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O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, durante sessão do Knesset, o Parlamento Israelense, em Jerusalém, 26 de dezembro | MENAHEM KAHANA / AFP
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, durante sessão do Knesset, o Parlamento Israelense, em Jerusalém, 26 de dezembro| Foto: MENAHEM KAHANA / AFP

A coalizão do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu anunciou na segunda-feira (24) que eleições antecipadas serão realizadas em abril de 2019, fazendo com que o líder israelense encare os eleitores no momento em que enfrenta críticas crescentes sobre suas políticas de segurança e é investigado por suborno.

Se o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu vencer a eleição do ano que vem, ele se tornará o primeiro-ministro de Israel que permaneceu por mais tempo no cargo – superando até mesmo o fundador do país, David Ben-Gurion. 

Pesquisas recentes sugerem que Netanyahu está no caminho para isso, apesar de seu envolvimento em escândalos de corrupção que ainda podem mandá-lo para a prisão. 

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Estas controvérsias o perseguem desde seu primeiro período no poder há mais de duas décadas. Mas ao mesmo tempo em que escândalos não são raros na política israelense – o ex-primeiro-ministro Ehud Olmert cumpriu pena de prisão por acusações de corrupção – a capacidade de Netanyahu de resistir a elas é única. 

Analistas sugerem que os eleitores de direita veem os êxitos econômicos e de política externa de Netanyahu, juntamente com uma linha dura na maioria das questões relacionadas aos palestinos, como razões para ignorar seus problemas legais. 

“Digamos que um prefeito administre bem uma cidade”, disse um pesquisador israelense não nomeado à agência de notícias israelense Jewish Telegraphic Agency. “Mesmo se condenado por corrupção, eles sentem que a cidade avançou no seu governo e não sentem que sua corrupção os tenha atingido pessoalmente”. 

Trajetória 

Netanyahu chegou ao poder pela primeira vez em 1996, quando se tornou o mais jovem primeiro-ministro de Israel. Muitos atribuíram seu sucesso inesperado na eleição daquele ano à sua campanha produzida no estilo americano, bem como a atentados suicidas que abalaram Israel pouco antes da votação e energizaram a ala direita do país. 

Em 1997, Netanyahu enfrentava acusações de corrupção relacionadas a tráfico de influência, após a breve nomeação de um procurador-geral que muitos diziam não ser qualificado para o cargo. Netanyahu e sua esposa, Sara, mais tarde enfrentaram acusações de que haviam recebido presentes do Estado e tentado fraudar o governo. 

O procurador-geral Elyakim Rubinstein determinou que não havia provas suficientes para condenar Netanyahu por alegações de suborno, roubo e obstrução da justiça, mas que as evidências disponíveis sugeria “um grau de problemas”. 

Netanyahu foi derrotado na eleição de 1999, mas retornou à política nos anos 2000 e tornou-se novamente primeiro ministro em 2009. Apenas dois anos depois, ele foi acusado de cobrar a mais do Estado por despesas de viagem durante seu período como ministro das Finanças e líder da oposição. O escândalo ficou conhecido como “Bibi's Tours”. 

Muitos dos escândalos envolveram não apenas Netanyahu, mas também sua família. Sara Netanyahu foi acusada de pedir refeições extravagantes de fornecedores externos para a residência oficial da família e de apreciar champanhe rosa e outros luxos; ela já está sendo julgada por acusações de fraude. O filho do casal, Yair, foi secretamente gravado durante uma visita a um clube de strip-tease, se gabando de um acordo secreto de US$ 20 bilhões com um magnata, entre outras coisas. 

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Desde 2016, a polícia tem recomendado a instauração de processos contra Benjamin Netanyahu em três investigações: o Caso 1000, que envolve presentes ilegais à família de Netanyahu, como champanhe e charutos cubanos; o Caso 2000, que envolve alegações de que Netanyahu discutiu a restrição da circulação de um jornal como um favor ao concorrente do jornal; e o Caso 4000, que tratou das alegações de arranjar uma cobertura favorável da mídia para um acordo com uma empresa de telecomunicações. 

Há também uma investigação separada, o Caso 3000, que se baseia em alegados subornos em aquisições militares, mas a polícia não recomendou uma acusação contra o próprio Netanyahu neste caso. 

Quaisquer decisões sobre as acusações serão feitas pelo procurador-geral de Israel, Avichai Mandelblit. Em um comunicado divulgado na segunda-feira (24), o Ministério da Justiça de Israel disse que continuará suas investigações como planejado, embora o processo deva levar meses. 

Isso significa que se Netanyahu vencer a eleição, ele poderá estabelecer outro recorde ao se tornar o primeiro primeiro-ministro israelense a enfrentar um julgamento enquanto ocupa o cargo. A sua função não lhe oferece imunidade de julgamento, mas não há exigência legal para que ele renuncie enquanto enfrenta julgamento – e poucos esperam que ele renuncie voluntariamente. 

