O presidente afegão, Hamid Karzai, alertou as forças lideradas pela Otan na terça-feira de que correm o risco de serem vistas como uma força de ocupação ao invés de um aliado após uma série de baixas civis, e disse que adotará ações se as mortes continuarem.
Os ataques a lares afegãos em busca de insurgentes "não tiveram autorização" e a paciência do povo afegão com a tática se esgotou, disse Karzai, sublinhando o desafio de conquistar o apoio popular para uma guerra cada vez mais violenta.
"Vemos a Otan do ponto de vista de um aliado...se não interromperem os ataques aéreos aos lares afegãos, sua presença no Afeganistão será considerada a de uma força de ocupação e contra a vontade do povo afegão", declarou ele a repórteres.
O discurso inflamado também ressaltou o desejo de Karzai de forjar uma imagem de defensor do Afeganistão e se distanciar das tropas ocidentais que passaram quase uma década combatendo o Taliban em um momento no qual o ressentimento contra a presença estrangeira cresce.
A chegada de Karzai ao poder no Afeganistão após a queda do Taliban se deveu em grande parte ao apoio ocidental, algo que seus críticos não esqueceram.
A Força Internacional de Auxílio em Segurança (ISAF, na sigla em inglês), conduzida pela Otan, disse que o general David Petraeus, comandante das forças estrangeira no país, entendeu que uma "força de libertação" poderia ser vista com o tempo como uma força de ocupação por causa de incidentes como as baixas civis.
"Estamos de acordo com o presidente Karzai sobre a importância de examinar constantemente nossas ações à luz dessa realidade", disse em comunicado o contra-almirante Vic Beck, diretor de assuntos públicos da ISAF.
Karzai censurou os ataques aéreos da Otan que acidentalmente mataram pelo menos nove pessoas -- a maioria crianças pequenas -- na província de Helmand, no sul, no domingo. Os ataques foram ordenados após uma patrulha ser atingida por disparos.
As vítimas civis causadas por tropas estrangeiras têm sido uma fonte constante de fricção entre Karzai e seus apoiadores ocidentais. Karzai alertou que a tática é uma violação da soberania afegã.
"Eles devem parar de bombardear lares afegãos... se não, o governo será forçado a adotar ações unilaterais", disse o mandatário, recusando-se a detalhar o que seu governo fará se as manobras não forem interrompidas.
Cifras da ONU mostram que pelo menos três quartos das baixas civis são causadas por insurgentes.
Questionado sobre as críticas de Karzai, o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, reiterou que os EUA lamentam as vítimas civis e disse que seu país manterá seus esforços para reduzi-las em coordenação com a Otan e as autoridades afegãs.



