
Escobar inaugurou na Colômbia formas de terror que ainda não eram conhecidas [...]É difícil encontrar um criminoso com sua gana, suas ambições e sua megalomania.
Há pouco mais de 21 anos, no dia 2 de dezembro de 1993, chegava ao fim a carreira de um dos criminosos mais famosos e temidos da América do Sul. Em um episódio digno de filme de Hollywood, Pablo Escobar, que começou como ladrão de carros e construiu um cartel do narcotráfico na Colômbia, morreu aos 44 anos em uma ação policial. Sua trajetória já rendeu documentários e livros, o mais recente Pablo Escobar: Ascensão e Queda do Grande Traficante de Drogas, escrito pelo jornalista Alonso Salazar e lançado pela Editora Planeta. “Escobar inaugurou na Colômbia formas de terror que ainda não eram conhecidas”, afirma Salazar em entrevista concedida por e-mail à Gazeta do Povo. Para o autor, o traficante era um personagem único: cruel, ambicioso e megalomaníaco. “Seu grande poder deriva não apenas do narcotráfico, mas também da capacidade de instaurar a morte como grande ameaça para a sociedade”, resume.
Por que escolher Pablo Escobar como personagem de uma biografia?
Escobar se converteu em um personagem da história do final do século 20 na Colômbia, e em Medellín seu peso foi ainda maior. Trabalhei por anos em bairros populares [favelas] e testemunhei a influência de Escobar na vida de centenas de jovens. Pude observar como o narcotráfico transformou a vida de todos. Como jornalista, tinha obrigação de escrever sobre isso e o eixo inevitável era Escobar.
O que mais o surpreendeu nas pesquisas para o livro?
Surpreendeu-me que os que menos conheceram Escobar foram sua própria família. É comum que homens vistos como maus tenham facetas privadas contrastantes. Escobar manteve seus filhos, especialmente sua filha, em um reduto. Ali ele era outro, talvez oposto àquele que des
afiava o Estado com assassinatos . Do ponto de vista narrativo, sua figura é um desafio, e sua história, apaixonante.
O que Escobar representa hoje para os colombianos?
Sua figura foi se diluindo com o tempo. Hoje, se lembram cada vez mais de suas crueldades, das dezenas de líderes importantes da sociedade que assassinou e as milhares de pessoas que foram suas vítimas. Em nov
embro do ano passado, ele foi lembrado pela tomada do Palácio da Justiça por um grupo de guerrilheiros do M-19 com seu apoio, que resultou no abatimento de um avião em pleno voo. Sua influência na sociedade ainda é forte.
É po ssível fazer um comparativo entre a Colômbia antes e depois de Escobar?
Escobar inaugurou na Colômbia formas de terror que ainda não eram conhecidas, usadas principalmente por grupos com vocação política. É difícil encontrar um criminoso com sua gana, suas ambições e sua megalomania. O narcotráfico não acabou, a forma de corrupção e seu estilo violento continuam a influenciar. Mas a Colômbia, sem dúvida, se refaz a cada dia e suas instituições, ainda que lentamente, se consolidam.
Há quem diga que Escobar foi perseguido intensamente porque não apenas controlava o tráfico de drogas, mas
também porque ameaçava o poder. O senhor concorda?
A singularidade dele é a de um criminoso comum que desafiava o Estado. Seu grande poder deriva não apenas do narcotráfico, mas também da capacidade de instaurar a morte como grande ameaça para a sociedade. Porém, ele também se converteu em um símbolo do narcotráfico que deveria ser destruído.
Há diferentes versões sobre a morte de Escobar. Alguns dizem que ele foi morto pelo irmão de um paramilitar, outros que se suicidou. O que o senhor acha ?
Acredito que ele foi morto por traficantes rivais em conjunto com o chamado Grupo de Busca da Polícia [criado especialmente para prender Escobar] e a DEA [força-tarefa norte-americana de combate ao tráfico]. Ele conseguiu fugir da casa onde estava escondido, então não se suicidou. Quanto a quem exatamente efetuou o disparo há diferentes versões, não sei qual é a correta. Muito provavelmente vários dispararam contra ele. Era um troféu.