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Eleições e preocupações 

Embora a coalizão de direita de Netanyahu tenha estado à beira do colapso desde que seu ministro da Defesa se demitiu no mês passado, foi uma disputa sobre a legislação para recrutamento de judeus ultraortodoxos para as forças armadas que acabou por derrubar o governo.

A maioria dos analistas políticos prevê que Netanyahu será reeleito. Não há adversários significativos em seu partido Likud ou em sua coalizão, e as principais figuras da oposição são consideradas fracas demais para derrubá-lo. A questão principal é se, após a eleição, ele será forçado a formar uma coalizão mais centrista para reunir uma maioria no parlamento. 

As eleições serão realizadas em meio a uma preocupação crescente com a ameaça ao longo da fronteira norte de Israel, representada pelo Irã e seu aliado Hezbollah, especialmente após a retirada planejada das tropas norte-americanas da Síria, que ajudaram a conter a influência iraniana. 

Mesmo com as autoridades israelenses apontando este perigo crescente, Netanyahu tem sido duramente criticado nos últimos meses por suas decisões sobre outros desafios de segurança, especialmente o conflito com o Hamas, o grupo militante islâmico que governa a Faixa de Gaza. Netanyahu foi amplamente criticado, inclusive pelo ex-ministro da Defesa, Avigdor Liberman, por ter conseguido uma trégua temporária com o grupo em novembro, sem uma solução de longo prazo para conter foguetes e outros ataques de Gaza. O primeiro-ministro também foi criticado por um aumento nos ataques violentos contra israelenses na Cisjordânia. 

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Ao mesmo tempo, a mídia israelense cobriu intensamente a série de investigações de corrupção envolvendo Netanyahu, com foco nas alegações de que aceitava favores e presentes de diversos benfeitores e executivos de negócios endinheirados. 

O partido de Netanyahu disse em um comunicado que “responsabilidades nacionais e orçamentárias” levaram os líderes dos partidos da coalizão a “dissolver o Knesset [o parlamento de Israel] e realizar novas eleições no início de abril”. 

A decisão, anunciada na segunda-feira, de desmembrar o governo parecia estar diretamente ligada a um anúncio de Yair Lapid, chefe do partido de oposição Yesh Atid e principal oponente de Netanyahu, de que sua facção não apoiaria a legislação destinada a recrutar estudantes yeshivas ultra-ortodoxos para o exército. 

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Todos os judeus israelenses são obrigados a servir nas forças armadas aos 18 anos, mas aqueles que estudam a Torá em escolas religiosas reconhecidas, ou yeshivas, tradicionalmente recebem uma dispensa. No entanto, a escassez de mão-de-obra nos últimos anos e a crescente demanda por igualdade forçaram o governo a reavaliar o assunto e elaborar nova legislação que dispensaria apenas os estudantes religiosos avançados – uma medida que tem causado resistência entre os ultraortodoxos. 

A elaboração de uma lei que satisfaça todos os membros da coalizão de Netanyahu acabou sendo uma fonte de tensão no ano passado, e ameaçou desmembrar o governo em várias ocasiões. 

Do outro lado, Lapid, que pressionou por uma nova legislação, disse que a lei não foi longe o suficiente. Ele sugeriu que Netanyahu tivesse “se rendido aos ultraortodoxos”. 

Liberman, que a coalizão de Netanyahu esperava que apoiasse a lei apesar de sua renúncia no mês passado, disse que a lei em seu formato atual foi “esvaziada de conteúdo” depois que acordos foram feitos entre o Likud e os partidos ultraortodoxos. 

Após o anúncio de uma eleição em abril, Liberman disse que era hora de formar um novo governo. 

“Estamos dizendo há um mês que se trata de um governo de sobrevivência e não de um governo que está funcionando e, portanto, para o povo de Israel é muito importante que um governo novo e estável seja estabelecido”, disse ele a jornalistas. Ele também disse que se uniria a qualquer futura coalizão somente se as questões que cercam o projeto de lei fossem resolvidas. 

Reuven Hazan, professor de ciência política na Universidade Hebraica em Jerusalém, disse que, embora Netanyahu pareça estar em uma posição ruim, sua candidatura a um quarto mandato como líder israelense praticamente não teria adversários, tanto de seu partido quanto de fora. 

“Dizer que ele está [entrando na eleição] mais fraco não significa que ele sairá mais fraco”, disse Hazan. “Ele é incrível na campanha. O seu ponto forte é fazer campanha”. 

O principal desafio que Netanyahu enfrenta agora é como ele formará a próxima coalizão, especialmente se Mandelblit decidir acusar formalmente o primeiro-ministro. 

Em um comunicado após o anúncio de segunda-feira, o Ministério da Justiça disse que as investigações envolvendo o primeiro-ministro continuariam conforme o planejado. 

“Netanyahu deve ter percebido que essa é uma ameaça séria, e a última coisa que ele precisa, no meio de uma campanha eleitoral, é que o procurador-geral o processe”, disse Hazan. “Ele quer se antecipar a isso, vencer, e então ele pode dizer: ‘Antes de decidir me processar, tome nota de que o povo de Israel me reelegeu pela quarta vez com mais assentos’.

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