Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Oriente Médio

Líder da maioria xiita no Iraque pede a formação de outro governo no país

Ali al-Sistani, responsável por levar milhares de fiéis a se voluntariar no exército iraquiano, aumenta pressão sobre premiê Maliki

Imagem de satélite mostra a fumaça na refinaria de Baiji, onde militantes brigam com soldados pelo controle da fábrica | USGS/Reuters
Imagem de satélite mostra a fumaça na refinaria de Baiji, onde militantes brigam com soldados pelo controle da fábrica (Foto: USGS/Reuters)

O líder espiritual da maioria xiita do Iraque, o aiatolá Ali al-Sistani, pediu ontem um novo e "efetivo" governo para o país, elevando a pressão sobre o primeiro-ministro Nouri al-Maliki, em meio à ofensiva de militantes sunitas.

As declarações de Sistani durante as orações de ontem continham críticas veladas a Maliki, no cargo desde 2006 e considerado por muitos o responsável pela crise nacional que envolve o grupo sunita Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL), que era próximo da Al-Qaeda.

Embora a coalizão de Maliki tenha conquistado a maior parte dos assentos no Parlamento na eleição iraquiana realizada em 30 de abril, ele agora enfrenta oponentes, estimulados pelas críticas feitas pelo presidente dos EUA, Barack Obama, na quinta-feira. E com o Iraque pedindo que os americanos realizem ataques aéreos para conter o avanço dos militantes, especialmente no momento em que eles parecem no caminho para controlar a maior refinaria do país, Maliki está cada vez mais vulnerável.

"É necessário que os blocos políticos que venceram a eleição comecem um diálogo que forme um governo efetivo, que tenha amplo apoio nacional, evite erros do passado e abra novos horizontes na direção de um futuro melhor para todos os iraquianos", disse Sistani em mensagem entregue por seu representante, Ahmed al-Safi, na cidade sagrada de Kerbala.

Opinião

Doutrina americana justificaria mais uma intervenção no Iraque

Vladmir Pires Ferreira, doutorando em Ciências Jurídico-Internacionais e Europeias pela Universidade de Lisboa.

Sob a justificativa de fazer cessar o programa químico, biológico e nuclear que o Iraque supostamente desenvolvia com o intuito de facilitar a realização de novos ataques terroristas ao seu território, os EUA davam início, em março de 2003, a uma intervenção militar que, realizada sem autorização do Conselho de Segurança da ONU, daria fim ao governo de Saddam Hussein.

Para além de destruir quase toda a infraestrutura física daquele país, a ação americana caracterizou-se pelo completo desmantelamento das instituições locais, especialmente das forças armadas e policiais, que mantinham e sustentavam a coesão da sociedade e do Estado iraquiano. Se, por um lado, a derrubada do governo iraquiano rendeu excelentes contratos para grandes grupos corporativos ocidentais, por outro, foi aberto um vácuo de poder que as forças militares dos EUA, ainda que insatisfatoriamente, às expensas do contribuinte americano, tiveram que ocupar.

Onze anos de desgaste político, militar e financeiro – para não falar das 4.489 vidas americanas perdidas – investidos na reestruturação do Estado iraquiano encontram-se, agora, ameaçados pela ascensão da organização jihadista Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL), que, após a recente conquista da cidade de Mossul, passou a ter seu patrimônio avaliado em dois bilhões de dólares, entre ativos financeiros, reservas petrolíferas, armas, veículos e pelo menos um helicóptero americano Black Hawk.

Tal fato seria suficiente para que os americanos retornassem ao Iraque e participassem ativamente no combate ao EIIL – especialmente por que, por uma questão de coerência àquela mesma doutrina que justificou a intervenção de 2003, os EUA devem considerar o grupo como um fator de risco à sua segurança nacional. Os métodos bárbaros que caracterizam a atuação do EIIL tanto em combate quanto na administração de "seus" territórios também justificariam uma nova intervenção militar que, possivelmente, contaria com a chancela – porém não o envolvimento – dos demais membros permanentes do Conselho de Segurança.

Mas, acima de tudo, as forças americanas devem retornar ao Iraque para garantir uma ordem que, ainda que incompleta, é preferível ao caos que ali se instalou e pelo qual, direta ou indiretamente, são responsáveis. Talvez mais uma década de ocupação seja suficiente para viabilizar a "democracia" iraquiana. Talvez não. Se for este o caso, então, tal como ocorrido no Vietnã, os americanos deverão ali permanecer até que o último helicóptero decole, em fuga, do perímetro de segurança estabelecido em Bagdá.

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.