
O vice-presidente dos Estados Unidos durante o governo de George W. Bush, Dick Cheney, pretende expor toda a frustração adquirida em relação ao ex-chefe após ele ter se convertido em um presidente mais "brando" contra a opinião pública e se distanciado de seus princípios em direção a posturas menos conservadoras, segundo reportagem publicada no "Washington Post" nesta quinta-feira (13). Em um livro, que será publicado no segundo semestre de 2011, Cheney trará à luz muito dos segredos guardados em respeito a Bush. A decepção de Cheney com o ex-presidente foi sentida recentemente, em uma das conversas informais que ele vem tendo para discutir seu livro com autores, diplomatas, analistas políticos e ex-colegas de trabalho. Cheney tem por hábito ouvir mais que falar, mas quebrou a regra quando perguntado sobre seus arrependimentos.
"No segundo mandado, ele sentiu que Bush estava se afastando dele", disse um participante das recentes reuniões, descrevendo em seguida a resposta de Cheney. "Ele disse que Bush estava preso à reação pública e às críticas que recebeu. Bush estava mais maleável a isso. O resultado é que Bush estava mais suave com ele, ou mais firme em relação aos conselhos de Cheney. Ele mostrou uma independência que Cheney não previa existir. Era claro que a doutrina Cheney era ferro fundido em todos os momentos e Bush movimentou-se em direção a uma postura mais conciliatória.
Os dois mantêm laços de respeito, conversam pelo telefone de vez em quando, apesar de assessores de ambos dizerem que eles nunca foram exatamente amigos. Mas há ressentimento nas críticas de Cheney, que vê as concessões à opinião pública como fraqueza moral. Após anos considerando Bush como um homem de ação, Cheney diz agora que o ex-presidente está mais parecido com um político comum.
O ex-vice, considerado um dos mais poderosos entre os que já passaram pela Casa Branca, orquestrou a guerra do Iraque, Guantánamo e as torturas aplicadas em diversos centros de detenção americanos. Cheney, que deu ordens à CIA, a agência de inteligência americana, para violar a lei pelo seu programa antiterrorismo, diz sentir-se frustrado com a política de final de mandato de Bush e não se arrepende de nada do que fez porque tinha a missão de salvar seu país do perigo.
Nos últimos meses, Cheney fez diversas aparições em entrevistas na televisão e assumiu o papel de porta-voz da ala conservadora do Partido Republicano. Durante mais de dois meses ele buscou uma editora para publicar sua obra, que finalmente sairá pela Threshold Editions, filiada à Simon & Schuster. A memórias de Cheney cobrirão o período como vice-presidente do governo de George W. Bush, de 2001 a 2009, assim suas atividades políticas durante os mandatos dos republicanos Richard Nixon, Gerald Ford e George H.W. Bush.
A passagem pelo setor privado também será narrada no livro, incluindo o período em que Cheney foi presidente executivo da Halliburton, prestadora de serviços petroleiros que foi uma das maiores empreiteras no Iraque após a invasão liderada pelos Estados Unidos em 2003.



