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Secretária de Estado americana afirmou que Brasil e Estados Unidos possuem divergências muito sérias quanto ao Irã | AFP
Secretária de Estado americana afirmou que Brasil e Estados Unidos possuem divergências muito sérias quanto ao Irã| Foto: AFP

A secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, disse que os Estados Unidos e o Brasil têm "divergências muito sérias" sobre conter o plano nuclear do Irã, mesmo que os laços bilaterais sejam bons em outras áreas.

"Certamente, nós temos divergências muito sérias com a diplomacia brasileira em relação ao Irã", disse Hillary, numa das suas declarações mais diretas sobre como ela vê o trabalho do Brasil e da Turquia em serem os fiadores de um acordo de troca de combustível nuclear com o Irã.

"Mas nossa divergência não mina nosso compromisso de ver o Brasil como um amigo e um parceiro" disse Hillary. "Nós queremos uma relação com o Brasil que resista ao teste do tempo".

Hillary e outros funcionários norte-americanos disseram que o papel do Brasil e da Turquia, em avalizar o acordo, foi bem-vindo, mesmo que eles expressem dúvidas sobre o pacto.

Sob o acordo, o Irã enviará urânio com baixo enriquecimento à Turquia, em troca de combustível nuclear (urânio mais enriquecido) para o reator de pesquisas médicas de Teerã.

Hillary disse ter declarado ao chanceler do Brasil, Celso Amorim, que "nós pensamos que comprar tempo para o Irã, permitindo que o Irã evite a unidade internacional a respeito do seu programa nuclear, torna o mundo mais perigoso, não menos perigoso".

Respondendo a perguntas sobre a nova estratégia nacional de segurança da administração do presidente Barack Obama, Hillary disse que os brasileiros argumentam que a pressão norte-americana, no Conselho de Segurança (CS) das Nações Unidas, por novas sanções contra o Irã, apenas levará ao conflito.

"Nós discordamos, então nós vamos (ao CS). Nós dizemos 'nós não concordamos com isso, nós pensamos que os iranianos estão usando vocês e pensamos que chegou a hora de ir ao Conselho de segurança", disse Hillary.

Hillary lembrou que o Brasil teve um papel chave no Haiti após o terremoto que devastou o país caribenho em janeiro, e também na promoção de um acordo internacional para lutar contra as mudanças climáticas.

Hillary também disse que os EUA e o Brasil têm uma "robusta" relação comercial.

As declarações foram feitas nesta quinta-feira na think tank Brookings Institution.

Visão da Rússia

O ministro de Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, expressou sua dúvida de que Teerã vai cumprir os termos do acordo intermediado pelo Brasil e pela Turquia.

"Não há 100% de garantias. Vai depender muito de como o Irã vai abordar seus compromissos. Se o país obedecê-lo integralmente, a Rússia vai apoiar o plano proposto pelo Brasil e pela Turquia", disse Lavrov.

"Nós saudamos este acordo. Se for completamente implementado, ele vai criar precondições muito importantes não apenas para a solução de um problema concreto - o suprimento de combustível para este reator - mas para melhorar a atmosfera para a renovação das negociações", disse Lavrov na televisão.

Mas ele não deu indicações sobre como o acordo pode afetar a posição Rússia em relação a um esboço de resolução apresentado pelos Estados Unidos no Conselho de Segurança da ONU, que pede que o Irã seja punido com uma nova rodada de sanções.

Mais tarde nesta quinta-feira, Lavrov conversou pelo telefone com seu colega iraniano Manouchehr Mottaki para discutir o programa nuclear do Irã e o acordo com o Brasil e a Turquia, informou o ministério de Relações Exteriores russo em comunicado

"A Rússia expressou sua prontidão em apoiar o avanço dos processo de negociação cujo objetivo é resolver a situação a respeito do programa nuclear iraniano", diz o comunicado.

A Rússia continua a apoiar a pressão por novas sanções da ONU contra o Irã, apesar da assinatura do acordo, irritando o Irã e levando à troca de agressões nesta semana entre funcionários russos e iranianos.

A chanceler alemã Angela Merkel declarou que os trabalhos sobre uma nova rodada de sanções contra o Irã vai continuar porque Teerã não é transparente sobre seu programa nuclear.

Potências ocidentais, incluindo a Alemanha e os Estados Unidos, acreditam que o Irã deseja desenvolver armas atômicas. Teerã diz que seu programa nuclear tem como objetivo de produzir energia.

Merkel disse nesta quinta-feira no Catar que o Irã falhou até agora em mostrar transparência sobre seu programa de forma que "o trabalho conjunto sobre as sanções vai continuar".

O governo turco qualificou, nesta quinta-feira, como uma "situação absurda" o fato de as potências rejeitarem o acordo. A administração turca criticou o fato de os Estados Unidos pressionarem por mais sanções contra Teerã, logo após os três países anunciarem o acordo, na semana passada.

Um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Turquia reconheceu que o acordo não é uma solução completa para o impasse nuclear iraniano, mas "é um passo adiante para se resolver o tema da troca (de combustível nuclear), que é um dos elementos importantes" dessa questão. "É verdade que o copo está meio vazio...mas nós dizemos que mais ações devem ser tomadas agora para enchê-lo", acrescentou. "Não é razoável rejeitar o acordo argumentando que o copo está meio vazio."

O porta-voz criticou a posição de Washington, que submeteu um rascunho com um quarto pacote de sanções ao Irã no Conselho de Segurança da ONU logo após o anúncio do acordo. "Submeter o documento um dia após o acordo ser alcançado significa que você prefere não olhar para certos desdobramentos...isso leva a uma situação absurda", afirmou ele.

Pelo acordo, Teerã enviará 1.200 quilos de urânio pouco enriquecido à Turquia. Meses depois, receberá combustível para seu reator de pesquisas em Teerã. Na segunda-feira, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) confirmou ter recebido uma notificação sobre esse acordo.

A Turquia e o Brasil são membros não permanentes do Conselho de Segurança e não apoiam novas sanções ao Irã. "Nós acreditamos que um espaço foi encontrado para se dar uma chance para negociações", disse o porta-voz.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu nesta quinta-feira que a AIEA analise o acordo de troca de combustível. Segundo ele, a agência deveria mostrar "sensibilidade em compreender o momento político" representado pelo acordo de 17 de maio assinado pelo Irã, Brasil e Turquia, disse Lula em Brasília.

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