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Um iceberg gigante, do tamanho da cidade de Chicago, nos EUA, se soltou da plataforma de gelo conhecida como George VI, na Antártida, no último dia 13 de janeiro, expondo pela primeira vez uma área do fundo do mar que permaneceu coberta por gelo durante séculos.
Doze dias depois, uma equipe internacional a bordo do navio de pesquisa Falkor (too), do Schmidt Ocean Institute (que realiza pesquisas marinhas), foi a primeira a alcançar o local e investigar o ecossistema recém-revelado na remota região do Mar de Bellingshausen, segundo informações do instituto, divulgadas no último dia 20.
“A equipe científica estava originalmente nesta região remota para estudar o fundo do mar e o ecossistema na interface entre o gelo e o oceano”, explicou a diretora executiva do Schmidt Ocean Institute, Dra. Jyotika Virmani. “Estar ali [na região] no momento exato em que esse iceberg se desprendeu da plataforma foi uma oportunidade científica rara. Momentos como esse são parte da emoção da pesquisa no mar — eles nos oferecem a chance de sermos os primeiros a testemunhar a beleza intocada do nosso mundo.”

O desprendimento do iceberg, batizado de A-84 (que tem aproximadamente 510 km²), revelou uma área até então inacessível à exploração científica. Ao mergulhar com veículos operados remotamente, os cientistas ficaram surpresos ao encontrar um ambiente marinho vibrante, com grandes esponjas, corais, peixes do gelo, aranhas-do-mar gigantes e até polvos.

“Aproveitamos o momento, mudamos nosso plano de expedição e fomos em frente para ver o que estava acontecendo nas profundezas abaixo”, relatou a co-líder da expedição, Dra. Patricia Esquete, da Universidade de Aveiro, em Portugal. “Não esperávamos encontrar um ecossistema tão bonito e próspero. Com base no tamanho dos animais, as comunidades que observamos estão ali há décadas, talvez até centenas de anos”, acrescentou.
Durante oito dias consecutivos de mergulhos com o veículo operado remotamente SuBastian, os cientistas exploraram áreas a profundidades que chegaram a 1.300 metros. Segundo o instituto, uma das maiores surpresas foi a presença de organismos típicos de ambientes ricos em nutrientes — o que levanta questões sobre como esses ecossistemas sobreviveram durante tanto tempo sob uma camada de gelo de 150 metros de espessura, completamente isolados da luz e dos detritos orgânicos da superfície.
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A hipótese levantada pelos cientistas do instituto é que as correntes oceânicas tenham papel fundamental no transporte de nutrientes até essas profundezas. Ainda assim, o mecanismo exato que sustenta essa biodiversidade permanece um mistério.
“Esses ecossistemas antárticos estavam cobertos por gelo durante séculos, isolados dos nutrientes da superfície”, explicou o instituto. Os dados obtidos podem lançar nova luz sobre o funcionamento da vida marinha em regiões polares, especialmente aquelas escondidas sob as plataformas de gelo flutuantes.
Além de observações biológicas, a equipe coletou amostras geológicas e químicas, e utilizou veículos autônomos subaquáticos para estudar o impacto da água do degelo nas características físicas da região. Os primeiros dados apontam para uma alta produtividade biológica e um forte fluxo de água doce oriunda da plataforma de gelo George VI.

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