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A adolescente Maedeh Hojabri foi presa por publicar vídeos no Instagram em que dança ao ritmo de músicas ocidentais | Reprodução/Twitter
A adolescente Maedeh Hojabri foi presa por publicar vídeos no Instagram em que dança ao ritmo de músicas ocidentais| Foto: Reprodução/Twitter

Maedeh Hojabri é só mais um caso da discriminação contra as mulheres no Irã. A ginasta de 18 anos, é a mais recente pessoa a “confessar” um crime na televisão estatal do país asiático. O motivo: postar vídeos no Instagram que mostram ela dançando músicas ocidentais e iranianas em casa, para dezenas de milhares de seguidores, sem usar o hijab, uma espécie de véu ou lenço usado por muitas muçulmanas em público e que cobre a cabeça e parte do tronco.

“Não quis incitar ninguém, não quis encorajar ninguém”, disse ela, enquanto era acusada pela apresentadora do programa. 

Em resposta à prisão de Hojabri, mulheres acessaram mídias sociais para postar vídeos dançando, usando a versão iraniana da hashtag #dancing_isn't_a_crime (dançar não é crime). As mulheres no Irã são proibidas de dançar na frente dos homens, exceto se estes forem familiares próximos.

A prisão de Maedeh foi criticada, inclusive, por religiosos. “Por séculos, as pessoas tem se descoberto e dançado e a religião não foi afetada”, disse o clérigo iraniano Mohammad-Reza Zaeri em sua página no Instagram. “O que desintegra a religião e a fé não é a dança de uma adolescente.”

Nossas convicções: A valorização da mulher

Não é a primeira vez que isto acontece. Em 2014, seis jovens iranianas foram presas por produzir um vídeo baseado na música “Happy”, de Pharrel Williams. Rapidamente, o vídeo tornou-se viral, mas provocou a consternação das autoridades iranianas. 

Após a prisão delas, a TV estatal iraniana mostrou-as admitindo que tinham participado na produção, apesar de insistirem que foram coagidas a atuar no vídeo. Como no caso Hojabri, a televisão iraniana não mostrou o rosto delas confessando o crime. A sentença – um ano de prisão e 91 chibatadas – foi suspensa.

Com um crescente número de protestos tomando conta do Irã, em meio a problemas econômicos, os religiosos conservadores tem adotado uma abordagem mais repressiva nos últimos meses. Apesar de as autoridades, em muitos casos, fecharem os olhos em relação às rígidas leis sobre as roupas das mulheres ou música ocidental, o país asiático pune violações a essas regras com o objetivo de dar exemplo.

20 anos de prisão por tirar o hijab em público

Uma mulher, Shaparak Shajarizadeh, foi presa em maio por, supostamente, remover, em público, o hijab. No mês passado, ela foi condenada a 20 anos de prisão, dos quais 18 foram suspensos. Segundo o Centro de Direitos Humanos no Irã, Shaparak teria fugido do país.

Ao jornal britânico Independent, Shajarizadeh disse que foi presa por opor-se ao “uso compulsório do hijab” e “agitar uma bandeira branca em uma rua.”

Em fevereiro, ela tinha sido presa. De acordo com a Anistia Internacional, Shajarizadeh foi informada que seria processada por incitar a prostituição. E foi mantida em uma solitária em uma prisão perto de Teerã, a capital do país. Sua advogada disse que Shajarizadeh foi torturada.

Duas estudantes foram condenadas

Pelo menos outras duas mulheres foram condenadas por terem participado dos protestos pacíficos contra o uso do hijab, no início do ano. Em 7 de março, a estudante de sociologia Narges Hosseini, 32, foi condenada a 24 meses de prisão, dos quais 21 foram suspensos por cinco anos. E, no mesmo mês, Maryam Shariatmari, uma estudante de ciência da computação de 32 anos, foi sentenciada a um ano de prisão.

Práticas comuns desde 1979

Todas as mulheres no Irã são obrigadas a cobrir o seu corpo e o seu cabelo quando estão em público. A regra foi imposta gradualmente após a Revolução Islâmica de 1979, pelo então líder supremo, o aiatolá Ruhollah Khomeini.

O país e a Arábia Saudita são os únicos que legalmente exigem que as mulheres cubram a cabeça em público. A prática, entretanto, é comum em países do Oriente Médio e do Sudeste Asiático.

Desde a revolução de 1979, todas as mulheres foram obrigadas por lei a usar um lenço de cabeça e roupas largas em público. Elas também estão sujeitas à discriminação no dia a dia, diz a Anistia Internacional, "incluindo o direito ao divórcio, o emprego, a herança igualitária o acesso a cargos políticos". Mulheres iranianas, por exemplo, são proibidas de cantar em público e precisam da aprovação do marido para obter um passaporte ou viajar para fora do país.

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Mulheres que descumprem essas medidas medida no Irã podem ser presas, multadas, açoitadas e presas por cometer haram, uma espécie de pecado.

O Irã é um país em que há grande desigualdade entre homens e mulheres. Segundo o Índice de Desigualdade de Gênero, ele ocupa a 118ª posição no ranking do ranking do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (PNUD), que tem 180 países. 

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