Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Mãe África

Infância africana exige mudanças

Quando começam a sentir as dores do parto, as jovens africanas chamam suas mães, irmãs e conhecidas para ajudar na tarefa, e se mantêm atentas. Apesar de presenciarem nascimentos desde a infância, o primeiro filho é uma experiência a ser assimilada. No terceiro ou quarto parto, muitas já não pedem mais ajuda, dão à luz sozinhas. Boa parte das africanas cumpre o ritual mais de dez vezes, distribuindo vida ao mais jovem dos continentes, capaz de dobrar sua população a cada 25 anos. Os bebês, entretanto, precisam de sorte para sobreviver. A fome, a violência e doenças como a aids transformam o milagre da vida num drama que desafia o mundo.

Das 130 milhões de crianças que nascem anualmente em todo o planeta, 17% são da África, onde a mortalidade infantil passa de 150 por mil nascimentos, principalmente ao sul do deserto Saara. Na África Subsaariana – onde vivem dois terços dos 800 milhões de africanos – uma criança corre 29 vezes mais risco de morrer antes de completar 5 anos que em países como do Leste Europeu, como a Polônia. Essa taxa vem melhorando muito mais lentamente do que se previa. Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), a situação é crítica em 45 países do globo, 26 deles na África. Essas nações não conseguem reduzir a mortalidade infantil, ou apresentam quedas de menos de 1%. Nos 54 países do continente, um terço das crianças tem sinais de desnutrição.

Existem inúmeras soluções para o problema: ajuda humanitária, mobilização das comunidades, investimento em saneamento básico, valorização da cultura local. No entanto, segundo os especialistas, elas não têm sido postas em prática da forma adequada.

Os governos africanos carregam parte da culpa, afirma o ativista José Antonio Martins Patrocínio, coordenador da associação angolana Okutiuka Ação para a Vida. "Os políticos ainda não assimilaram o fato de que a criança tem direitos e responsabilidades. Continuam a ver a criança como um sujeito passivo, incapaz, sem espaço na sociedade."

As primeiras mudanças estariam ocorrendo em países do norte do continente. Um dos principais avanços seria a Carta Africana dos Direitos da Criança, assinada em julho de 1990 e oficializada em novembro de 1999. No entanto, mesmo nos países tidos como mais adiantados, como a África do Sul, o documento vem sendo constantemente violado. Além da pobreza, da fome, da falta de atendimento médico, "as crianças têm sido alvo de traficantes", afirma a advogada Berta Chilundo, que atua pelo Programa de Prevenção ao Tráfico de Menores do Instituto de Educação Cívica Fecic, de Moçambique. Ela conta que um estudo da Organização Internacional da Migração descobriu cerca de mil casos de moçambicanos, a maioria crianças, traficados para outras regiões, principalmente para a África do Sul.

A ação internacional também escorrega. "Para o mundo, a criança africana precisa do básico: comer.", diz o integrante da Associação dos Defensores dos Direitos da Criança (ADDC), Daniel Noa, de Moçambique, para quem é preciso ir além disso.

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.