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Variáveis ocultas

Experimento na Suíça contradiz teoria de Albert Einstein

Emitindo pares de fótons - partículas de luz - ao longo de uma fibra óptica estendida entre as cidades suíças de Satingny e Jussy, cientistas do Grupo de Física Aplicada da Universidade de Genebra determinaram que um fóton chegando a um extremo da linha é capaz de reagir instantaneamente a uma manipulação realizada no parceiro que foi para o lado oposto, a 18 quilômetros de distância. Os pesquisadores calcularam que, se essa reação for resultado de uma comunicação entre as partículas, o sinal teria de viajar a, no mínimo, 10 mil vezes a velocidade da luz.

O efeito utilizado pela equipe suíça é conhecido como "emaranhamento quântico" e ocorre quando duas partículas são preparadas de forma que qualquer alteração numa delas afeta a outra instantaneamente. A velocidade 10 mil vezes superior a da velocidade da luz, determinada pelos físicos de Genebra, é o limite mínimo para que o sinal seja "instantâneo".

Nos anos 1930, o cientista Albert Einstein havia usado a possibilidade - então, apenas teórica - do emaranhamento para atacar a teoria quântica, referindo-se ao efeito como uma "ação fantasmagórica à distância". Para ele, qualquer teoria que abrisse a possibilidade de comunicação acima da velocidade da luz teria de ser, necessariamente, incompleta. Einstein não aceitava a interpretação dominante da mecânica quântica de que alguns aspectos da natureza não podem ser conhecidos com precisão, mas apenas como probabilidades.

No entanto, o emaranhamento é real. Ele já foi confirmado em vários experimentos nos últimos anos e está na base da tecnologia da computação quântica.

O experimento suíço traz mais um argumento ao debate entre as diferentes interpretações da teoria quântica. Uma das hipóteses levantadas, em oposição à idéia de que certos fenômenos só podem ser descritos como probabilidades, é a das "variáveis ocultas" - todo fenômeno teria uma descrição precisa, mas escondida. Se isso for verdade, o emaranhamento quântico só seria possível caso as partículas se comunicassem entre si, ajustando suas propriedades.

"Concluímos que o limite mínimo que estabelecemos para a velocidade da hipotética 'ação fantasmagórica à distância' é tão alto que a existência dessa ação não é plausível", diz Nicolas Gisin, um dos autores do artigo na "Nature". O físico brasileiro Marcio Cornelio, da Unicamp, concorda: "Se tal ação à distância existisse, ela teria de ser muitas vezes mais rápida que a luz, o que violaria a teoria da relatividade. Essa é mais uma evidência de que tais variáveis não devem existir".

Mas se as partículas não trocam sinais entre si, como uma partícula "sabe" que sua parceira, a quilômetros de distância, foi manipulada?

"Eu diria que as partículas simplesmente estão correlacionadas", diz Cornelio. "Não há necessidade de uma 'saber' o estado da outra e vice-versa. Existe apenas uma correlação estranha, que não pode ser descrita pela física clássica".

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