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Patricia da Silva Armani, prima do brasileiro morto no metrô de Londres, deixa o local em que concedeu uma coletiva à imprensa | Shaun Curry / AFP Photo
Patricia da Silva Armani, prima do brasileiro morto no metrô de Londres, deixa o local em que concedeu uma coletiva à imprensa| Foto: Shaun Curry / AFP Photo

A família do brasileiro Jean Charles de Menezes, morto pela polícia londrina em 2005, pediu nesta sexta-feira (12) ao governo britânico que suspenda sua política de "disparar para matar" e anunciou que vai pedir uma revisão judicial do caso.

Um porta-voz da família disse em entrevista em Londres que os advogados da família vão pedir uma revisão da ordem do juiz do caso, Michael Wright, que proibiu os jurados de dar um veredicto de "homicídio ilegal".

Nesta sexta, o júri do caso anunciou sua deliberação no inquérito que apura a morte do brasileiro, dando um veredicto "aberto" ou inconclusivo, não se pronunciando sobre a responsabilidade da polícia londrina na morte do brasileiro.

O júri também refutou a versão da polícia londrina em vários pontos de sua versão, no que foi considerado uma derrota para a Scotland Yard. Ele respondeu "não", por exemplo, à pergunta sobre se o agente da Scotland Yard que matou Jean Charles gritou as palavras "policial armado" antes de disparar, como havia afirmado à corte em seu depoimento.

Ou seja, a decisão mostra que os jurados não estão certos sobre as circunstâncias da morte de Jean Charles, baleado pela polícia durante uma ação antiterrorismo no metrô de Londres em 2005.

A família do brasileiro criticou o processo e disse que o inquérito foi uma tentativa de acobertar o caso. Em comunicado, eles acusaram o juiz Michael Wright de não ter conduzido um processo "justo e imparcial".

O júri vinha deliberando desde o dia 4. A família de Jean Charles já havia protestado contra a decisão de Wright que determinou que o júri só poderia optar por um veredicto determinando que a morte aconteceu devido a um "homicídio legal", excluindo a hipótese de "homicídio injustificado".

Isso significa que os 12 membros do júri - que durante várias semanas ouviram diversas evidências de erros cometidos pela polícia - não podiam decidir que Jean Charles foi assassinado pela Scotland Yard, como esperava a família do eletricista.

Jean Charles foi morto por policiais com sete tiros na cabeça na estação de metrô de Stockwell, sul de Londres, ao ser confundido com o terrorista Hussain Osman, um dia depois dos atentados fracassados contra o sistema de transportes londrino, e duas semanas após ataques que deixaram 56 mortos e centenas de feridos na capital inglesa.

Policiais vestidos à paisana confundiram Jean Charles com Osman, seguindo-o na rua, entrando com ele em um ônibus e depois no metrô, onde o mataram dentro de um vagão, na frente de dezenas de passageiros.

Alguns dos policiais envolvidos na operação admitiram, pressionados pelas perguntas dos advogados da família do brasileiro, que nem sequer tiveram acesso a fotografias do suspeito que acreditavam estar perseguindo.

Foi só depois de matá-lo que receberam uma foto de Osman, segundo revelado no julgamento. E, apenas 24 horas depois, perceberam o erro cometido e a morte de um inocente.

Dos 65 agentes da Scotland Yard que prestaram depoimento na investigação judicial, 49 falaram protegidos por cortinas negras - entre eles, os dois agentes que atiraram contra Jean Charles no metrô, identificados apenas como Charlie 2 e Charlie 12, "os atiradores".

O inquérito público judicial sobre o caso - igual ao que foi realizado para esclarecer a morte da princesa Diana - não constitui um julgamento comum, já que não é um processo e, portanto, não condena ninguém.

Este tipo de "investigação pública" - um procedimento jurídico específico da Inglaterra e de Gales - tem como objetivo determinar as causas de uma morte em circunstâncias violentas ou não explicadas.

Embora não resultem em uma condenação judicial, as conclusões do júri podem servir de base para outros passos legais, como reclamar que os culpados prestem contas ante à justiça se o júri tiver concluído que a morte foi um assassinato.

Até agora, nenhum policial, nem o ex-chefe da polícia de Londres, Ian Blair - que abandonou seu cargo na sexta-feira passada -, foi processado por este caso.

RepercussãoMaria Otone de Menezes, mãe de Jean Charles, que está no Brasil, disse que a família vai continuar em busca de justiça.

O chefe em exercício da Scotland Yard, Paul Stephenson, aceitou "a plena responsabilidade" da polícia londrina na morte de Jean Charles.

"A morte de Jean Charles foi uma tragédia. Era um homem inocente e devemos aceitar a plena responsabilidade por sua morte", disse Stephenson em uma breve entrevista após a divulgação do veredicto.

Já a ministra britânica do Interior, Jacqui Smith, qualificou a morte como uma "tragédia que causou grande comoção" e voltou a pedir desculpas à família. Segundo ela, o caso lembra que a polícia trabalha, à época, sob "condições extremamente exigente" por conta do combate ao terrorismo.

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