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Manifestantes protestam contra o G7 e contra armas nucleares em Hiroshima nesta quinta-feira (18)
Manifestantes protestam contra o G7 e contra armas nucleares em Hiroshima nesta quinta-feira (18)| Foto: EFE/EPA/KIMIMASA MAYAMA

Entre sexta-feira (19) e domingo (21), Hiroshima, no Japão, sediará a cúpula deste ano do G7, e a reunião entre os chefes de Estado dos países mais industrializados do mundo será marcada por debates e declarações sobre os principais assuntos da esfera internacional hoje: guerra na Ucrânia, sanções à Rússia, disputas comerciais e geopolíticas com a China, mudanças climáticas.

A escolha de uma das duas únicas cidades na história a serem vítimas de ataques nucleares é simbólica: o primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, um dos representantes de Hiroshima no Parlamento do país, quer que a cúpula do G7 aborde também esforços para conter a proliferação de armas nucleares.

“O G7 rejeita firmemente qualquer tentativa unilateral de mudar o status quo pela força ou pela ameaça ou uso de armas nucleares e defende a ordem internacional baseada no Estado de Direito. Eu liderarei a discussão como presidente [temporário do G7] e demonstrarei para o mundo a forte determinação do G7 com significado histórico”, afirmou o premiê japonês, numa mensagem em que comentou os temas da cúpula deste final de semana.

Liderar uma ação contra a proliferação de armas nucleares não será tarefa fácil, já que o mundo vive o pior momento de ameaça de utilização desse tipo de armamento desde o fim da Guerra Fria.

A Rússia é responsável por grande parte dessas tensões. Em fevereiro, Moscou anunciou sua retirada do acordo Novo Start, que limitava o número de armas nucleares estratégicas do país e dos Estados Unidos até 2026, com um máximo de 1.550 ogivas nucleares e 700 sistemas balísticos.

Depois, em março, o presidente Vladimir Putin anunciou o posicionamento de armas nucleares táticas no território de Belarus, país vizinho cujo ditador, Alexander Lukashenko, é aliado do Kremlin. A transferência deve ocorrer a partir de 1º de julho, quando a Rússia deve concluir a construção de uma instalação de armazenamento dessas armas em território bielorrusso.

Belarus faz fronteira com três países integrantes da OTAN, Polônia, Lituânia e Letônia, e também com a Ucrânia, invadida pela Rússia em fevereiro do ano passado. Será a primeira vez que a Rússia posicionará armas nucleares fora do país desde os anos 1990.

Desde que a guerra na Ucrânia começou, Putin e outros membros do Kremlin já fizeram várias ameaças de utilização de armas nucleares.

Para piorar a situação, outros adversários do Ocidente fazem movimentações nesse sentido. A China está aumentando seu arsenal nuclear, a Coreia do Norte intensificou seus testes de mísseis balísticos, capazes de transportar ogivas nucleares, e o Irã segue com seu programa na área.

Nesse cenário, iniciar um diálogo pela desnuclearização já é um grande desafio para o premiê japonês.

“Kishida precisa concretizar o antigo desejo japonês de demonstrar o poder da diplomacia para garantir a paz. Como oriundo de Hiroshima [nasceu em Tóquio, mas vem de uma família de políticos da cidade do sul do Japão], Kishida também falará pelas únicas vítimas de bombardeio nuclear no mundo. Por mais doloroso que seja, ele precisa contar a história de perdas incomparáveis do Japão para que outros em todo o mundo nunca tenham que sofrer algo parecido”, escreveu Sheila Smith, especialista em estudos da Ásia e região do Pacífico no think tank americano Conselho de Relações Exteriores (CFR, na sigla em inglês), em artigo recente.

Poucas esperanças

Entretanto, em comunicado divulgado em abril, após uma reunião de ministros das Relações Exteriores do G7 em Nagano, no Japão, a Campanha Internacional para a Abolição de Armas Nucleares (Ican, na sigla em inglês), formada por ONGs de todo o mundo, destacou os pronunciamentos “vazios” dos chanceleres sobre o tema e apontou que os chefes de Estado terão que fazer mais em Hiroshima.

A Ican destacou a “responsabilidade” do grupo de pedir desnuclearização mundial, já que é formado por três estados com armas nucleares (França, Reino Unido e Estados Unidos), dois que abrigam armas do tipo nos seus territórios (Itália e Alemanha) e outros dois (Canadá e Japão) que dependem de armas nucleares para suas políticas de segurança – numa referência ao conceito de “guarda-chuva nuclear”, por meio do qual um país sem esse tipo de armas tem a garantia de proteção de outro que as possua (os canadenses integram a OTAN, enquanto os japoneses são parceiros dos americanos na área de segurança).

“Os ministros ressaltaram [no encontro de abril] o atual ambiente complicado de segurança e criticaram a retórica nuclear da Rússia, sua ameaça de posicionar armas nucleares em Belarus e o desenvolvimento do arsenal nuclear da China”, destacou a Ican.

“Mas eles se recusaram a reconhecer como suas próprias políticas de armas nucleares, incluindo o posicionamento de armas nucleares dos EUA [em outros países], a modernização dos seus arsenais e a ameaça de usar essas armas, implícita em suas doutrinas nucleares, também comprometem a segurança global”, criticou a organização.

Em artigo para o site da CNN, Paul Sracic, membro adjunto do Instituto Hudson e professor de política e relações internacionais na Universidade Estadual de Youngstown, destacou que esse movimento em direção ao aumento das ameaças nucleares dá poucas esperanças de que alguma discussão ou medida significativa saia da cúpula em Hiroshima.

“Talvez o máximo que possamos esperar, enquanto os líderes do G7 caminharem pelas ruínas do Memorial da Paz de Hiroshima, seja o início de uma conversa sobre como podemos reverter esse caminho antes que seja tarde demais”, afirmou.

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