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Irã e Estados Unidos deram início neste sábado (19), em Roma, à segunda rodada de negociações sobre o programa nuclear iraniano. O encontro ocorre uma semana após a primeira reunião entre os dois países, realizada em Omã, na Península Arábica.
As negociações ocorrem de forma indireta entre o ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araqchi, e o enviado especial dos Estados Unidos para o Oriente Médio, Steve Witkoff. O diálogo é mediado por diplomatas de Omã e acontece em uma representação diplomática omanense localizada em Roma.
"A República Islâmica do Irã sempre demonstrou, com boa fé e senso de responsabilidade, seu comprometimento com a diplomacia como a via civilizada de resolver problemas, com total respeito aos mais altos interesses da nação iraniana", disse antes da reunião na rede social X o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores iraniano, Ismail Baghaei, que acompanha Araqchi.
Antes de se encontrar com Witkoff, Araqchi reuniu-se com o ministro das Relações Exteriores da Itália, Antonio Tajani, a quem agradeceu pelo papel desempenhado na segunda rodada de negociações.
Teerã e Washington descreveram como 'construtiva' a primeira reunião realizada há uma semana em Mascate, capital de Omã, apesar de ainda existirem divergências sobre o alcance das negociações.
Acordo nuclear: as divergências entre Irã e Estados Unidos
O Irã deseja negociar apenas a limitação de sua capacidade nuclear, excluindo das discussões seu programa de mísseis e o apoio a grupos regionais, como os houthis, no Iêmen, e o Hezbollah, no Líbano. Já os Estados Unidos querem incluir nas negociações tanto o desmantelamento do programa nuclear iraniano quanto a questão dos mísseis e do apoio do Irã a seus aliados na região.
"Exigências irrealistas por parte dos Estados Unidos apenas reduzem as chances de se alcançar um acordo", declarou ontem o principal diplomata do Irã, durante uma coletiva de imprensa conjunta com o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, em Moscou.
Araqchi também criticou os Estados Unidos por enviarem mensagens contraditórias sobre as negociações nucleares, após Witkoff mencionar publicamente, pela primeira vez, o desmantelamento do programa nuclear iraniano. Enquanto isso, o presidente dos EUA, Donald Trump, segue ameaçando o Irã caso não haja um acordo — como fez na última quinta-feira, ao afirmar que não descarta um eventual plano israelense para destruir as instalações nucleares do país.
Desde que retornou à Casa Branca, o republicano Donald Trump retomou sua política de 'pressão máxima' contra o Irã, impondo ao menos seis novas rodadas de sanções destinadas a dificultar a venda de petróleo iraniano e a estrangular economicamente o regime.
Durante seu primeiro mandato, Trump retirou unilateralmente os Estados Unidos do acordo nuclear de 2015 — conhecido como Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA, na sigla em inglês) — firmado entre o Irã e seis potências mundiais (Estados Unidos, Reino Unido, França, Alemanha, Rússia e China). O pacto previa a limitação do programa nuclear iraniano, incluindo o enriquecimento de urânio, em troca do alívio gradual das sanções econômicas.
A saída dos EUA do acordo, em 2018, foi amplamente criticada por aliados europeus e resultou em uma escalada de tensões na região. Desde então, o Irã vem violando progressivamente os limites impostos pelo JCPOA, enriquecendo urânio em níveis mais altos e aumentando seus estoques, o que reacendeu temores sobre a possibilidade de desenvolvimento de armas nucleares.
Reações da Comunidade Internacional
A comunidade internacional acompanha com apreensão os desdobramentos. A Rússia ofereceu-se para mediar as tratativas, defendendo que as conversas se concentrem exclusivamente na questão nuclear. A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), por meio de seu diretor Rafael Grossi, afirmou que as negociações atravessam um momento “muito crucial”, enfatizando a importância de um acordo que possa ser monitorado e verificado.
Israel, por sua vez, mantém uma postura de pressão, não descartando ações militares contra alvos iranianos. A Arábia Saudita, embora rival regional do Irã, demonstrou apoio ao processo diplomático, esperando que ele leve a uma maior contenção das ambições nucleares de Teerã.



