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Política externa

França e Alemanha mudam relacionamento com os EUA

Sarkozy e Angela Merkel se distanciam de Moscou e se aproximam de Washington

NOVIDADE | Mauro Campos
NOVIDADE (Foto: Mauro Campos)

Paris – O Oceano Atlântico já não parece separar tanto os EUA de duas das principais potências européias. Sob o comando de Nicolas Sarkozy, eleito presidente da França em maio deste ano, a tensa relação de Paris com Washington parece ter ficado mas amigável. Prova recente são as duras críticas ao Irã, que mostram um alinhamento maior com os EUA de George W. Bush. A postura, afirmam analistas, denota uma enorme mudança em relação à França do presidente Jacques Chirac, que esteve à frente da campanha européia contra a intervenção americana no Iraque.

A Alemanha também passa por processo semelhante. Desde que assumiu o poder, em 2005, a chanceler federal Angela Merkel deu novos rumos à política externa do país, aproximando-se de Washington e adotando tom mais duro com Moscou. Especialistas alertam, entretanto, que a questão do Afeganistão pode vir a erodir a reaproximação, se a população associar um possível prolongamento da permanência das tropas alemãs no país como uma influência negativa dos EUA.

"A posição francesa em relação ao Irã sempre foi dura. Mas é verdade que com Sarkozy houve uma mudança de fundo, porque a França se diz abertamente pronta a aplicar sanções fora do quadro da ONU", diz Bruno Tertrais, da Fundação para Pesquisa Estratégica.

Tertrais prefere falar de uma "grande convergência" entre Paris e Washington no caso do Irã, em vez de uma guinada pró-americana de Sarkozy. Mas diz que se EUA e Israel decidissem intervir militarmente no Irã, Paris não condenaria a operação – o que representa enorme mudança em relação à França de Jacques Chirac, que orquestrou uma campanha internacional contra a guerra do Iraque.

"Duas coisas me parecem certas. Seja qual for o cenário, Paris não condenará a intervenção, ou seja, não teremos um cenário idêntico ao do Iraque. A segunda coisa certa é que a França não participará de tal ação militar", diz.

Já Charlotte Lepri, do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas (IRIS), acha que há certamente uma guinada pró-americana. E o caso do Irã, segundo ela, é uma clara indicação:

"Sarkozy nunca escondeu sua atração pelos EUA. Passou férias lá. É apaixonado por tudo o que se passa nos EUA e gosta do sistema americano. É evidente que há um pensamento bem mais atlantista do que se tinha com Chirac", argumenta.

No caso da Alemanha, o cientista político da Universidade de Bonn Thomas Speckmann diz o nível das relações de Berlim com os EUA é o melhor dos últimos dez anos, e acontece num momento em que o clima entre Washington e Moscou esfriou bastante, ao ponto de o nome "nova Guerra Fria"’ ser usado com freqüência pela mídia internacional.

"O abismo que separa os EUA da Rússia está ficando maior diante de alguns temas que irritam a Rússia, como o plano americano para o ingresso de mais países do leste, como a Ucrânia, na Otan, ou o projeto do sistema de defesa antimíssil. Nesse momento, as boas relações transatlânticas são importantes como um fator mediador ", afirma o analista.

Karl Heinz Kamp, analista da Fundação Konrad Adenauer, aponta como fator importante para a redescoberta da importância dos EUA a observação de como a Rússia faz tudo para voltar a ser a superpotência militar.

"A política alemã viveu nos últimos anos um dilema. De um lado, não podia ignorar a Rússia, por sua dimensão geográfica e seus recursos energéticos. Por outro lado, Berlim começou a observar como o Putin foi transformando aos poucos seu país em Estado autocrático com o objetivo de fazê-lo voltar a ser uma superpotência", afirma.

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