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Entrada da sede do jornal La Prensa, em Managua, Nicarágua, em 23 de agosto de 2022.
Entrada da sede do jornal La Prensa, em Managua, Nicarágua, em 23 de agosto de 2022.| Foto: EFE/ Jorge Torres

O jornal La Prensa, o mais antigo da Nicarágua, emitiu na quarta-feira (24) uma resposta pública ao governo do presidente Daniel Ortega, um dia depois do Estado nicaraguense formalizar a desapropriação de sua sede.

"Mais uma vez eles querem nos enterrar e, como já aconteceu em outras ocasiões, os enterrados serão eles", afirmou a junta diretiva do jornal, fundado em 1926, em comunicado público.

O governo, por meio da Procuradoria-Geral da República, entregou ontem ao Instituto Tecnológico Nacional (Inatec) a escritura do prédio onde funcionava o La Prensa, que estava ocupado pela polícia há um ano.

As autoridades pretendem construir nesse complexo, avaliado pelo La Prensa em cerca de 10 milhões de dólares (mais de 51 milhões de reais), o Centro Cultural e Politécnico "José Coronel Urtecho, O Passado Não Voltará".

No documento, intitulado "O passado são eles", o jornal destacou que desde março de 1926, quando foi fundado, "tem sido consistente com seu compromisso de cultivar e promover valores tão essenciais para os nicaraguenses, como verdade, justiça, defesa das liberdades públicas e democracia".

O La Prensa ressaltou também que, em seus 96 anos de história, "enfrentou três ditaduras que viram 'o jornal nicaraguense' como um obstáculo".

"Em seus 96 anos de vida sofreu fechamentos, prisões de diretores e jornalistas, o assassinato de seu diretor Pedro Joaquín Chamorro Cardenal em 10 de janeiro de 1978, bombardeios e incêndios de suas instalações, cerco de turbas fanáticas, censura, bloqueio alfandegário dos insumos que possibilitam sua impressão e, por fim, a ocupação e roubo de seus bens imóveis, suas instalações e equipamentos de trabalho", resumiu.

Atualmente, três de seus diretores estão presos - os irmãos Cristiana e Pedro Joaquín Chamorro Barrios, e Juan Lorenzo Holmann Chamorro -, seu prédio desapropriado e toda a redação no exílio, segundo lembrou o comunicado.

"Nenhuma ditadura mostrou tanta crueldade contra os valores que o ‘La Prensa’ representa como a ditadura de Daniel Ortega e Rosario Murillo", lamentou.

Na véspera, a vice-presidente da Nicarágua, Rosario Murillo, acusou o La Prensa, jornal no qual trabalhou na década de 1970, de ser um "covil de conspiração de crimes contra a humanidade".

Constituição proíbe o confisco

O jornal advertiu ainda que "o regime de Ortega ocupou militarmente as instalações de La Prensa" e começou a utilizá-las contra a proibição expressa da Constituição da Nicarágua, que em seu artigo 44 "garante o direito à propriedade privada de bens móveis e imóveis e dos instrumentos e meios de produção”.

"Este artigo proíbe o confisco de bens e estabelece que os funcionários que violarem esta disposição responderão sempre com seus bens pelos danos infligidos", alertou.

O jornal, que agora só é publicado online, anunciou que vai "continuar a fazer jornalismo inspirado nos valores que definiram 96 anos de história" e que vai buscar a justiça.

“Vamos buscar a justiça nos lugares e nos momentos possíveis, para recuperar o que nos pertence por direito e exigir punição contra aqueles que, abusando de seu poder, violaram nossos direitos e as leis do país”, ressaltou o jornal mais emblemático da Nicarágua.

As instalações do La Prensa, localizadas em uma zona industrial no norte de Manágua, foram ocupadas pela Polícia Nacional em 13 de agosto de 2021, quando as autoridades alegaram que o estabelecimento teria sido usado para o cometimento dos crimes de fraude alfandegária e lavagem de dinheiro.

O gerente-geral, Juan Lorenzo Holmann Chamorro, sobrinho da ex-presidente Violeta Barrios de Chamorro (1990-1997) - que derrotou Ortega nas eleições de 1990 -, foi condenado em 31 de março a nove anos de prisão pelo crime de lavagem de dinheiro.

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