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Tecnologia

Genoma humano a US$ 1 mil

Novos sequenciadores, que usam semicondutores, permitem decodificar o DNA mais rápido e a baixo custo

 | Ilustração: Robson Vilalba
(Foto: Ilustração: Robson Vilalba)

O inventor de uma nova máquina que decodifica o DNA através de semicondutores a utilizou para mapear o genoma de Gor­­don Mo­ore, cofundador da Intel, a líder de mercado em processadores.

O inventor, Jonathan Roth­­berg, da Ion Torrent Systems, do estado de Connecticut, aposta em um projeto para reduzir a apenas US$ 1 mil o preço de ler os 3 bi­­lhões de "letras" do genoma hu­­mano. Ele diz ser capaz de alcançar esse objetivo em 2013, graças às rápidas melhorias que sua máquina tem sofrido.

"Gordon Moore descobriu to­­dos os truques que nos deram os semicondutores modernos, logo ele deveria ser o primeiro a ser ma­­peado num semicondutor," diz Rothberg.

A nova máquina de decodificação de DNA, chamada Ion Per­­sonal Genome Machine (PGM), cus­­ta hoje US$ 49,5 mil, valor inferior ao de seus vários rivais.

Fabricantes estão numa corrida para reduzir os custos de mapeamento de DNA até o ponto em que o genoma humano possa ser decodificado por US$1 mil. Nesse preço, os entusiastas das novas tecnologias afirmam que o mapeamento genético poderá se tornar rotina na prática médica.

Revelações

Mas o mapeamento do genoma de Moore também enfatiza o quan­­to a tecnologia conseguiu ultrapassar a habilidade de interpretação da informação que ela gera.

O genoma de Moore tem uma variante genética que denota "uma chance de 56% de olhos castanhos", uma que indica uma "quantidade típica de sardas" e outra que confere "chances moderadamente mais altas de sentir cheiro de aspargo na urina", relataram Rothberg e seus colegas nesta semana na revista Nature. Há também duas variantes genéticas no genoma de Moore supostamente associadas com "risco maior de retardo mental" – um risco que, evidentemente, jamais se concretizou. O valor clínico da informação genômica parece estar muito próxima de zero.

Rothberg diz concordar que há poucos genes, no presente, que portam informações genéticas úteis e que levará uma busca de 10 a 15 anos para realmente se compreender o genoma humano. No mo­­men­­to, essa máquina é especializada na análise de quantidades muito menores de informações, co­­mo o punhado de genes altamente ativos na formação de cânceres.

A máquina Ion Torrent requer duas horas para mapear o DNA, embora a preparação das amostras demore mais tempo. Os primeiros dois genomas das bactérias letais E. coli que varreram a Europa na primavera foram decodificadas nas máquinas da empresa de Roth­­berg.

Os primeiros métodos de mapeamento de DNA dependiam de radioatividade para marcar as quatro unidades diferentes que formam o material genético, mas, conforme o sistema foi mecanizado, os engenheiros a substituíram por produtos químicos fluorescentes. O novo aparelho é o primeiro sistema comercial a decodificar o DNA diretamente num chip semicondutor e a trabalhar com detecção de mudança de voltagem, em vez de iluminação.

Pioneiro

Vários anos atrás, Rothberg in­­ventou uma das primeiras má­­quinas de mapeamento de DNA, chamada de 454, que foi usada para mapear o genoma de James Wat­­son, o codescobridor da es­­trutura do DNA. Rothberg conta que ele descreveu como a máquina "lia" o DNA de Watson ao seu filho pequeno, Noah, que pergun­­tou porque ele não inventou uma máquina capaz de ler mentes.

Rothberg diz que começou sua pesquisa com a ideia de fazer um chip semicondutor que pu­­desse detectar um sinal elétrico passando por uma fatia de tecido neural. Ele, então, percebeu que o aparelho que havia desenvolvido era mais apropriado para ma­­pear DNA.

George Church, um tecnólogo em genomas da Faculdade de Me­­dicina de Harvard, estimou o custo do mapeamento do genoma de Moore em cerca de US$ 2 milhões. Isso já foi uma melhoria sobre o custo de US$ 5,7 milhões em 2008 para mapear o genoma de Watson na máquina 454, mas não tão bom quanto os US$ 3,7 mil gastos pela Complete Genomics para ma­­pear o genoma de Church e outros em 2009.

Rothberg afirma que ele já havia reduzido o preço de seus chips de US$ 250 para US$ 99, e hoje poderia mapear o genoma de Moore por cerca de US$ 200 mil. O inventor se baseia na "Lei de Mo­­ore" – segundo a qual a capacidade de processamento dos computadores dobra a cada dois anos, em média – para concluir que são inevitáveis as futuras reduções do custo do chip de mapeamento de DNA.

Tradução: Adriano Scandolara

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