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Ex-soldado Neely relata que os detentos eram amarrados, jogados de uma lado para o outro, e espancados: suspeitos de terrorismo viviam sob ameaça constante | Joe Skipper / Reuters
Ex-soldado Neely relata que os detentos eram amarrados, jogados de uma lado para o outro, e espancados: suspeitos de terrorismo viviam sob ameaça constante| Foto: Joe Skipper / Reuters

A prisão mantida pelos Estados Unidos em Guantánamo deve ser fechada em até um ano, segundo decisão assinada pelo presidente Barack Obama assim que assumiu o poder. O local ficou conhecido pelas denúncias de abusos contra os "inimigos combatentes" presos no local, a maior parte vinda dos próprios detentos e de advogados.

Nas últimas semanas, um depoimento de um ex-soldado que atuou como guarda durante a "inauguração" do campo de detenção ajudou a esclarecer as circunstâncias em que quase 800 pessoas foram mantidas encarceradas no local.

"Não sou uma pessoa totalmente inocente em relação ao que acontecia dentro das cercas. Tenho muita vergonha de admitir e dizer que estive envolvido no primeiro episódio com uso de força no campo Raio-X (onde eram mantidos os presos e onde ocorreu a maior parte dos abusos). É algo de que tenho muita vergonha", disse Brandon Neely, que deu seu testemunho no final de 2008 ao Centro para o Estudo dos Direitos Humanos nas Américas (CSHRA, na sigla em inglês).

Neely estava há pouco mais de um ano no Exército norte-americano quando chegou à base do país na baía de Guantánamo, em Cuba, em 7 de janeiro de 2002. Quatro dias depois, ele transportou o segundo prisioneiro a ser levado para dentro da recém-criada prisão que seria usada desde então como parte da ofensiva contra o terrorismo. Foram seis meses de atuação no local, o suficiente para marcar o jovem, agora um ativista contrário à Guerra no Iraque e um crítico dos abusos cometidos contra os detentos em Guantánamo.

Ele contou que não houve nenhum treinamento para que os soldados soubessem como lidar com os prisioneiros, apenas uma explicação de como reagir caso os presos não cooperassem. O procedimento, contou, começava com um dos soldados dando uma forte pancada no detento, para derruba-lo e facilitar sua imobilização. "As celas, ou jaulas, como eu as chamava, eram pequenas. ‘Algo para se colocar um cachorro dentro’ pensava", contou.

Neely relatou a violência com que os detentos eram tratados. Amarrados, jogados de um lado para o outro, espancados. Todos viviam sob ameaça constante, e se sentiam impotentes, e frustrados. Ele contou caso de presos que achavam que iam ser executados pelos soldados quando eram levados de um lugar para o outro, e que até os médicos tratavam eles de forma violenta. "Éramos jovens e bobos, nunca questionamos nada", disse

"O que nos disseram era que iríamos ficar cara a cara com algumas das piores pessoas que o mundo poderia oferecer, e que essas eram pessoas que tinham atacado e matado tantas pessoas no nosso país", contou, dizendo que se surpreendeu quando os presos começaram a chegar no local, e que não era o que ele esperava.

"Tenho certeza de que havia e há muitos detentos em Guantánamo que são culpados de alguma coisa. Mas por outro lado há muitos que não são culpados de coisa alguma além de ter estado no lugar errado na hora errada. E ninguém, culpado ou inocente, deveria ser tratado da forma como eles foram."

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