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Pós-guerra

Iraquianos mudam de nome para fugir da violência

Alguns fogem do país. Outros compram armas. Mas os iraquianos que fazem fila em um cartório de registro afirmam que a melhor proteção contra a violência sectária é um novo nome."Mudei meu nome para Abdullah porque esse é um nome neutro. Eu poderia ser sunita ou xiita. Minha vida é mais preciosa do que meu nome", afirmou Omar Sami, um universitário sunita.

No momento em que o país aproxima-se de uma guerra civil, os iraquianos têm cada vez mais medo de que sua filiação religiosa lhes custe a vida.

Então os nomes, muitos dos quais podem revelar claramente que vertente religiosa alguém integra, tornaram-se uma questão de vida ou morte.

Os atentados contra mesquitas, os esquadrões da morte e os sequestros obrigaram algumas pessoas a procurar alterar, oficialmente, sua identidade, uma decisão dolorosa em um país consumido pelas paixões sectárias.

Xiitas chamados Ali tornaram-se Omar e sunitas chamados Osman apresentam-se como Hussein, tudo na esperança de sobreviver em bairros mistos e densamente povoados, nos quais a violência sectária deixa vítimas nas ruas todas as semanas.

Em Bagdá, onde as duas comunidades vivem lado a lado e as pessoas são abordadas com frequência em postos de controle ou por homens armados nas ruas, alguns moradores optaram por adotar nomes neutros e mais seguros, como Ahmed ou Mohammad, usados tanto por xiitas quanto por sunitas.

Ayman Al Azzawi, um taxista sunita que estava na fila do registro, disse que levar seus passageiros através de áreas xiitas e sunitas era como cruzar terrenos minados. Apagar sua identidade era a única opção que tinha.

"Estou aqui para tentar mudar meu sobrenome ou até mesmo omiti-lo totalmente de minha carteira de identidade", afirmou. "Eu moro em Bagdá Al Jadeeda, onde muitos foram mortos por serem sunitas ou xiitas."

Os sobrenomes dos iraquianos são tribais. Qualquer um que deseje um novo sobrenome precisa conseguir a permissão de uma nova tribo e então dirigir-se ao cartório de registros, uma pequena sala cheia de moscas.

Sem se arriscar

Muitos estão mudando seus dois nomes. Alguns preferem a missão menos complicada de mudar apenas seu nome de batismo. E muitos simplesmente mentem a respeito de seu nome quando acreditam estar em perigo.

"Das pessoas que vêm aqui, 40 por cento mudam de nome por motivos sectários", disse o chefe do cartório, que não quis ter sua identidade revelada.

Os iraquianos afirmam que a mudança de nome era impossível durante o regime do ditador Saddam Hussein, pois despertava imediatamente a suspeita das poderosas agências de inteligência.

Nos dias de hoje, tudo está mais fácil. O processo de registro para um novo nome, que inclui o envio de comunicados para a agência responsável pela emissão de passaportes e para o departamento de trânsito, demora cerca de um mês.

"É muito difícil de mudar, mas eu tenho uma família para criar. Eu vou omitir o sobrenome de minha carteira de identidade no caso de eu não poder mudá-lo", disse o xiita Hassan Al Mosawi.

A preocupação dos iraquianos com a possibilidade de serem mortos devido a sua filiação religiosa aumentou depois de fevereiro, quando um importante santuário xiita foi atacado, levando o país à beira de um conflito sectário aberto.

Algumas roupas e anéis também podem identificar a seita, mas muitas pessoas vêm evitando carregar tais símbolos.

Pessoas como Abu Ali Al Maliki estão especialmente vulneráveis. O xiita de 52 anos de idade vive no bairro mais perigoso de Bagdá, Dora, uma área predominantemente sunita dominada por militantes muçulmanos e simpatizantes de Saddam.

Moradores dizem que xiitas vestidos com uniformes da polícia também vasculham a área de tempos em tempos.

"Recebi o conselho de mudar o nome de meus filhos de Ali, Hassan e Fatima para nomes sunitas. Muitos xiitas e sunitas são mortos a sangue frio devido a suas crenças religiosas," afirmou.

"Quero viver em paz e não desejo que minhas crianças morram apenas por causa de seus nomes."

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