
Nas profundezas das florestas dominadas por rebeldes na República Democrática do Congo, em uma área distante do último confronto nesta nação do centro da África, um selvagem gorila de 200 quilos serenamente come talos de bambu que retira da terra úmida e escura.
Sua "mulher" grávida se dependura no topo de uma árvore. Perto dali, outro gentil símio ginga nas quatro patas sobre uma folhagem verde, com um bebê de 3 meses de idade se equilibrando precariamente em suas costas.
As cenas primordiais são uma rara janela em direção às vidas de alguns dos últimos gorilas da montanha. Elas mostram um hábitat às margens de uma zona de guerra, que até agora tem sido monitorado por combatentes renegados que ficaram para trás quando rebeldes tomaram controle dessas florestas, no fim de 2007.
Agora, um acordo entre os insurgentes e a administração do presidente Joseph Kabila abriu caminho para que a equipe, que fugiu do confronto e da ocupação rebelde, retorne ao setor dos gorilas, no Parque Nacional Virunga, pela primeira vez em 15 meses.
"Nós estamos extremamente satisfeitos com o fato de que todos os lados desse conflito aceitam a importância de se proteger o setor de gorilas de Virunga", disse Emmanuel de Merode, o diretor belga do parque e principal impulsionador do acordo. "A pesquisa nos dará uma avaliação precisa dos gorilas da montanha do Congo e de como eles têm sido afetados pela guerra."
O Congo ganhou as manchetes pelo mundo nas últimas semanas por causa da explosão de um confronto em agosto, entre as forças do governo e os rebeldes liderados por Laurent Nkunda. O conflito levou a uma catástrofe humanitária que forçou mais de 250 mil pessoas a deixarem suas casas.
Ironicamente, os últimos confrontos podem ter sido algo bom para os gorilas. Anteriormente, a linha de combate se estendia diretamente no hábitat dos símios. Mas em outubro, os rebeldes avançaram dezenas de quilômetros, basicamente tornando a área mais segura para os animais.
Ao longo do ano passado, as forças do governo várias vezes instalaram morteiros e lançadores múltiplos de foguetes em uma rodovia principal agora controlada pelos rebeldes que corta o parque. Com as armas eles disparavam contra as posições rebeldes nas montanhas. Na época um repórter presenciou colunas de fumaça emergindo dos declives com florestas do vulcão Mikeno, não muito distante de onde vivem os macacos.
"Eles estavam lançando bombas no parque, destruindo as florestas e o hábitat natural dos gorilas", disse Pierre-Canisius Kanamahalagi, identificado como o encarregado dos rebeldes para assuntos do parque.
Sobraram apenas cerca de 700 gorilas da montanha no mundo. Estima-se que 190 deles vivam ao redor do vulcão Mikeno.



