São Paulo (Folhapress) Depois de a ONU (Organização das Nações Unidas) e o Parlamento Europeu pedirem o fechamento da base americana de Guantánamo, em Cuba, devido a acusações de maus-tratos de prisioneiros, os Estados Unidos disseram que não vão atender à solicitação, alegando que os prisioneiros citados são "terroristas perigosos".
O pedido de fechamento imediato de Guantánamo foi feito na quinta-feira. Investigações de grupos independentes de direitos humanos apontam que os cerca de 500 prisioneiros (de 35 nacionalidades) detidos no local muitos deles sem nenhuma acusação formal há mais de quatro anos devem ser julgados por um tribunal independente. "A prisão deve ser fechada mais cedo ou mais tarde", disse Kofi Annan, secretário-geral da ONU.
Na última segunda-feira, o esboço de um relatório de 54 páginas da Comissão de Direito Humanos da ONU sobre os prisioneiros mantidos na base de Guantánamo mostrou que os EUA cometeram maus-tratos e infringiram leis de direitos humanos.
De acordo com o relatório, os EUA aplicariam técnicas exageradas no tratamento dos detentos, como confinamento solitário extenso e exposição dos detentos a temperaturas, iluminação e barulho extremos, além de obrigá-los a fazer a barba, entre outras ações que exploram crenças religiosas ou causam intimidação e humilhação. Tudo isso, segundo a ONU, constitui tratamento desumano e, em alguns casos, alcança limites que determinam tortura.
As denúncias do relatório podem acirrar ainda mais a já comprometida opinião dos países muçulmanos a respeito da conduta dos EUA em relação a prisioneiros, principalmente depois que uma rede de tevê da Austrália divulgou, nesta semana, imagens inéditas (que teriam sido vistas apenas pelo Congresso dos EUA) sobre as torturas e abusos cometidos por soldados americanos na prisão de Abu Ghraib, no Iraque, em 2003.
Em uma de suas declarações a respeito do fechamento de Guantánamo, o porta-voz da Casa Branca, Scott McClellan, disse que os prisioneiros da base são "terroristas perigosos". "Já falamos desse assunto antes, e nosso ponto de vista não mudou", afirmou McClellan, acrescentando que o relatório da Comissão de Direitos Humanos da ONU, elaborado por cinco especialistas, representa apenas uma "repetição" de denúncia feitas anteriormente, "plantadas" por advogados de alguns dos detentos.
O porta-voz da Casa Branca disse ainda que os militares americanos oferecem tratamento humano aos prisioneiros de Guantánamo, e afirmou que os especialistas da ONU nunca chegaram a visitar a prisão, questionando os relatos da comissão.
Inspetores da ONU tentaram fazer visitas às instalações de Guantánamo no ano passado, mas desistiram após Washington proibir que eles falassem livremente e em particular com os prisioneiros.



