A maioria dos jornais e boletins noticiosos italianos fechou por um dia na sexta-feira, quando os jornalistas fizeram greve contra os planos do governo de restringir reportagens baseadas em materiais obtidos de grampos telefônicos feitos pela polícia.
A questão vem mobilizando a oposição ao primeiro-ministro Silvio Berlusconi no momento em que ele enfrenta um racha em sua coalizão de centro-direita e uma luta para fazer aprovar um pacote de austeridade de 25 bilhões de euros que visa reforçar as finanças públicas desgastadas da Itália.
O governo diz que a lei dos grampos é necessária para proteger a privacidade de indivíduos contra investigações arbitrárias, mas críticos alegam que ela vai prejudicar a luta contra o crime organizado e dificultar o trabalho da imprensa de reportar casos de corrupção.
Previsto para ser votado pelo Parlamento em 29 de julho, o projeto de lei pretende reduzir as condições em que magistrados podem ordenar grampos e proibir jornais de usar transcrições dos grampos enquanto as investigações preliminares não forem concluídas, o que pode levar anos.
O principal sindicato de jornalistas italianos, FNSI, disse que a legislação vai "limitar gravemente o direito dos cidadãos de tomar conhecimento do andamento de inquéritos judiciais, impondo graves limites à livre circulação de informações."
Entre os poucos jornais que estavam à venda nas bancas hoje estavam o Il Giornale, pertencente ao irmão de Berlusconi, e o Libero, um jornal pró-Berlusconi segundo o qual "os verdadeiros obstáculos à justiça são os grampos descontrolados."
Os jornais italianos regularmente publicam transcrições de grampos policiais antes de serem apresentados como provas em tribunais, tendo exposto vários casos de corrupção em altos escalões com esses materiais.
A questão dos grampos provocou protestos amplos e aprofundou o desentendimento aberto entre Berlusconi e seu aliado Gianfranco Fini, líder da Câmara dos Deputados e, com Berlusconi, co-fundador do governista partido Povo da Liberdade.
Os dois líderes de centro-direita trocam farpas regulares através da mídia. Os jornais vêm especulando quase diariamente que sua inimizade pode destruir a coalizão, forçando a indicação de um novo governo ou eleições antecipadas.Berlusconi, cuja popularidade caiu nove pontos, para 41 por cento, nas seis últimas semanas, segundo o jornal Corriere della Sera esta semana, disse que vai renunciar se o Parlamento rejeitar o projeto de lei.
Ele convocou votos de confiança no Senado para esta semana e na Câmara antes do final do mês.



