
O pai de seu José que recebeu o nome brasileiro do padrinho em Ortigueira porque ninguém sabia ronunciar "Nobuaki", trouxe a família ao Norte do Paraná em 1954 não por falta de comida, como outros imigrantes, e sim por falta de oportunidades. "O pai achou que nosso futuro era melhor no Brasil", diz o sobrevivente da bomba de Hiroshima, referindo-se a ele e aos dois irmãos.
E as seqüelas? Nem ele, nem a mãe, Misako, desenvolveram qualquer doença ligada à radiação. Já instalados em Curitiba, para onde se mudaram na década de 1980, o irmão que estava por nascer naquele trágico 6 de agosto desenvolveu diabete e pressão alta, motivo pelo qual recebe R$ 700 do governo japonês.
Misako e seu José também recebem uma indenização como vítimas da bomba, condição que conseguiram quando José trabalhou no país natal por quatro anos e foi atrás do benefício. Ele exibe com orgulho a carteirinha onde consta a distância a que ele estava do epicentro da explosão: 2 km. Mais perto desse raio, muitos morreram completamente vaporizados.
A maioria dos cerca de 130 sobreviventes de Hiroshima que moram no Brasil recebe indenização no valor de US$ 250 (R$ 390) válida até a geração que estava em gestação em 1945. Mas alguns ainda estão em litígio com o governo japonês, porque só em junho foi abolida a exigência feita a emigrados de viajar ao Japão para requerer o benefício.
Na última quinta-feira, a Corte de Hiroshima condenou o Estado japonês a pagar 1,65 milhão de ienes (R$ 24 mil) aos parentes de dois imigrantes japoneses que já morreram no Brasil.
Apesar de lutarem por esse direito, muitos "hibakushas", como são chamados os sobreviventes, esconderam sua condição até a década de 1990, por medo do preconceito relacionado à transmissão genética da radiação. "O próprio presidente da Associação de Sobreviventes da Bomba Atômica no Brasil só revelou seu passado depois de casar os filhos", conta o professor de História Jayme Ribeiro. A associação foi criada em 1984.
"Há famílias que não sabem a dimensão da tragédia que envolveu seus antepassados", diz a professora de História da Universidade de São Paulo Maria Luiza Tucci Carneiro. Para ela, a história é escondida "mais pelo trauma e medo de que a situação possa um dia voltar", e medo do preconceito.



