
Depois de dez anos no poder, a saída de Hu Jintao da liderança do Partido Comunista da China está trazendo algo pouco comum aos ouvidos de um líder chinês: duras críticas.
Nos comentários da mídia, em jornais de reflexão independente e na blogosfera menos censurada, o reinado de Hu está sendo retratado como uma oportunidade perdida de enfrentar questões duradouras que se tornaram ainda mais enraizadas. Segundo os críticos, os problemas vão desde o crescimento do enorme abismo entre ricos e pobres, a piora na degradação ambiental até a rígida política autoritária. Um dos comentários define o período como "década perdida".
"Nós não percebemos que Hu se tornaria tão conservador", disse Wu Jiaxiang, um ex-pesquisador do Partido que se tornou empresário e blogueiro ávido. A fala de Jiaxiang resume a decepção de muitos chineses que não se cansam de falar sobre o assunto.
Algumas críticas são feitas para influenciar Xi Jinping, que começou a assumir o posto do tecnocrata e ultrareservado Hu, de 69 anos, no Congresso do Partido Comunista, aberto na quinta-feira e que vai até o dia 14.
Os principais veículos de comunicação estatais da China, que respondem ao partido e dominam o que a maioria dos chineses vê, ouve e lê, têm enaltecido a Era Hu, chamando-a de "Década Gloriosa".
O pessimismo não é uma tendência completa. Hu era o comandante do país durante a corrida rumo à prosperidade doméstica e global da China, processo que não havia sido visto em séculos. Quando ele assumiu o gabinete, a economia chinesa era um pouco maior que a da Itália; atualmente, é a segunda do mundo. O país ostenta o maior número de usuários de internet e de telefones móveis do planeta. A renda per capita multiplicou-se em cinco vezes, alcançando US$ 5.400.
Sistema político
A política do país, no entanto, permanece um mundo à parte. Os críticos de Hu dizem que ele e os demais líderes foram muito tímidos para mudar um sistema repleto de conflitos.
A questão principal, apontada pelos críticos, é a estratégia de crescimento a todo custo que concentra a riqueza entre poucos e as desvantagens entre muitos. Resolver isso tem sido a tarefa da liderança comunista há mais de uma década.
Em alguns casos, as estratégias que Hu empregou pioraram a situação do país, adicionando uma desaceleração de crescimento e um aumento da dívida com problemas como clientelismo, corrupção e injustiça.
Protestos no Tibete roubam a cena do Partido ComunistaEFE
A situação no Tibete ganhou destaque no 18.º Congresso do Partido Comunista da China (PCC), depois que seis tibetanos imolaram-se pelo fogo na quinta e sexta-feira e milhares de pessoas saíram às ruas para manifestar contra Pequim.
Uma multidão de tibetanos, segundo a ONG Free Tibet (cujo nome significa ao mesmo tempo liberte o Tibete ou Tibete livre, em inglês) e a agência tibetana Phayul, participou de manifestações desde quinta-feira no condado de Huagnan, na fronteira entre a região autônoma do Tibete e a província de Qinghai.
A Free Tibet assegura que o governo chinês enviou diversos grupos de paramilitares para conter os manifestantes, e alertam que podem ocorrer "enfrentamentos" entre eles e os tibetanos.
As manifestações aconteceram depois que seis tibetanos colocaram fogo em si mesmo entre eles quatro monges adolescentes e uma jovem mãe para protestar contra a "ocupação do Tibete" e o duro controle do governo chinês, segundo informaram a Free Tibet e a Rádio Free Ásia.
O líder do Tibete, Chen Quanguo, contornou a versão oficial dizendo que o governo chinês investiu muito no desenvolvimento da região. "Lhasa (a capital da região) é a cidade mais feliz da China", assegurou aos presentes na sala.
Seguindo a linha, outro representante chinês da província de Sichuan, limítrofe com o Tibete, fez duras críticas ao Dalai Lama.
O governo chinês argumenta que as imolações de monges são instigadas por grupos tibetanos no exílio ligados ao Dalai Lama, Prêmio Nobel da Paz.
Observadores
O governo adiantou que não vai permitir a entrada de observadores estrangeiros no Tibete para investigar abusos de direitos humanos.
A maior autoridade para os direitos humanos da Organização das Nações Unidas, Navi Pillay, pediu à China na semana passada que permita a visita de monitores independentes de direitos humanos ao Tibete para tratar dos profundos desapontamentos com a região.
Membros do governo chinês classificaram aqueles que se imolaram de "terroristas" e criminosos.






