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Radiação

Heróis têm sentença de morte

Para especialistas em medicina nuclear, trabalhadores que tentam evitar uma catástrofe em Fukushima vão sofrer sequelas na saúde

Imagem de satélite mostra a usina de Fukushima danificada depois do terremoto seguido de tsunami do último dia 11 | Vasily Fedosenko/Reuters
Imagem de satélite mostra a usina de Fukushima danificada depois do terremoto seguido de tsunami do último dia 11 (Foto: Vasily Fedosenko/Reuters)
Casa abandonada na zona de exclusão no entorno da usina de Chernobyl |

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Casa abandonada na zona de exclusão no entorno da usina de Chernobyl

Eles já foram alçados à condição de heróis nacionais no Japão. São cientistas, engenheiros, físicos, bombeiros e militares que, enclausurados num ambiente completamente comprometido, tentam evitar o desastre total na usina nuclear de Fukushima, a mais afetada pelo terremoto seguido de tsunami do último dia 11. Todo o sacrifício pode ter um preço alto: a própria vida.

"Eu acredito que esses trabalhadores estão condenados. Se viverem alguns anos, vai ser muito", avalia Ricardo Goulart, físico-médico especialista em radioterapia do Hospital Angelina Caron. "Eles certamente vão sofrer da chamada síndrome aguda da radiação, quando uma pessoa fica exposta a um nível muito alto mesmo num intervalo de tempo pequeno. De imediato, é bem provável que sofram náuseas e tenham diminuição de leucócitos no sangue. Às vezes, chegam à morte em semanas."

O pessimismo é compartilhado por Bianca Maciel, supervisora de radioproteção em medicina nuclear do Hospital São Paulo. "Com certeza eles estão muito sujeitos aos efeitos biológicos da radiação, como o câncer por exemplo", afirma. "Na minha área, a gente já considera que eles vão ter esses efeitos."

Para o especialista em física nuclear e professor da Universida­­­de Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) Sergei Paschuk, ainda não é possível fazer qualquer avaliação nesse sentido (leia no texto abaixo).

Até pelo próprio isolamento da área, são escassas quaisquer informações precisas sobre a operação na usina. A princípio, 50 homens foram designados para impedir o vazamento de material radioativo à atmosfera, o que causaria uma catástrofe de proporções incalculáveis. Dias depois, o número passou a 180. O real esquema de revezamento a que são submetidos também não é claro.

De concreto, o governo japonês informou que os níveis de radiação a que os técnicos estavam expostos chegava ao equivalente a 16.000 radiografias de tórax – ou 8 sieverts por hora, que é a unidade de medida para a quantidade de radiação absorvida. Com a absorção de 0,05 sievert, por exemplo, já ocorrem mudanças nas células sanguíneas. Com 0,75, o cabelo pode cair. A partir de 4 sieverts, o risco é de morte.

"Não tem como falar que os trabalhadores de Fukushima não estão sujeitos à radiação. As roupas de chumbo que usam atenuam os efeitos, mas não blindam totalmente. Imagine uma lâmpada muito forte. Se você colocar um tecido na frente dela, a luz pode enfraquecer um pouco, mas ainda vai passar ", compara Bianca Maciel. "Se os técnicos fossem usar uma roupa que os deixasse 100% seguros, eles sequer conseguiriam sair do lugar por causa do peso, de tanto chumbo."

O físico-médico Ricardo Goulart lembra ainda que mesmo quem fica exposto a níveis baixos de radiação pode desenvolver doenças. "Nesse caso, a gente fala em probabilidade de ocorrer uma mutação das células e o consequente aparecimento de tumores." Em Hiroshima e Nagasaki, as cidades devastadas por bombas atômicas lançadas pelos EUA, pessoas desenvolveram câncer muitos anos depois dos ataques, recorda.

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