
Nova Délhi - O governo indiano chamou ontem de "conquista monumental a aprovação na véspera pelo Senado dos Estados Unidos de um histórico acordo de cooperação nuclear civil que permitirá a empresas norte-americanas equiparem as centrais atômicas da Índia país que não é signatário dos tratados de não-proliferação nuclear.
Considerado uma das raras vitórias diplomáticas do presidente George W. Bush, o controverso pacto sela uma nova era na relação entre Nova Délhi e o Ocidente e deve acirrar a disputa geopolítica entre Índia e as duas outras potências nucleares regionais, Paquistão e China.
Na noite de ontem, o Senado dos EUA aprovou o documento por 86 votos a 13, levantando o último obstáculo formal à adoção de um texto que esperou dois anos para entrar em vigor.
Firmado durante visita de Bush a Nova Délhi, em 2006, o acordo precisou receber o aval da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e do Grupo de Fornecedores Nucleares, que mantinha havia 34 anos um embargo internacional à Índia.
As sanções foram impostas porque o país dispõe de um arsenal nuclear testado em 1974 e 1998 fora dos tratados de não-proliferação.
Sob pressão norte-americana, o embargo à Índia foi levantado nos últimos meses. Em troca do sinal verde para acordos nucleares com outros países, o governo indiano se comprometeu a permitir inspeções da AIEA em pelo menos 14 de seus 22 reatores já em funcionamento na produção de energia.
O pacto ainda passou com dificuldade pelo Legislativo indiano onde a oposição acusou o governo de solapar a soberania nacional , antes de ser aprovado pela Câmara de Representantes dos EUA (no sábado) e pelo Senado.
A secretária de Estado americano, Condoleezza Rice, irá amanhã a Nova Délhi para comemorar a adoção do acordo. "Somos finalmente reconhecidos como potência nuclear, disse um porta-voz da Índia.
O premier indiano, Manmohan Singh, diz que a cooperação nuclear é fundamental para o futuro da Índia, país de 1,1 bilhão de habitantes que vê aumentarem as incertezas quanto à capacidade de manter o fornecimento de energia para um crescimento de quase 9%.
A Índia produz hoje apenas 3% de sua eletricidade por meio de reatores e quer chegar a 25% dentro de 45 anos. Sem essa nova fonte energética, ela não sustentaria altas taxas de crescimento que permitiriam sua já esboçada emergência para se contrapor à China.
Geopolítica
A questão é comercial são desconhecidos os valores dos contratos que serão de agora em diante disputados por empresas como Westinghouse e General Electric , mas é também, e sobretudo, política.
A aproximação entre Nova Délhi e Washington estremece a frágil estabilidade geopolítica no sul da Ásia. A Índia e o Paquistão, potências nucleares que já travaram três guerras desde 1947, quando ambos se tornaram Estados desmembrados da antiga Índia britânica, são aliados dos EUA e disputam a condição de parceiro estratégico norte-americano na região.
O governo paquistanês exigiu ontem dos EUA um acordo similar. "Não queremos discriminação. O Paquistão também vai fazer novos esforços para um acordo nuclear civil e eles terão de nos acomodar, disse o premier Yousaf Raza Gilani.



