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O último líder soviético, Mikhail Gorbachev, que morreu nesta terça-feira em Moscou aos 91 anos
O último líder soviético, Mikhail Gorbachev, que morreu nesta terça-feira em Moscou aos 91 anos| Foto: EFE/EPA/STRINGER

A morte de Mikhail Gorbachev nos faz lembrar da contingência e da complexidade moral da história e, ainda, da necessidade de clareza moral. Gorbachev era um tirano, elevado ao poder em um sistema tirânico, governando milhões que não queriam ser governados por ele e não podiam opinar sobre isso.

Seu império cobria quase metade do mundo, de Berlim a Vladivostok. Ele procurou reformar essa tirania, a fim de torná-la mais poderosa e eficaz. Se ele tivesse recebido a ajuda que a história deu a Leonid Brezhnev, poderia muito bem ter tomado as mesmas decisões. Sua resposta ao desastre nuclear de Chernobyl foi longe de admirável.

Mas mesmo assim, Gorbachev tornou seu país mais livre política e economicamente, e ele se mostrou disposto a fazer as pazes com os Estados Unidos em termos realistas a respeito da sua posição de fraqueza, em vez de cair na toca do coelho da negação beligerante que caracterizou tantos tiranos.

No final, ele deixou o poder de forma relativamente pacífica, como presidente em meio ao colapso menos sangrento de um império tirânico na história mundial. Viveu até uma idade avançada em um mundo que se tornou muito melhor sem aquele império.

Em sua época, ele foi aclamado como o verdadeiro herói do fim da Guerra Fria. A revista Time o escolheu como “Homem da Década” de 1980, um dos mais embaraçosos “gorbasmos” [termo irônico que descreve o carinho de liberais americanos por Gorbachev] da mídia. Temos distância suficiente agora para reconhecer que seus adversários tiveram muito mais a ver com a forma como as coisas terminaram: Ronald Reagan acima de tudo, mas com a ajuda de Margaret Thatcher, papa João Paulo II, Lech Walesa, Helmut Kohl, George H. W. Bush e outros.

Mas não devemos nos ressentir. O fato mais importante de todos é que, nas questões mais importantes de sua carreira, Gorbachev escolheu os caminhos de menos conflito, menos derramamento de sangue e mais abertura. Foram decisões de Estado que exigiram prudência, coragem, realismo inabalável e até certa dose de humildade. Por isso, a história deve se lembrar dele com carinho, não como um vencedor, mas como um homem que aceitou a derrota com elegância. Descanse em paz.

Dan McLaughlin é articulista sênior da National Review online e membro do National Review Institute

© 2022 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês.

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