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Incêndio atrasa pesquisas do país

Com a destruição da base na Antártida, trabalho científico que o Brasil desenvolve na região pode demorar até quatro anos para ser restabelecido

De acordo com a Marinha, 70% da Estação Comandante Ferraz foi consumida pelo fogo na madrugada de sábado | Marinha do Chile/AFP
De acordo com a Marinha, 70% da Estação Comandante Ferraz foi consumida pelo fogo na madrugada de sábado (Foto: Marinha do Chile/AFP)

O incêndio na estação brasileira Comandante Ferraz, na Antár­­tida, representa um atraso de até quatro anos nas pesquisas científicas realizadas na re­­gião. A Marinha estima que 70% da base foi destruída na madrugada de sábado, em um acidente que causou a morte de dois militares. Da base, restaram apenas as estruturas isoladas da área principal, entre elas os laboratórios de meteorologia e os tanques de combustível. As causas do fogo, que começou na casa de máquinas, estão sendo apuradas em um Inquérito Policial Militar.

A coordenadora da pós-graduação em Ecologia e Conser­­vação da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Lucélia Do­­natti, que já esteve na estação em diversas ocasiões e acompanhava os trabalhos de quatro das cinco pesquisadoras paranaenses que atuavam no local quando ocorreu o incêndio, lamenta o episódio. Ela diz que as pesquisas mais prejudicadas serão aquelas que dependem da estrutura, mas que os trabalhos de­­senvolvidos nos laboratórios em alto-mar, presentes nos navios, deverão continuar. "O maior problema dessa tragédia é que não teremos mais a estação para manter as coletas, o que será uma grande perda para os trabalhos que avaliam resultados ano após ano. Mas acredito que as expedições marítimas vão continuar."

O governo brasileiro já decidiu reconstruir a base Coman­­dante Ferraz, mas só poderá fazê-lo plenamente a partir de dezembro, período em que se inicia o verão no Hemisfério Sul, e que proporciona melhores condições de trabalho. De acordo com o ministro da Defesa, Celso Amorim, a previsão é que as obras levem dois anos para serem finalizadas. O ministro de Ciência e Tecnologia, Marco Antonio Raupp, afirmou ontem que o governo deve usar o navio polar Almirante Maximia­­no como base provisória do Brasil na Antártida.

Prejuízos

Os prejuízos científicos com o desastre, no entanto, vão além da inviabilização das pesquisas na base. Com o incêndio, houve uma perda de pelo menos 40% dos dados coletados pelas equipes brasileiras, sem contar a destruição de equipamentos para pesquisa. Para a professora da UFPR, o que pode acontecer também é a tranferência do trabalho de alguns pesquisadores para os navios brasileiros da região onde há espaços para pesquisa. No entanto, isso poderia su­­perlotar as embarcações. "O meu projeto, por exemplo, eu não levaria para um navio", afirma Lucélia, que estuda o estresse térmico de alguns peixes e outros vertebrados dos mares do sul.

Entre outros trabalhos desenvolvidos na região estão as pesquisas em torno dos impactos nas mudanças climáticas, sobre organismos e ecossistemas e o estudo da atmosfera.

Cientista sênior do programa antártico-brasileiro, Jefferson Cardia Simões, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), ponderou que o governo precisa reavaliar as dimensões da Comandante Ferraz, o que, em sua análise, será determinante para o futuro do projeto brasileiro no continente. "Incêndios em estações polares são recorrentes, infelizmente. Quando pega fogo, falta energia, e não há como bombear a água do mar. A estrutura da estação é toda metálica, mas dentro ela é de madeira, fios elétricos, tem muito equipamento eletrônico. Já tivemos perdas de várias estações por esse problema", acrescentou.

"A gente vai parar um pouco as pesquisas, com certeza", confirmou em entrevista a bióloga Yocie Yoneshigue Valentin, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). "Tem que olhar para frente e continuar." Os biólogos eram maioria entre os pesquisadores brasileiros na Antártida nesse verão. "Toda essa parte de mudanças climáticas tem influência direta nos organismos de lá. Por isso que é importante estudar biologia lá", explicou.

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