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Bandeiras da Ucrânia em cemitério em Kharkiv, no nordeste do país, onde foram enterrados soldados mortos na guerra com a Rússia
Bandeiras da Ucrânia em cemitério em Kharkiv, no nordeste do país, onde foram enterrados soldados mortos na guerra com a Rússia| Foto: EFE/EPA/PAVLO PAKHOMENKO

Nesta sexta-feira (24), a invasão à Ucrânia promovida pela Rússia, que alegou os objetivos de proteger “russos étnicos” no leste ucraniano e de “desnazificar” e “desmilitarizar” o país vizinho, completa um ano e ainda não é possível ter qualquer perspectiva de solução num futuro breve.

Os dois países envolvidos no maior conflito militar em solo europeu desde a Segunda Guerra Mundial não tiveram grandes vitórias no campo de batalha nas últimas semanas e conversas sobre paz, como as que ocorreram nas primeiras semanas após a invasão russa, não são sequer cogitadas. Isso porque os dois lados fazem exigências para se sentar à mesa que o outro considera inaceitáveis.

“Infelizmente, não vejo possibilidade de retomada de conversações de paz no curto prazo. Isso porque as condições mínimas para a celebração da paz, de cada um dos lados, são irreconciliáveis. De um lado, a Ucrânia exige que a Rússia se retire do seu território. De outro, a Rússia não aceita essa condição, tendo até mesmo incorporado as quatro províncias invadidas [Donetsk, Luhansk, Kherson e Zaporizhzhia] ao território russo. Não estão colocadas, portanto, condições mínimas de negociação”, apontou o analista Paulo Roberto da Silva Gomes Filho, coronel da reserva do exército brasileiro e mestre em ciências militares pela Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (Eceme).

Ao mesmo tempo, uma vitória de um dos lados também não aparenta se tornar realidade tão cedo. Na segunda-feira (20), quando o presidente americano, Joe Biden, visitou em Kiev seu homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky, este afirmou que espera que “2023 seja um ano de vitória”.

Na ocasião, Zelensky agradeceu pelo envio de tanques pelos aliados do Ocidente e pelo sistema de defesa antiaérea Patriot cedido pelos americanos, e voltou a cobrar armas de maior alcance, um dos principais pedidos de Kiev, ao lado de aviões de combate.

Analistas militares apontam, porém, que os tanques (cujo número exato não foi confirmado, mas projeta-se que sejam mais de cem) ainda devem demorar para chegar – os primeiros devem ser disponibilizados para as forças de Kiev a partir do final de março.

“Precisamos de ajuda para ontem e ela nos é prometida para amanhã. A diferença entre ontem e amanhã é a vida do nosso povo”, disse um alto funcionário do governo ucraniano à CNN.

“O envio dos carros de combate para a Ucrânia é uma ajuda importante para o esforço de guerra do país, especialmente se se confirmarem as previsões de que o exército do país passe a uma contraofensiva com o objetivo de tentar expulsar os russos de seus territórios”, explicou Gomes Filho. “Some-se a isso o fato de serem carros modernos, superiores aos congêneres russos, o que aumentará a vantagem ucraniana nesse quesito específico.”

O analista militar apontou que acredita que o Ocidente enviará também os caças reivindicados pelos ucranianos, mas que “não se pode subestimar o exército russo” e que a chegada de mais essa ajuda não é garantia de um triunfo rápido para Kiev.

“Esses materiais e meios militares não são suficientes para garantir a vitória ucraniana que, para acontecer, dependerá de muitos outros fatores, não só no campo militar, mas também político, econômico e psicossocial”, justificou Gomes Filho.

Impasse russo

A Rússia, por sua vez, também enfrenta um impasse no campo de batalha, com dificuldades para manter e ganhar terreno nos últimos meses. A partir do outono europeu, o Kremlin havia apostado em duas armas. A primeira era o jogo político com as exportações de energia, cujo aumento de preços Moscou julgou que faria esfriar o apoio da Europa ocidental durante o inverno.

A segunda foi realizar ataques à infraestrutura ucraniana, especialmente de energia, para gerar dificuldades à população que forçassem Kiev a negociar. A menos de um mês do fim do inverno na Europa, esses resultados não se concretizaram.

“Certamente não vieram, e não virão mais nesse inverno. A estratégia russa de forçar um aumento de preços da energia na Europa que causasse tanta insatisfação entre a população que motivasse um movimento contra a guerra não funcionou. Os preços não subiram o esperado e o apoio da população europeia à Ucrânia se mantém em alto patamar. Da mesma forma, os ataques à infraestrutura ucraniana, apesar de penalizarem muito a população, não foram capazes de diminuir a vontade ucraniana de lutar”, destacou Gomes Filho.

A Rússia planeja outra grande ofensiva a partir do final de março, e num pronunciamento às forças armadas nesta quinta-feira (23), o presidente Vladimir Putin anunciou novos investimentos em armas nucleares e hipersônicas.

“Amigos, nosso povo acredita em vocês, defensores da Rússia, na sua confiabilidade, determinação e devoção à pátria e ao juramento. Milhões de pessoas estão seguindo seus corações ao ajudarem nossos soldados da linha de frente, e essa unidade inquebrantável é a chave para nossa vitória”, afirmou.

A julgar por essa retórica, a paz está tão distante na Ucrânia quanto estava nas primeiras horas de 24 de fevereiro de 2022.

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