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Presidente da Argentina, Mauricio Macri, se depara com a terceira greve dos transportes contra as políticas econômicas adotadas pelo seu governo | Beto BarataPR
Presidente da Argentina, Mauricio Macri, se depara com a terceira greve dos transportes contra as políticas econômicas adotadas pelo seu governo| Foto: Beto BarataPR

Se contava com o bom desempenho da seleção da Argentina na Copa do Mundo para desviar a atenção da desvalorização do peso em 30%, da inflação que não abaixa, do trauma no orgulho nacional de ter ido bater na porta do FMI (Fundo Monetário Internacional) e do corte das projeções de crescimento econômico pela metade, o presidente Mauricio Macri estava enganado. 

Não houve dribles de Lionel Messi que o ajudassem. Ao contrário, o time foi derrotado pela Croácia na quinta (21) e no dia seguinte os argentinos faziam dois tipos de cálculo: se o dólar fecharia a menos de 28 pesos (ficou perto disso) e de que resultados o time do técnico Jorge Sampaoli precisará para continuar vivo no Mundial. 

Assim como o comandante da seleção, Macri precisa de sorte, mas também de decisões acertadas, principalmente depois de 25 de abril, quando as coisas saíram do controle. O dólar disparou, as metas de inflação projetadas se mostraram irreais e diversos sindicatos começaram a marcar suas greves. 

Nesta segunda-feira (25), à meia noite, o setor de transportes iniciou uma greve - a terceira contra a administração de Macri. Segundo o jornal argentino Clarín, espera-se que a paralisação tenha uma grande adesão, já que trens, ônibus e metrô não vão funcionar, pressionando outros setores como comércio e educação a pararem também. 

A principal reclamação das associações é que as negociações salariais, realizadas em abril e que decidem o teto dos aumentos no ano, foram feitas tendo em conta o cálculo do governo de que a inflação seria de 15% ao final do ano. Agora, nem economistas independentes nem ministros da área econômica pensam mais dessa maneira. Dificilmente ela será de menos de 20%, mantendo-se como a segunda maior da região, daquela da Venezuela em crise - que deve registrar 13.000% de inflação em 2018, segundo o serviço de informações financeiras Bloomberg.

Problemas políticos

Eis que surgem, então, os problemas políticos. Macri tenta convencer a população de que o acordo com o FMI é bom, que comparações com a crise de 2001 não cabem porque a conjuntura é diferente e de que o governo está seguro de suas decisões para ajustar-se aos requisitos do fundo. 

Logo depois, porém, ocorrem episódios que deixam parte da sociedade ressabiada ou perplexa. Por exemplo, um dia Macri apareceu na TV com o então ministro da Produção, Francisco Cabrera, ensinando a população a adotar as lâmpadas LED, que gastam menos energia. Cabrera assegurava que elas sairiam por um preço acessível. Dias depois, foi demitido.

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Mais adiante, surgiram na televisão o ministro da Fazenda, Nicolás Dujovne, ao lado do então presidente do Banco Central, Federico Sturzenegger. Diziam ser possível reduzir o déficit fiscal, um dos pedidos do FMI, e já ter um plano que não afetaria os mais pobres. Poucos dias depois, Sturzenegger era quem se despedia do governo. 

Essas mudanças repentinas causaram insegurança na população. A aprovação de Macri, de 58% após as eleições legislativas de outubro, caiu para 35%. O que preocupa mais o gabinete, segundo a reportagem apurou, é a mudança de comportamento do Congresso. 

Desde o início do governo, em dezembro de 2015, Macri não tem maioria no Parlamento. Obteve mais vagas em 2017, mas ainda assim, precisa se apoiar na ala à direita do peronismo para aprovar leis. 

O grupo lhe vinha sendo leal, pois preferia Macri a Cristina Kirchner, à esquerda. 

Essa frágil aliança se quebrou em maio quando o peronismo votou unido para frear um novo tarifaço, que elevou as contas de gás, eletricidade e transporte em até 50%. O presidente foi obrigado a vetar a decisão, gesto visto como autoritário e desrespeitoso. 

Depois, veio a votação na Câmara sobre a lei do aborto que, apesar de não agradar a Macri, foi aprovada. Pressionado, o presidente diz que o texto não será vetado se passar no Senado. O episódio, porém, mostra que ele já não tem controle sobre aquela Casa. 

"Caiu o dogma de que a reeleição de Macri em 2019 era uma coisa certa", diz o analista político Carlos Pagni. 

E é com esse cenário que o presidente terá de lidar, com pelo menos um fator de alívio para o campo macrista: o fato de a oposição ainda não ter um rival forte para desafiá-lo nas eleições do ano que vem. 

A instabilidade financeira, porém, voltou a deixar o país em suspense. Se Macri afirmava que o dinheiro do FMI seria para dar segurança às reformas, isso já foi quebrado na última semana, quando os primeiros US$ 15 bilhões do fundo foram usados para baixar o valor do dólar. 

O governo teve uma boa notícia na quinta quando o Morgan Stanley Capital International (MSCI) reclassificou a Argentina como mercado emergente. Dujovne saiu animado para dar a notícia, dizendo que isso traria mais investimentos, promessa de Macri que até hoje não se cumpriu.

Greve cancela voos

As companhias aéreas Azul, Latam e Aerolíneas Argentinas cancelaram os voos desta segunda-feira (25) com origem e destino em aeroportos da Argentina devido à greve de transportes contra o presidente Mauricio Macri.

Não haverá voos domésticos na Argentina. A Azul cancelou seus voos que saem de Belo Horizonte e da cidade de Navegantes (em Santa Catarina) para a capital argentina e também os voos que deixariam Buenos Aires em direção à capital mineira. 

No caso das viagens internacionais da Latam, estão cancelados voos de São Paulo, Rio, Brasília e Recife para Buenos Aires e da capital paulista para Rosario, Córdoba e Tucumán. 

Já a Aerolíneas Argentinas não voará de Buenos Aires para São Paulo, Rio, Porto Alegre e Curitiba. A Gol, que também opera no país vizinho, não informou a situação de seus voos até a publicação deste texto. 

A Azul pede que os passageiros entrem em contato pelos telefones 4003-1118 (nas capitais brasileiras), 0800-887-1118 (nas demais cidades do Brasil) e +54 11 5984-5178 (na Argentina) para mais detalhes e para a remarcação de passagens. 

A Latam recomenda seus passageiros que remarquem por meio de seu site, lojas ou pelo telefone 4002-5700 (nas capitais brasileiras), 0300-570-5700 (nas demais localidades do Brasil) e 0810-9999-526 (na Argentina). A empresa dá a opção de alterar a data sem multas para embarque em um período de 15 dias a partir de segunda e o reembolso gratuito do bilhete ou mudança de rota e de data para além dos 15 dias com diferença tarifária. 

No caso da Aerolíneas Argentinas, os passageiros também terão direito a reembolso e reprogramação gratuita de seus voos em 15 dias no site e nos telefones 0810-222-86527 na Argentina e 0800-761-0254 no Brasil.

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