
Enfrentando queda na popularidade, o presidente francês, Nicolas Sarkozy, foi o alvo principal ontem da maior greve geral organizada durante seu mandato. A paralisação, de um dia, foi convocada em todo o país para protestar contra a reforma da Previdência.
O protesto teria mobilizou entre 2,5 milhões e 3 milhões de pessoas, segundo os sindicatos, e mais de 1 milhão, de acordo com o Ministério do Interior.
A greve afetou principalmente o setor público, com perturbações na rede de transporte, escolas, correios, meios de comunicação e aeroportos. Superou a última greve geral, em 24 de junho.
Os protestos são mais um ataque à popularidade de Sarkozy, que enfrenta escândalos de corrupção em seu governo e é criticado por medidas populistas adotadas para tentar estancar a perda de aprovação, como a expulsão de ciganos e a ameaça de revogar a cidadania de pessoas que ataquem policiais.
O presidente francês terá agora que resolver uma equação delicada: como manter o pulso firme sobre a reforma, uma das prioridades de seu mandato, sem fechar os olhos para a mobilização de ontem.
A reforma
O pano de fundo da mobilização é a necessidade de reduzir despesas após a crise econômica que eclodiu há dois anos. A espinha dorsal do projeto prevê passar de 60 para 62 anos a idade mínima legal para a aposentadoria na França.
A reforma tem o objetivo de equilibrar as contas da Previdência até 2018 e evitar um rombo que poderia chegar, segundo o governo, a 45 bilhões de euros (R$ 100 bilhões) em 2020. A França é hoje um dos países da Europa com a idade mínima mais baixa para obter a aposentadoria.
Apesar de cantar vitória, os sindicatos sabem que a forte participação na greve geral não será suficiente para fazer recuar o presidente.
Ao defender o projeto na Assembleia Nacional, o ministro francês do Trabalho, Eric Woerth, disse que o aumento da idade mínima legal é "indiscutível".
Os sindicatos esperam, entretanto, concessões em outros pontos do projeto, entre eles a garantia de aposentadoria especial para profissões insalubres e a manutenção da idade para obter a aposentadoria integral, que o governo quer passar de 65 para 67 anos.
O secretário-geral da Confederação Geral do Trabalho (CGT), Bernard Thibault, diz que, se o governo não reagir, acenando para mudanças no projeto, haverá novas greves.
Pesquisas de opinião mostram que dois terços dos eleitores acham que a proposta de Sarkozy de aumentar a idade de aposentadoria é injusta e apoiam o protesto, mas dois terços também acham que as greves não farão nenhuma diferença.
Apesar da grande participação, alguns reclamam dos problemas causados. "Estou farta destes preguiçosos", reclamou Virginie, 25, estudante.
Face à mobilização, o governo poderá fazer alguns acenos. Hoje, o presidente Sarkozy deve se pronunciar sobre o assunto, de acordo com anúncio feito por Woerth.



