga seu curso, será muito motivada pela medida em que progredimos, não apenas com nossos colegas russos, mas com nossos colegas chineses", afirmou o negociador americano em coletiva de imprensa.

Do lado russo, Sergei Ryabkov, o vice-ministro de Relações Exteriores, disse que a conversa com os americanos foi conduzida em uma atmosfera positiva e havia desejo de avançar, porém salientou que o tempo de negociação está acabando. A Rússia, embora acredite que seria bem-vinda a participação da China em um acordo nuclear entre as três partes, não faz questão da inclusão do vizinho no New Start e teme que os Estados Unidos usem a ausência dos chineses para colocar um fim ao tratado.

"Estamos bem cientes da posição da China, respeitamos e não vemos nenhum sinal de que a posição chinesa possa mudar na direção que os EUA desejam em uma perspectiva previsível", disse ele a repórteres em Moscou.

Outro fator que explica a posição da Rússia em relação à participação da China, de acordo com o especialista em segurança internacional Andrey Baklitskiy, é que os vizinhos desenvolveram um alto grau de cooperação em segurança, que inclui acordos de armas convencionais nas fronteiras e medidas de transparência em relação aos arsenais nucleares um do outro, além da participação de tropas chinesas em exercícios militares russos em 2018.

Ryabkov, o negociador russo, afirmou que seu país acredita que outras potências nucleares deveriam aderir a futuros acordos sobre armas nucleares, mas que a decisão de aderir deve ser voluntária. Entretanto, a Rússia parece ter mais interesse em incluir a França e o Reino Unido em acordos nucleares do que a China.

Essa primeira rodada de conversas bilaterais foi impulsionada só depois que a Rússia sinalizou que está disposta a incluir algumas de suas novas armas nucleares no New Start, como o míssil hipersônico Avangard e míssil intercontinental Sarmat. Isso se os EUA concordarem em prorrogar o tratado até 2026.

Os americanos têm interesse em colocar outras armas russas sob o tratado, como o drone subaquatico Poseidon e o Burevestnik, um novo míssil de cruzeiro. Além desses sistemas de defesa, os Estados Unidos estão interessados em limitar as armas nucleares táticas russas, armas antisatélites terrestres e satélites de "inspetores", segundo um relatório que Baklitskiy escreveu para o Center for Strategic and International Studies (CSIS), publicado em junho deste ano.

Já os russos estão preocupados principalmente com as armas táticas americanas implantadas na Europa, mas também com as ambições dos Estados Unidos no espaço.

Para Andrey Baklitskiy, essas são questões difíceis de resolver. "As partes tentaram e falharam em resolvê-las no passado e resolvê-las agora exigiria um interesse e uma disposição genuínos de aceitar compromissos de ambos os lados".

Ele acredita que, se as negociações falharem e o New Start não for renovado - embora isso não signifique um aumento imediato no número de ogivas ou lançadores implantados por ambos - a probabilidade de uma corrida armamentista no futuro será maior, porque possíveis declarações políticas quanto ao comprometimento dos países no controle da proliferação de armas nucleares não terão o mesmo peso que um acordo firmado, com limites e sistemas de verificação que permitem a transparência.

Mas se os Estados Unidos continuarem insistindo na participação da China - ou se apostarem na postura política que a gestão de Donald Trump vem adotando, de desfazer todos os acordos forjados pelo seu antecessor - as chances são de que 2021 comece sem nenhum acordo nuclear entre as duas maiores potências nucleares do planeta.

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