
O governo da França indenizará vítimas dos cerca de 210 testes nucleares realizados pelo país entre 1960 e 1996 na parte argelina do deserto do Saara e na Polinésia Francesa, disse nesta terça-feira (24) o ministro da Defesa, Hervé Morin. Segundo o governo, 150 mil pessoas, entre trabalhadores civis e militares, receberão compensações financeiras pelos danos sofridos. É a primeira vez que o país reconhece formalmente uma ligação entre as explosões e doenças que atingiram soldados e civis.
O governo francês já teria alocado ao menos 10 milhões de euros para as despesas com as indenizações. Segundo o ministro, uma comissão independente, composta por médicos e presidida por um magistrado, analisará cada caso de demanda por reparação. Ela seguirá uma lista da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre doenças relacionadas à radiação, como leucemia e câncer de tiróide e de seio. O ministro da Defesa disse que a França conduziu os testes da forma mais segura possível e que o país precisava deles para se tornar uma potência nuclear.
"Treze anos após o fim dos testes no Pacífico, é o momento para nosso país estar em paz consigo mesmo, graças a um sistema de compensação e reparação dos danos sofridos", disse Morin em uma entrevista coletiva, que explicou como funcionará o sistema. "Ao contrário do que acontecia até agora, o requerente não terá que provar a relação de causalidade entre a exposição às radiações e sua doença."
Segundo o ministro, as recompensas não serão restritas a militares e poderão ser pagas a cidadãos de qualquer nacionalidade. Ele disse ainda que as autoridades francesas evitaram tratar da questão durante anos porque acreditavam que "abrir a porta às compensações representaria uma ameaça para a manutenção de uma força dissuasória nuclear crível".
Os últimos testes foram realizados durante o primeiro mandato do ex-presidente Jacques Chirac. Alguns veteranos que participaram dos testes afirmam que eram orientados a cobrir os olhos, mas não usavam qualquer proteção.



