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Primavera árabe

Ex-aliados do ditador Mubarak e islamitas dividem egípcios

No primeiro dia de eleição presidencial histórica, eleitores demonstram incerteza sobre o futuro do país

Eleitor atira sapato no candidato a presidente Ahmed Shafiq, último premiê do ditador Hosni Mubarak e odiado pelos ativistas anti-regime | Amr Abdallah Dalsh/Reuters
Eleitor atira sapato no candidato a presidente Ahmed Shafiq, último premiê do ditador Hosni Mubarak e odiado pelos ativistas anti-regime (Foto: Amr Abdallah Dalsh/Reuters)
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Na longa fila formada logo cedo, ontem, num posto de votação de Dhoki, bairro de classe média na região central do Cairo, as preferências eram tão variadas que explicavam o clima de total indefinição em torno da eleição presidencial no Egito.

A população é conservadora na alma, mas está dividida entre candidatos seculares e islamitas e sobre a identidade que o país deve assumir.

O primeiro de dois dias de votação da primeira eleição presidencial livre de sua história praticamente não teve incidentes.

Quinze meses após o le­­vante popular que hipno­­ti­­zou o mundo e levou à que­da do ditador Hosni Mu­ba­rak, a histórica eleição se concen­­tra no duelo entre ex-­membros do regime e líde­res islâmicos.

Os favoritos no campo se­cular são o ex-chanceler­ Amr Moussa e Ahmed Shafiq, último premiê de Mubarak. Entre seus detratores os dois são conhecidos como "fulul" (remanescentes, em árabe), símbolos da antiga ordem que o levante tenta enterrar.

Odiado pelos ativistas anti-Mubarak, Shafiq foi alvo de hostilidade após votar no Cairo. Manifestantes jogaram sapatos contra ele, obrigando o chefe da seção a suspender a votação por alguns minutos. "Criminoso", gritaram. "Abaixo o regime militar".

Governada por três dita­dores militares desde sua fun­dação, em 1953, a repú­blica egípcia abre uma página cercada pelo desejo­ popular por um "pai da na­ção", desta vez manifesta­do­ num inédito processo­ democrático.

O declínio da economia no último ano e principalmente a insegurança pública sentida desde a queda de Mubarak estimulam esse desejo também entre os eleitores dos candidatos islâmicos.

Um deles, o independente Abdel Aboul Fotouh, conseguiu uma aliança improvável entre liberais e salafistas (muçulmanos ultraconservadores) e tornou-se um dos favoritos para chegar a um provável segundo turno, daqui a três semanas.

O outro candidato islami­ta mais cotado, Mohamed Mursi, conta com a lealdade de seus seguidores gerada pela formidável estrutura de assistência social da Irmandade Muçulmana, o maior movimento político do país.

A possível vitória de um candidato de orientação religiosa preocupa os liberais, principalmente depois que os islamistas conquistaram 70% do Parlamento nas eleições do início do ano.

"Se o presidente for um­ islamita haverá um de­se­qui­­líbrio que empurrará o­ Egito para um extremo re­ligioso­ que não corresponde à sua identidade natural", afirma­ o analista político Hi­sham­­ Kas­sem.

IslãReligião está no foco do debate para definição do futuro Estado

A religião se transformou em um dos principais campos de batalha da corrida eleitoral à Presidência egípcia, na qual os candidatos se definem pelo nível de islamismo que influenciará na vida política do futuro Egito.

No foco das discussões, o modelo de Estado e a separação entre religião e política entram em destaque neste país árabe conservador, cuja última Constituição estabelecia, no artigo 2, que o islã é a religião do Estado e os princípios da "sharia" (lei islâmica) são a base da legislação.

A aplicação desta Carta Magna, de 1971, ficou suspensa a partir de 13 de fevereiro de 2011, após o triunfo da revolução que pôs fim ao regime de Hosni Mubarak. Diante da falta de um marco constitucional, a postura dos candidatos presidenciais sobre o assunto adquire uma maior relevância.

"Todos os candidatos utilizam a religião para ganhar votos, mas o grau do islã que cada um pretende botar em prática ao chegar ao poder é diferente", diz o especialista em assuntos religiosos Ibrahim Ishak.

Diante do papel privilegiado da religião no debate eleitoral, os eleitores deverão resolver até que ponto o islã deve ser a referência ou não para o novo presidente que construa o novo Egito.

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