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Em encontro com o presidente da Coreia do Norte nesta quarta-feira (19), o ditador da Coreia do Norte, Kim Jong-un, mencionou que estaria disposto a desmantelar permanentemente a principal instalação nuclear militar do país, mas somente se os Estados Unidos fizerem concessões primeiro.

Os líderes das duas Coreias se reuniram em Pyongyang na tentativa de impulsionar o processo de paz e de promover o diálogo com os Estados Unidos. Em pé lado a lado, após o segundo dia de conversas, eles declararam que deram um grande passo em direção a uma "era de paz e prosperidade" na península coreana e assinaram um acordo após duas rodadas de negociação.

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Os principais compromissos assumidos pela Coreia do Norte, segundo a Bloomberg, são o fechamento da unidade de teste de mísseis de Tongchang-ri – a qual ele já havia prometido encerrar – “na presença de especialistas de países relacionados”; o possível fechamento da planta nuclear de Yongbyon, a maior do país, mas somente se os Estados Unidos tomar medidas correspondentes baseadas no acordo que firmou com Kim em junho; e o encaminhamento de uma solicitação conjunta ao Comitê Olímpico Internacional para que os dois países sediem os Jogos Olímpicos de 2032. Kim também prometeu visitar a capital Coreia do Sul, o que o tornaria o primeiro líder norte-coreano em exercício a visitar Seul.

"Nós concordamos em fazer da Península Coreana uma terra de paz livre de armas nucleares e ameaça nuclear", disse o ditador do regime mais opressivo do planeta. “O caminho para o nosso futuro nem sempre será tranquilo e podemos enfrentar desafios e provações que não podemos antecipar. Mas não temos medo de ventos porque nossa força aumentará à medida que superarmos cada provação com base na força de nossa nação”.

Os dois países, divididos desde a Guerra da Coreia (1950-1953), começaram, em 27 de abril, formalmente, um processo histórico de aproximação, com a abertura da primeira cúpula entre as duas nações em 11 anos.

Segundo a KCNA, a agência oficial de notícias norte-coreana, os dois líderes apreciaram muito os desenvolvimentos positivos nas relações intercoreanas e mantiveram uma conversa franca sobre assuntos importantes de interesse mútuo. 

Perspectivas

Mas não houve o suficiente em termos de promessas novas e concretas para satisfazer muitos especialistas. Na própria administração de Trump, altos funcionários querem que a Coreia do Norte comece declarando seus centros nucleares e de mísseis, em vez de fazer concessões unilaterais e fragmentadas. Especialistas também acreditam que a Coreia do Norte continua construindo armas nucleares. 

"O mundo precisa lembrar que a Coreia do Norte tem outras instalações nucleares e de mísseis, e que essas concessões não necessariamente limitam ou terminam seus programas nucleares ou de mísseis", disse Melissa Hanham, pesquisadora sênior do Instituto Middlebury de Estudos Internacionais em Monterey. 

Hanham também lembrou que a Coreia do Norte fez ofertas semelhantes durante as rodadas anteriores de negociações, mas os passos que acabou tomando – demolir uma torre de resfriamento em Yongbyon em 2008, por exemplo – foram facilmente revertidos.

Gi-Wook Shin, diretor do Centro de Pesquisa Shorenstein Ásia-Pacífico em Stanford, considerou o resultado "bastante decepcionante" em termos de desnuclearização, já que não houve sinal da disposição de Pyongyang em fornecer uma contabilidade completa de suas instalações nucleares e de mísseis. 

Mas outros tiveram uma visão mais positiva. 

John Delury, professor da Universidade Yonsei de Seul, argumenta que Kim e Moon conseguiram manter as negociações avançando em um processo que sempre será gradual.  

Andrew Lankov, professor da Universidade Kookmin, em Seul, acredita que levará tempo para entender o significado do que Kim está oferecendo, especialmente em relação às instalações de Yongbyon, lar do único reator nuclear do país e fundamental para o enriquecimento de plutônio – embora se acredite que existam outros locais produzindo urânio altamente enriquecido. 

“Se Yongbyon estiver realmente congelada, isso não significará o fim de seu programa nuclear, nem significará o fim de sua produção de armas nucleares, mas será um declínio significativo em sua capacidade de produzir mais material nuclear e armas nucleares", afirma Lankov.

EUA

Especialistas disseram que ainda não está claro se Kim fez concessões que tornariam uma nova cúpula uma proposta atraente para o governo americano, mas o presidente Donald Trump reagiu positivamente, dizendo que a notícia era "muito emocionante". 

Estados Unidos e a Coreia do Norte chegaram a um impasse sobre quem deveria dar o próximo passo nas negociações. Washington quer que Pyongyang dê um passo significativo no sentido de desmantelar seu programa de armas nucleares. A Coreia do Norte, no entanto, está pressionando para que os Estados Unidos declarem formalmente o fim da Guerra da Coreia e afirma que Trump fez uma promessa nesse sentido em Cingapura.

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Outros acordos

Presidente sul-coreano Moon Jae-in e o ditador norte-coreano Kim Jong Un mostram documento assinado após a cúpula na Paekhwawon State Guesthouse em Pyongyang em 19 de setembro de 2018-AFP

Moon e Kim também acertaram várias medidas para aliviar as tensões na fronteira mais militarizada do mundo, incluindo o estabelecimento de uma zona-tampão perto da linha de frente, suspendendo os exercícios de artilharia e manobras de campo nesta área, e outra no Mar Amarelo, suspendendo o disparo de armas e exercícios marítimos. Eles também concordaram com a criação de uma zona de exclusão aérea em áreas de fronteira para evitar confrontos acidentais em aviões, e prometeram realizar mais encontros entre famílias que estão separadas entre Sul e Norte.

Moon novamente ofereceu uma cooperação econômica entre os países, prometendo reabrir um complexo industrial em Kaesong, na Coreia do Norte, e um centro de turismo no Monte Kumgang, além de estabelecer outras zonas econômicas e turísticas especiais no Norte “conforme as condições sejam estabelecidas”. Moon e Kim também se comprometeram a realizar uma cerimônia de inauguração, ainda neste ano, de ferrovias e estradas que conectam as duas Coreias ao longo das costas leste e oeste da península;

Entretanto, nenhuma dessas medidas econômicas será possível – a menos que o Conselho de Segurança das Nações Unidas suspenda as sanções contra a Coreia do Norte.

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