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Descoberta

Iceberg se solta e revela ecossistema preservado por séculos nas profundezas da Antártida; veja fotos

Um grupo de esponjas encontrado na área que permanecia coberta pela Plataforma de Gelo George VI, uma geleira flutuante na Antártida. (Foto: ROV SuBastian/Schmidt Ocean Institute)

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Um iceberg gigante, do tamanho da cidade de Chicago, nos EUA, se soltou da plataforma de gelo conhecida como George VI, na Antártida, no último dia 13 de janeiro, expondo pela primeira vez uma área do fundo do mar que permaneceu coberta por gelo durante séculos.

Doze dias depois, uma equipe internacional a bordo do navio de pesquisa Falkor (too), do Schmidt Ocean Institute (que realiza pesquisas marinhas), foi a primeira a alcançar o local e investigar o ecossistema recém-revelado na remota região do Mar de Bellingshausen, segundo informações do instituto, divulgadas no último dia 20.

“A equipe científica estava originalmente nesta região remota para estudar o fundo do mar e o ecossistema na interface entre o gelo e o oceano”, explicou a diretora executiva do Schmidt Ocean Institute, Dra. Jyotika Virmani. “Estar ali [na região] no momento exato em que esse iceberg se desprendeu da plataforma foi uma oportunidade científica rara. Momentos como esse são parte da emoção da pesquisa no mar — eles nos oferecem a chance de sermos os primeiros a testemunhar a beleza intocada do nosso mundo.”

Iceberg se solta e revela ecossistema preservado por séculos nas profundezas da AntártidaO navio de pesquisa Falkor (too) manobra entre icebergs enquanto realiza estudos no mar de Bellingshausen, na costa da Antártida. (Foto: Alex Ingle/Schmidt Ocean Institute)

O desprendimento do iceberg, batizado de A-84 (que tem aproximadamente 510 km²), revelou uma área até então inacessível à exploração científica. Ao mergulhar com veículos operados remotamente, os cientistas ficaram surpresos ao encontrar um ambiente marinho vibrante, com grandes esponjas, corais, peixes do gelo, aranhas-do-mar gigantes e até polvos.

Imagem de satélite MODIS mostra o iceberg desprendido da Plataforma de Gelo George VI, no mar de Bellingshausen (Foto: Imagem da NASA Worldview application)

“Aproveitamos o momento, mudamos nosso plano de expedição e fomos em frente para ver o que estava acontecendo nas profundezas abaixo”, relatou a co-líder da expedição, Dra. Patricia Esquete, da Universidade de Aveiro, em Portugal. “Não esperávamos encontrar um ecossistema tão bonito e próspero. Com base no tamanho dos animais, as comunidades que observamos estão ali há décadas, talvez até centenas de anos”, acrescentou.

Durante oito dias consecutivos de mergulhos com o veículo operado remotamente SuBastian, os cientistas exploraram áreas a profundidades que chegaram a 1.300 metros. Segundo o instituto, uma das maiores surpresas foi a presença de organismos típicos de ambientes ricos em nutrientes — o que levanta questões sobre como esses ecossistemas sobreviveram durante tanto tempo sob uma camada de gelo de 150 metros de espessura, completamente isolados da luz e dos detritos orgânicos da superfície.

Veja fotos:

Uma grande esponja, um agrupamento de anêmonas e outras formas de vida marinha são observados a cerca de 230 metros de profundidade em uma região do fundo do mar que, até recentemente, permanecia coberta pela Plataforma de Gelo George VI, na Antártida. (Foto: ROV SuBastian / Schmidt Ocean Institute)
Polvo encontrado na área revelada estava repousando a 1.150 metros de profundidade. (Foto: ROV SuBastian / Schmidt Ocean Institute)
Enxame de pequenos crustáceos encontrados na área. Eles foram atraídos pelas luzes do veículo subaquático ROV SuBastian. (Foto: ROV SuBastian / Schmidt Ocean Institute)
Grupo de esponjas que estava no fundo do mar na área que permanecia coberta pela Plataforma de Gelo George VI. (Foto: ROV SuBastian/Schmidt Ocean Institute)
Os tentáculos de um hidroide solitário balançam nas correntes a 360 metros de profundidade, na área do fundo do mar que estava coberta pela Plataforma de Gelo George VI. Parente de águas-vivas, corais e anêmonas, o hidróide solitário vive sozinho e não forma colônias. (Foto: ROV SuBastian / Schmidt Ocean Institute)
Caranguejos-reis encontrados na área. (Foto: ROV SuBastian / Schmidt Ocean Institute)
Um outro hidroide solitário flutua nas correntes a cerca de 380 metros de profundidade na área do fundo do mar que estava coberta pela Plataforma de Gelo George VI. (Foto: ROV SuBastian / Schmidt Ocean Institute)

A hipótese levantada pelos cientistas do instituto é que as correntes oceânicas tenham papel fundamental no transporte de nutrientes até essas profundezas. Ainda assim, o mecanismo exato que sustenta essa biodiversidade permanece um mistério.

“Esses ecossistemas antárticos estavam cobertos por gelo durante séculos, isolados dos nutrientes da superfície”, explicou o instituto. Os dados obtidos podem lançar nova luz sobre o funcionamento da vida marinha em regiões polares, especialmente aquelas escondidas sob as plataformas de gelo flutuantes.

Além de observações biológicas, a equipe coletou amostras geológicas e químicas, e utilizou veículos autônomos subaquáticos para estudar o impacto da água do degelo nas características físicas da região. Os primeiros dados apontam para uma alta produtividade biológica e um forte fluxo de água doce oriunda da plataforma de gelo George VI.

Pesquisador analisando material que foi coletado. (Foto: Alex Ingle/Schmidt Ocean Institute)

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