
Sunita Laxman Jadhav é uma vendedora porta a porta que comercializa a espera. Ela percorra ruas lamacentas usando sári branco de enfermeira, visitando casais recém-casados com uma proposta descarada: que eles esperem dois anos antes de conceber um filho. O governo agradece e paga por isso.
"Quero falar com vocês sobre seu pacote de lua de mel", começou Jadhav, enfermeira auxiliar, durante uma visita recente a uma noiva na região agrícola do estado de Maharashtra. Jadhav explicou que o governo distrital pagaria 5 mil rúpias, ou cerca de R$ 190, se o casal esperasse um pouco antes de ter filhos. Ela explicou que a espera permitira a eles terminar os estudos e economizar dinheiro.
A espera também daria à Índia mais tempo para frear uma população em rápido crescimento, que ameaça transformar sua demografia, passando de um ativo valioso a um fardo paralisante.
Com quase 1,2 bilhão de pessoas, a Índia é desproporcionalmente jovem: aproximadamente metade da população tem menos de 25 anos. Esse "dividendo demográfico" é uma razão pela qual alguns economistas preveem que a Índia pode superar a China em índices de crescimento econômico em cinco anos.
Embora a juventude seja uma vantagem para a Índia, o tamanho de sua população leva a pressões crescentes de recursos e representa um enorme desafio para um governo já ineficiente na expansão da educação e outros serviços. Nas próximas décadas, projeta-se que a Índia supere a China como o país mais populoso do mundo a incerteza crítica é apenas o quanto ele será populoso. Estimativas vão de 1,5 bilhão a 1,9 bilhão de pessoas e líderes indianos reconhecem que isso deve ser evitado.
Embora alguns estados indianos tenham reagido a esse medo do crescimento populacional com coerção, proibindo pais com mais de dois filhos de ocupar cargos públicos locais, ou excluindo funcionários do governo de certos benefícios se eles tiverem famílias grandes, outros estados pouco fizeram.
"Já é tarde", disse Sabu Padmadas, demógrafo da Universidade de Southampton com vasta experiência na Índia. "Definitivamente, está na hora de a Índia agir."
O programa piloto que prevê visitas a recém casados é uma de várias iniciativas em todo o país que usam uma abordagem mais suave para desacelerar o crescimento populacional ao desafiar costumes rurais profundamente arraigados. Especialistas afirmam que muitas mulheres das zonas rurais se casam ainda adolescentes, geralmente em casamentos arranjados, e têm filhos numa rápida sucessão um padrão que exacerba a pobreza e estimula o que os demógrafos chamam de "momentum populacional" ao aglomerar os filhos. Em Satara, autoridades locais de saúde vêm realizando campanhas para frear o casamento de adolescentes, assim como promover os bônus em dinheiro ("pacote de lua de mel") e incentivar o uso de métodos contraceptivos, para que os casais esperem um pouco antes de começar uma família.
Renda e educação
A Índia tem índice de 2,6 filhos por família, muito menor do que há meio século, mas ainda acima do índice de 2,1 filhos capaz de estabilizar a população. Muitos estados com renda e níveis educacionais mais altos já estão próximos ou abaixo da média de 2 filhos por família, mas outros chegam a 4 filhos por família e possuem um dos índices mais baixos de alfabetização feminina. "Uma moça instruída é o melhor contraceptivo", diz o médico Amarjit Singh, diretor-executivo do Fundo Nacional de Estabilização da População, uma agência consultiva. Ele afirmou que aproximadamente metade do crescimento populacional excessivo futuro deve ocorrer no seis estados mais pobres da Índia.
Maharashtra nao está nessa categoria, mas sua população ainda está crescendo rápido demais. Satara, um distrito rural cercado por colinas verdes, tem 3 milhões de pessoas. Uma pesquisa de 1997 descobriu que quase um quarto de todas as mulheres se casava antes da maioridade legal, 18 anos, enquanto aproximadamente 45% de todos os bebês e crianças pequenas no distrito sofriam de má nutrição.
Em resposta a isso, o distrito iniciou uma campanha para reduzir o número de casamentos infantis e mais de 27 mil pais assinaram promessas por escrito concordando em não permitir que suas filhas se casassem antes dos 18 anos. Em poucos anos, a idade média na qual as jovens se casam subiu e o índice de crianças mal nutridas caiu.
Hoje, autoridades afirmam que cerca de 15% das crianças sofrem de má nutrição. Porém, mesmo com os casais se unindo um pouco mais tarde, eles geralmente tinham um filho no primeiro ano de casamento seguido por outro logo depois. Assim, em agosto de 2009 Satara introduziu seu pacote de lua de mel como um incentivo para adiar os nascimentos. Até o momento, 2.366 casais estão participando do programa.
"A resposta tem sido boa", disse o Dr. Archana Khade, médico do centro de cuidados médicos primários na vila de Kahner. "Mas o dinheiro é algo secundário. Trata-se de outras coisas, de uma perspectiva melhor de futuro."



